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Na quinta-feira passada, André Felipe de Paula, 18 anos, estudante de Tecnologia e Informática na UFPR, chegou cedo ao prédio do Tribuna Regional Eleitoral, no Prado Velho. Ele foi convocado para ser mesário nas próximas eleições – o que o obriga a um treinamento. Fosse em outros tempos, a tarefa seria menos árdua. "Estou desiludido com a política, principalmente por ter visto evangélicos envolvidos nas denúncias", diz o universitário.

André é um dos 32 jovens que a reportagem abordou nos últimos dias. Para todos, a curiosidade era sempre a mesma: saber se os quatro meses de trevas em Brasília – marcados por uma crise que se revela em cascatas – os teria afastado da política. Afastado ainda mais, diga-se de passagem. O jovem dos anos 90 e 2000 carrega por tabela a pecha de individualista e pouco dado à prática partidária. Os estímulos recebidos em mais de cem dias de revelações dignas de uma ópera, deve-se concordar, não ajudaram muito a mudar o diagnóstico.

"Os políticos estão sendo expostos, durante todo esse tempo, de uma forma muito negativa. Só o lado ruim aparece", lamenta o advogado Antônio Anibelli, ligado ao PMDB Jovem, e desde a adolescência envolvido com política estudantil. O tempo de estrada, para ele, é o suficiente para afirmar que a crise não vai representar uma pá de cal no engajamento juvenil. "O jovem é por natureza idealista. Busca soluções. Quer algo melhor", pondera Anibelli, que prefere não esquecer passagens, como a dos dois mil militantes que compareceram à última convenção jovem do PMDB, há dois anos. "O que aconteceu agora foi um mal necessário. Vamos ficar melhores", professa.

A favor de sua tese – e contra a maior parte das declarações dos entrevistados para essa reportagem – estão os setores jovens de partidos como o PFL, PSDB e o próprio PT, alvo da crise. Segundo as lideranças, aumentou o número de adesões em todo o estado, contradizendo a aposta de que os políticos entraram mais em baixa ainda diante da fatia jovem e adolescente. "Chegou a hora de tomar atitude. Se não for agora, quando vai ser? Temos a deixa para abandonar a fama de geração alienada", diz Felipe Daher, 21 anos, membro da ala jovem do PSDB e candidato a vereador nas últimas eleições. Nos vários grupos abordados – em shoppings ou em escolas – sempre aparece uma minoria animada a se filiar em um partido e disposta a tentar vida política. Em contrapartida, a rejeição é notável, confirmando o estado de ânimo da juventude levantado em pesquisa de Ana Luísa Fayed Sallas, de 1998 a 2000, numa parceria da UFPR com a Unesco. Há uma decepção profunda com a política, constata o levantamento, a exemplo do manifestado por André e outros três colegas que serão mesários em breve.

Um deles é Rafael Bett, 22, estudante de Turismo, autor de uma frase de impacto. "Acompanhei tudo pelos jornais. Sabe como me senti? Excluído da democracia. Não iria me sujar ingressando na vida política." O outro é André Carlos Eduardo de Menezes, 19 anos, estudante de Técnica em Plástico, na Escola Tupi, do Guabirotuba. "Isso é que dá votar errado...", resume. E ainda Terezinha Anastácio Moson, 28, assistente administrativa, para quem ligar a televisão e descobrir mais e mais se tornou um tormento. "Virou uma crise imprevisível", resume. Com a palavra, os jovens, personagens anônimos dessa história.

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