
O publicitário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão, estaria propenso a revelar detalhes do esquema. Já condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ele estaria relatando a pessoas próximas que pretende contar os segredos que guardava, segundo reportagem da revista Veja desta semana. De acordo com a matéria, Valério estaria repetindo a amigos: "Lula era o chefe". A possibilidade de ele efetivamente envolver Lula e outros petistas seria uma reação a um suposto pacto que não teria sido cumprido pela direção do PT.
A reportagem de Veja informa que, para proteger a cúpula do partido, Valério teria assumido a responsabilidade por crimes que não cometeu sozinho e mantido segredo de histórias que testemunhou. Em troca do silêncio, teria recebido garantias. Primeiro, de impunidade. Depois, quando o esquema foi exposto pela Procuradoria-Geral da República, de penas mais leves. Pelo andar do julgamento no STF, Valério teria se desiludido com as promessas feitas, e resolvido falar, diz a revista. "O PT me fez de escudo, me usou como um boy de luxo. Mas agora vai todo mundo para o ralo", disse Valério a um interlocutor, segundo relato de Veja. Somadas as punições pelos crimes de corrupção ativa e peculato, já decididas, mais evasão de divisas e formação de quadrilha, ainda por julgar, a sentença de Marcos Valério pode passar de 100 anos de prisão.
De acordo com a revista, além de Valério vir a público para apontar Lula como o chefe da quadrilha, ele poderia revelar que os valores denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) estariam subestimados. Segundo a acusação do MPF, o mensalão foi abastecido com R$ 55 milhões tomados por empréstimo por Marcos Valério junto aos bancos Rural e BMG, que se somaram a R$ 74 milhões desviados da Visanet, fundo abastecido com dinheiro público e controlado pelo Banco do Brasil. As novas revelações de Marcos Valério, entretanto, apontariam que o caixa real do mensalão era quase o triplo do descoberto pela polícia e denunciado pelo MPF: os valores teriam chegado a R$ 350 milhões.
"Da SMP&B vão achar só os R$ 55 milhões, mas o caixa era muito maior. O caixa do PT foi de R$ 350 milhões, com dinheiro de outras empresas que nada tinham a ver com a SMP&B nem com a DNA", teria dito o empresário, segundo a revista. O caixa paralelo, de acordo com os relatos a que Veja teve acesso, seria abastecido com dinheiro originário de operações similares aos empréstimos fictícios tomados por suas empresas para pagar políticos aliados do PT. O objetivo seria fazer doações diretas para obter facilidades no governo. O fiador destas operações, teria dito Valério, era Lula.
Segundo as acusações publicadas pela revista, Lula teria se empenhado pessoalmente na coleta de dinheiro. Muitos empresários se reuniriam com o presidente para combinar a contribuição. O controle dessa contabilidade seria feito pelo então tesoureiro do PT Delúbio Soares, que é réu no processo do mensalão e que começa a ser julgado nos próximos dias. O papel de Delúbio era, além de ajudar na administração da captação, definir o nome dos políticos que deveriam receber os pagamentos, com o aval do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "Dirceu era o braço direito do Lula, um braço que comandava", também teria dito Valério, segundo a revista.
Com sua proximidade com a cúpula petista, o publicitário teria tido acesso à contabilidade real do PT. A entrada e a saída de recursos teriam sido registradas em um livro guardado por Delúbio. Os valores envolvidos, caso sejam esses mesmos, seriam dez vezes maiores do que a arrecadação declarada da campanha de Lula nas eleições presidenciais de 2002.
O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, foi procurado para repercutir a denúncia da revista. Leonardo disse que não negaria nem confirmaria o teor das declarações publicadas pela revista Veja.



