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O alerta na placa em frente da fazenda às margens da rodovia Belém-–Brasília parece um aviso sério. "Proibido a permanência de crianças", diz ela. Quem desconfiaria de tamanho cuidado? Repórteres, talvez. A placa é, na verdade, um despiste para o que se pretende esconder: o trabalho infantil. Dois quilômetros adiante da porteira, Fábio e Antônio quase desaparecem em meio às dezenas de fornos da carvoaria de Ulianópolis, cidade do Pará quase na divisa com o Maranhão. Eles são os únicos no lugar naquela segunda-feira, 19 de setembro.

Fábio, que completaria 15 anos dali a cinco dias, estava prestes a fechar mais um forno de lenha. Ganha R$ 20 para cada forno pronto para a queima, recheado de madeira e rebocado com argila. Trabalho de uns três dias. A tarefa é árdua, mas ele supõe ser melhor do que nos tempos em que vivia da quebra de milho. O serviço pouco rendia e ao final do dia não conseguia encher mais do que 15 sacas, a R$ 1 cada. Fábio perdeu a 5.ª série na escola porque se desentendeu com a mãe e foi expulso de casa. Agora que voltou, pretende retomar os estudos.

O futuro de Fábio parece não seguir rumo diferente da sina do colega com quem dividia os fornos da carvoaria naquela tarde modorrenta de segunda-feira. Antônio Jânio Nascimento da Silva mal completou 18 anos e já passou um terço da vida trabalhando. Está desde os 12 na labuta em carvoarias. Parou de estudar na quarta séria porque tem de ajudar a mãe a sustentar a casa. O mesmo fizeram as três irmãs mais velhas, que trabalham na roça ou como domésticas.

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