Débito judicial
Delator do mensalão Jefferson também apela para doações
O delator do mensalão, o exdeputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), também apelou às doações para pagar a multa de R$ 720 mil imposta a ele pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Desde a semana passada, Jefferson mantém no alto na página do seu blog um texto em que fala dos seus esforços para pagar a multa. "Estou vendendo o escritório de advocacia que há anos mantenho no Rio de Janeiro", diz. Na sequência, o ex-parlamentar informa o número de uma conta disponível para depósitos e faz um aviso: "Lembro que, para garantir a transparência e lisura do processo, enviarei ao STF a lista com o valor, nome e o CPF dos que contribuírem. Por isso peço que os depósitos sejam identificados."
A solidariedade e o empenho de petistas e simpatizantes conseguiram arrecadar cerca de R$ 2,9 milhões para três condenados pagarem as multas fixadas no julgamento do mensalão. Com a ajuda de fora, o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares não precisaram tirar um centavo do bolso. O mesmo empenho dos militantes, porém, não se verificou na última eleição presidencial. Em 2010, a campanha da então candidata Dilma Rousseff (PT) recebeu apenas R$ 1,1 milhão em doações de pessoas físicas (incluindo candidatos pelo próprio partido a cargos no Legislativo). O valor arrecadado pelos condenados no mensalão é maior inclusive que a soma das contribuições aos quatro principais candidatos daquele pleito: Dilma, José Serra (PSDB), Marina Silva (então no PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSol). Juntos, eles arrecadaram R$ 1,3 milhão.
Confira o que representam as doações para os condenados do mensalão
Solidariedade
Líderes do PT discordam desse tipo de comparação. Eles alegam que o julgamento do mensalão foi "injusto" e que houve uma reação de solidariedade com os condenados."Não dá para misturar uma coisa com a outra. As pessoas contribuíram porque têm consciência de que houve um julgamento injusto. Outra coisa é a disputa política", diz o deputado federal Cândido Vaccarezza (PT-SP), relator da reforma política que atualmente tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
O presidente do PT no Paraná, o deputado estadual Enio Verri tem o mesmo entendimento. "Eu doei mil reais. Tivemos colegas de partido que doaram cinquenta reais, cem reais. Nós, do Partido dos Trabalhadores, temos uma história de militância e de respeito aos companheiros.Temos companheirismo. A doação da militância não surpreende."
Já para o senador Alvaro Dias (PSDB), vice-líder da oposição no Senado, a diferença entre as doações aos mensaleiros e aos candidatos está no fato de a fiscalização ser mais intensa durante a campanha eleitoral. "A vaquinha do PT é suspeita. Até a origem do site de doações é suspeita. Ele está hospedado no exterior para dificultar a investigação", diz Alvaro. O senador paranaense lembrou que até mesmo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou dúvidas em relação às doações para os condenados. Além disso, Mendes afirmou que a vaquinha desqualifica a punição judicial, já que o pagamento da multa seria parte da pena, intransferível a terceiros.
Polarização
Para o cientista político Ricardo Oliveira, professor da UFPR, a força das doações para os petistas vem exatamente do fato de haver uma polarização durante todo o julgamento do mensalão. "No processo do [ex-presidente Fernando] Collor, se não houve condenação, ao menos houve um entendimento político quase geral de que ele era culpado. Isso não ocorreu agora. Entre os petistas, a percepção é de que houve um julgamento injusto, com penas injustas. As doações seriam uma forma de corrigir isso", diz Oliveira.
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