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A saída do PMDB da base de apoio a Dilma Rousseff deixou o governo literalmente sem centro. Ao perder seu principal aliado, o Palácio do Planalto lançou-se em negociações para reforçar costuras com o que restou da sua base no Congresso.

Na esperança de barrar o processo de impeachment, usa as ferramentas de sempre: distribuição de cargos na máquina administrativa e afagos a caciques partidários, aparentemente sem se importar com o fato de a prática ter servido de nascedouro para os escândalos que hoje abalam o governo.

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Além desse ovo de serpente, a movimentação poderá resultar na criação da versão política do monstro de Frankenstein – a união de pedaços nada harmônicos com o único objetivo de conferir vida a um ser inerte.

As articulações envolvem 45% do orçamento ministerial – ou R$ 96 bilhões. “A negociação demonstra o que há de pior em nosso sistema político, de junção de partidos sem a mínima afinidade ideológica ou programática, apenas com o propósito de ter um número de votos parlamentares”, diz o cientista político Valdir Pucci, professor na Universidade de Brasília (UnB).

Os dois maiores alvos das investida governista, capitaneada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, são o Partido Progressista (PP) e o Partido da República (PR) – legendas que, sob o ponto de vista puramente ideológico, não poderiam estar mais distantes do PT.

Para o cientista político Sérgio Abranches, responsável por cunhar a expressão “presidencialismo de coalizão” para caracterizar o sistema político brasileiro, essas legendas são capazes de produzir vetos importantes e atrapalhar a vida do governo. “Há deformações ideológicas que vão aproximando quem na verdade nunca deveria se aproximar. Além disso, existem bancadas transpartidárias, com demandas específicas, como a ruralista, a evangélica e a da bala que criam uma pauta de demandas quase inflexível”, frisa.

Faxina ética

No início do primeiro mandato, Dilma Rousseff demitiu sete ministros por suspeita em casos de corrupção. PP e PR foram diretamente afetados por essa “faxina ética”, com o afastamento de Mario Negromonte (Cidades) e Alfredo Nascimento (Transportes). Hoje as duas legendas são cortejadas com mais espaço na administração para que sirvam de principal anteparo ao impeachment na Câmara.

As origens do Partido Progressista, que já ocupa o Ministério da Integração Nacional e é sondado para assumir a Saúde e a Caixa Econômica Federal, remontam à Arena, legenda de sustentação do regime militar entre 1965 e 1979. Entre os próceres atuais do PP, poucos são remanescentes daquela época – como o deputado Paulo Maluf. Nos últimos tempos, o partido se tornou notável por outra característica: com 32 parlamentares investigados na Operação Lava Jato, nove dos quais já denunciados, o PP é a legenda mais enredada no petrolão.

O Partido da República, por sua vez, que montou uma espécie de feudo na pasta dos Transportes há 13 anos, tem a segunda maior bancada evangélica e a terceira maior bancada da bala, de parlamentares ligados a indústria de armas ou forças policiais. Trata-se de frentes conservadoras que, em tese, estariam situadas no campo oposto às políticas defendidas por movimentos sociais e operários historicamente ligados ao PT. O PR é cotado para ampliar sua fatia do orçamento com Minas e Energia, hoje nas mãos do PMDB.

“A presidente vai mudar o ministério para fazer uma coalizão ainda mais fragmentada, de varejo, o que está praticamente fadado ao insucesso. São partidos com baixíssima capacidade de articulação política”, afirma Abranches.

“Há deformações ideológicas que vão aproximando quem na verdade nunca deveria se aproximar. Além disso, existem bancadas transpartidárias, com demandas específicas, que criam uma pauta de vetos e demandas quase inflexível”

Sérgio Abranches cientista político

O PSD também entra na conta. Fazendo jus à famosa declaração do fundador da legenda e atual ministro das Cidades, Gilberto Kassab – “Não é de direita, esquerda ou centro” –, o PSD continua na base governista, mas contabiliza em suas fileiras deputados inclinados a votar pela saída de Dilma. O número que o governo persegue, portanto, é volátil.

Na ponta do lápis

PP, PR e PSD contam juntos, hoje, 123 deputados federais, ou 71% dos votos necessários para derrubar o impeachment. Bastaria que se unissem às bancadas do próprio PT (58 deputados) e do fiel PCdoB (12), para que o mandato da presidente fosse salvo com certa folga na Câmara. O cenário muda de figura quando se sabe que, nos bastidores, o governo conta com a fidelidade de apenas metade das bancadas das três legendas. E aí entra em cena a tentativa de sedução, com cargos e emendas, de partidos menores como Pros, PTN e outros nanicos. “É uma base que dificilmente sustenta o governo, caso ela se mantenha”, diz Pucci, da UnB.

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