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Brasília - O presidente Lula cumpria apenas o sexto dia de mandato, em janeiro de 2003, quando reuniu todos os 26 funcionários do setor de correspondência do Palácio do Planalto para uma reunião. A mensagem era clara: o setor acabara de ganhar luz própria na administração federal. "Vocês são o presidente para a população lá fora", anunciava o chefe.

A preocupação fazia sentido. No último semestre do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a média de cartas e e-mails enviados à Presidência da República era de 1,2 mil por mês. Somente nos primeiros 30 dias de governo, Lula recebeu 13.715 correspondências.

"O presidente é um fenômeno de cartas", conta o diretor de Documentação Histórica do Planalto, Cláudio Soares. Embora evite números comparativos com FHC, ele diz que a média mensal de Lula permanece sempre acima dos 6 mil, contra 2,8 mil do antecessor. Entre janeiro de 2003 e dezembro de 2008, foram 485.051 mensagens – 290.604 cartas em papel e 194.447 e-mails. Todas as informações foram compiladas em um programa de computador, de acordo com inúmeras categorias de conteúdo. "É o nosso ibope espontâneo", explica Soares, que considera o cruzamento desses dados mais forte do que as pesquisas convencionais.

A tese defendida por ele é que quando alguém se dispõe a interagir, ao contrário de quando é forçado a dar uma resposta, oferece uma opinião muito mais real. "E o brasileiro que procura o presidente é um opinante compulsivo", destaca.

A ajuda das cartas faz de Lula um mago dos discursos. Quando viaja para o interior do Amazonas, por exemplo, ele pode conseguir de antemão as reivindicações dos homens entre 20 e 30 anos que moram naquela região. Por isso as falas encaixam-se tão bem na linguagem local, refletindo exatamente o que quer a população.

Motivo não falta

Mas por que tanta gente escreve para o presidente? Das 77.640 correspondências recebidas no ano passado, 36% continham pedidos – a maioria de empregos (veja matéria na próxima página). O segundo tema mais tratado foram sugestões (24%) e o terceiro, críticas (20%).

Na sequência, os assuntos preferidos dividem-se em manifestações de apoio, cumprimentos, denúncias, encaminhamentos, agradecimentos e convites. Sim, entre outras coisas, Lula recebe dezenas de convites por mês para participar de casamentos por todo o país. E as ofertas encaixam-se entre as prioridades de resposta. "É educado confirmar ou não a presença com antecedência. Questões de saúde também furam a fila", diz Soares. (AG)

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