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Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, saiu do DEM e anunciou a criação do Partido Social Democrata (PSD): abrigo para quem procura mais espaço político | Alf Ribeiro / AE
Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, saiu do DEM e anunciou a criação do Partido Social Democrata (PSD): abrigo para quem procura mais espaço político| Foto: Alf Ribeiro / AE

PSD paranaense deve sair em abril e sigla busca nomes de peso no estado

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM), deve passar por Curitiba no início do próximo mês para formalizar a criação do PSD no Paraná. Kassab já está alinhavando acordos no estado com esse intuito. Na última semana, ele convidou o deputado estadual Ney Leprevost (PP) para fundar a legenda no Paraná. O deputado prometeu uma resposta em dez dias.

"Antes quero conversar com as lideranças políticas do estado e também com os meus eleitores, para saber como eles avaliaram essa mudança", disse Leprevost, que não esconde certa insatisfação com seu atual partido. "Se eu disser que estou feliz com a atual direção do PP, estaria mentindo. Não quero expor ninguém do partido, mas há uma insatisfação com os espaços que têm sido dados para mim dentro do PP."

Outro insatisfeito sondado por Kassab foi o ex-deputado Gustavo Fruet (PSDB). O tucano vive uma briga interna no seu partido para disputar a eleição para a prefeitura de Curitiba no ano que vem. Caso não vença a queda de braço com o prefeito e candidato à reeleição Luciano Ducci (PSB), o novo partido seria um caminho para Fruet. Por enquanto, o tucano evita falar em sair do PSDB.

De dentro do DEM paranaense, o interesse de Kassab seria pelo deputado federal Eduardo Sciarra. O parlamentar afirma que não chegou a ser formalmente convidado pelo prefeito de São Paulo, mas que deixou claro que não pretende sair da legenda. "Antes que, eventualmente, pudesse ser convidado, já manifestei a ele [Kassab] o interesse de permanecer no DEM", afirma Sciarra, que se diz satisfeito com a legenda.

Defesa

Embora ainda não tenha dito sim ao PSD, Leprevost já sai em defesa do partido frente às críticas de que falta ideologia à nova legenda. "A ideia é que seja um partido de centro, que defenda o que está na Constituição Federal. Eu acredito que está superado no país isso de rotular as pessoas ou os partidos como de direita ou esquerda", comenta.

Sciarra também defende o PSD e rebate quem afirma que o partido seria oportunista. "O PSD não é um partido de aluguel, é um partido que é criado num momento oportuno", afirma o deputado, que acredita que a legenda é uma saída "interessante" para quem está insatisfeito com sua legenda. "Será uma chance de prosperar num novo partido." (CO)

Legenda quer imagem de JK

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem procurado colar a imagem do seu novo partido a do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Essa busca começa pela escolha do nome da nova legenda. PSD era o partido pelo qual Kubitschek se elegeu presidente em 1955. A sigla foi extinta após o golpe militar. O próprio Kassab faz questão de afirmar que a escolha foi uma forma de homenagear o ex-presidente, que entrou para a história como um líder desenvolvimentista.

Outra medida que evidencia o intuito do prefeito de São Paulo de relacionar a imagem do partido que está criando a de Kubitschek foi o registro do domínio www.jk.org.br. A intenção seria batizar o instituto que será ligado ao PSD de JK, iniciais do ex-presidente. A medida, porém, não agradou a família Kubitschek. Diante do mal-estar, Kassab teria afirmado homenagear outro político, mas não disse quem. (CO)

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O meio político está agitado com a criação do Partido Social Democrata (PSD), anunciada na última segunda-feira pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM). A nova legenda é vista como uma oportunidade para os insatisfeitos trocarem de partido em busca de mais espaço político, e de uma possível candidatura nas eleições majoritárias de 2012, sem maiores prejuízos. Isso porque ingressar numa sigla recém-fundada é a única possibilidade para quem ocupa um cargo no Legislativo deixar seu partido e não perder o mandato.

Entre os que já aderiram à nova legenda está o vice-governador de São Paulo, Afif Domingos; e o ex-governador do estado Cláudio Lembo. Todos saíram do DEM com o discurso de fazer uma oposição diferente, que ao que tudo indica será mais simpática ao governo federal. O próprio Kassab já demonstrou que tende a ser mais próximo a Dilma Rousseff.

Durante a semana passada, o prefeito afirmou se sentir livre "sem a camisa de força" do DEM e que agora poderá apoiar alguns atos de Dilma. O PSD também ensaiaria uma fusão com o PSB, partido da base governista. Embora Kassab negue essa possibilidade, é considerado quase certo que isso ocorra. Por essa faceta mais amigável do novo partido, o próprio Planalto estaria colaborando para fortalecer a legenda de Kassab.

A direção nacional do DEM acusa o governo de incentivar políticos a deixarem seus partidos e ingressarem na nova legenda. Entre os que estariam sofrendo o assédio governamental, estariam integrantes do próprio DEM. O prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), e o senador pelo Acre Sérgio Petecão (PMN) também já teriam sofrido o assedio do governo para ingressarem no PSD, acusam líderes do De­­mocratas.

Oportunidade

A tendência do PSD de ser próximo ao governo petista reforça os argumentos dos que rotulam a legenda de oportunista. "É mais um partido de aluguel. E dessa vez eles inovaram. Primeiro criaram o partido e depois é que vão fazer o estatuto", comenta o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

A criação da legenda, porém, não chega a surpreender Villa. Para ele, o caso do PSD só repete a situação partidária brasileira de "partidos sem ideologia alguma". "A questão político-ideológica se dissolveu e hoje o que temos é essa geleia geral", completa o historiador

O professor Roberto Romano, do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também faz críticas à situação dos partidos políticos no país. "Só com muita benevolência podemos chamar as siglas que temos hoje no Brasil de partidos. O que temos são alguns ensaios de partidos, com o PSDB e o PT", diz.

Reforma

Para mudar isso, só com uma reforma política profunda, sentenciam os dois. Para Villa, o importante seria tornar mais difícil a criação de um partido político. Atualmente, a maior dificuldade para criar uma nova legenda é recolher as assinaturas de apoio. Para o caso de PSD, serão necessárias 490,3 mil assinaturas, distribuídas em nove estados. "Seria muito saudável haver dificuldades para a criação de partidos, porque essa seria uma forma até de inibir casos de corrupção", comenta.

Ele também defende a adoção da cláusula de barreira. A regra criada em 1995 deveria ser adotada a partir da eleição de 2006, mas foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Pela cláusula de barreira, partidos que não tivessem alcançado 5% do total de votos para a Câmara dos Deputados teriam de dividir o equivalente a 1% do fundo partidário e ficariam com um tempo reduzido de rádio e tevê. Além disso, também perderiam estruturas de liderança no Congresso.

Villa critica o fato de a questão não ter voltado a ser discutida pelos parlamentares na atual tentativa de reforma política. Para Romano, outro ponto essencial para fortalecer os partidos e que parece estar esquecido nessa reforma é a democratização das legendas. "Deveria ser obrigatória de fato a democracia dentro dos partidos políticos. Fica-se discutindo questão como o voto distrital, distrital misto. Mas isso tudo é cortina de fumaça para escapar de questões como essas, que são mais comezinhas, mas essenciais."

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