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O filósofo norte-americano Michael Walzer ficou conhecido nos anos 70 ao publicar Esferas da Justiça. O livro o colocou como um dos "comunitaristas", grupo que critica o liberalismo vigente em países como os Estados Unidos. Os comunitaristas em geral reagem à ideia de que é necessário primeiramente garantir aquilo que é justo (direitos individuais, liberdades) para só depois debater ideias sobre o que é bom para a comunidade. Querem que os valores da comunidade sejam levados em conta na hora de definir que tipo de democracia existirá no local. Walzer concedeu uma entrevista por e- mail para a Gazeta do Povo:

O comunitarismo surgiu devido a um "desconforto" com teorias liberais que afirmam que a justiça tem prioridade sobre qualquer concepção de bem?

Eu nunca dei muita importância para a distinção justo/bom. Claramente, o liberalismo inclui ideias importantes sobre a boa vida e a boa sociedade – ideias que não são apenas sobre a autonomia individual, mas também sobre a associação voluntária e o pluralismo associativo. O "desconforto" que alguns de nós sentimos tem a ver com a falha que o liberalismo comumente apresenta de entender a profundidade dos compromissos associativos ou os modos pelos quais eles são passados adiante de uma geração para a outra. Eu tenho frequentemente pensado que os teóricos políticos liberais deveriam frequentar a escola com antropólogos culturais.

Alguns comunitaristas dizem que é impossível ter virtudes patrióticas em uma sociedade individualista. O senhor concorda com isso?

Em primeiro lugar, a maior parte das sociedades liberais tem um passado republicano, do qual se libertaram apenas parcialmente; os Estados Unidos talvez sejam o exemplo mais claro disso. Mas certamente os liberais, mesmo sem um passado republicano, podem reconhecer e se comprometer com um bem comum: nomeadamente a preservação da sociedade que protege sua autonomia e que dá espaço para a sua associação voluntária. E dadas as alternativas prováveis – sociedades que impõem uniformidade ideológica ou religiosa – esse pode ser um compromisso bastante ardente. O foco do comunitarismo e do compromisso em uma sociedade liberal provavelmente será pouco político. Pense em como a ideia do "Americanismo" está mais focada na constituição e na prática de políticas democráticas do que nas crenças religiosas ou nas memórias étnicas.

O senhor diz que o comunitarismo é uma espécie de freio interno do liberalismo. É possível ter uma sociedade mais "comunitária" dentro de uma teoria liberal?

Na verdade, há dois tipos de comunitarismo – um é radicalmente republicano (talvez derivado de Rousseau), focado no Estado; e o outro é pluralista, focado na vida associativa dentro do Estado. Eu me considero como um estatista liberal e um comunitarista na vida civil – para mim, o que é mais importante, um comunitarista judeu, embora eu possa também ser um comunitarista na cidade em que eu moro e no mundo acadêmico e na (muito pequena) comunidade de sociais-democratas americanos. Um bom Estado liberal torna possível um pluralismo de comunidades. E a vida interna dessas comunidades é um treino para a cidadania no Estado – e também um corretivo para o individualismo radical no Estado liberal.

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