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Vídeo | Reprodução/TV Globo
Vídeo| Foto: Reprodução/TV Globo

"Ô nego, por quê?", dizia chorando, debruçada sobre o caixão do marido na manhã desta segunda-feira (4), Fabiana Zacarias, de 26 anos, a viúva do segurança Wellington Policarpo Zacarias, morto em assalto ao Cinemark do Shopping Market Place, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada de domingo (3).

O velório e o enterro de Wellington aconteceram nesta manhã no Cemitério Campo Grande, na Zona Sul da capital. Ele foi enterrado por volta das 9h30, sob aplausos. A filha de quatro anos do casal, por quem o vigia chamou antes de morrer, também esteve presente, mas parecia não entender muito bem o que estava acontecendo.

A sala do velório ficou pequena para tantos parentes e amigos que foram se despedir do segurança. Pouco antes das 9h, um pastor amigo da família fez uma breve oração. Quatro coroas de flor enfeitavam a sala onde era velado o corpo do vigia. Na maior delas, estava escrito: "Saudade de seus familiares".

Marcelo Franco da Silva, acusado pelo crime, será indiciado por roubo seguido de morte, e Rita de Cássia, companheira dele, será indiciada por roubo, segundo informa a Secretaria de Segurança Pública (SSP). Eles serão transferidos, ainda nesta segunda, para o sistema prisional - ele, para o Centro de Detenção de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo; ela, para a Cadeia Pública Feminina de Santana, na Zona Norte da capital.

Lamento

"Ele está deixando uma filha (de quatro anos) e uma esposa desempregada. Infelizmente a vida é assim. Infelizmente", disse o irmão do vigia, William Policarpo.

O sargento Claudinei de Oliveira Vaz, que socorreu o segurança encontrado ainda com vida pelos policiais, relatou algumas das últimas palavras do vigia: "Ele disse: eu trabalho aqui, sou segurança. Me socorre. A minha filha, minha filha". Wellington foi levado à Santa Casa de Santo Amaro, na Zona Sul, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Crime planejado

Em nota oficial, divulgada no começo da noite, a SSP informa que no início da madrugada a Policia Militar prendeu Marcelo Franco da Silva, de 26 anos, e sua companheira Rita de Cássia Ramos, de 27, "após assalto a cabine do Cinemark do Shopping Market Place".

Segundo informa a nota da Secretaria, o gerente do cinema relatou que "um 'funcionário' chamou-o insistentemente pelo rádio informando que uma colega estava passando mal. Quando abriu a porta de sua sala, foi dominado pelo assaltante, que pegou seus objetos pessoais e, sob ameaça, questionou onde estava o dinheiro. Nesse momento, um segurança chegou para verificar o que estava ocorrendo e houve troca de tiros".

O segurança Wellington Policarpo Zacarias, de 24 anos, foi baleado e morreu. Ele chegou a ser socorrido ao Pronto Socorro da Santa Casa de Santo Amaro, mas não resistiu. A SSP informa que um outro funcionário do shopping também foi atingido, socorrido e liberado.

Ainda segundo a nota da Secretaria, "três funcionários foram trancados em uma sala, mas conseguiram informar a Polícia que o ladrão tinha seguido para o subsolo. Os PMs encontraram Marcelo tentando fugir com sua comparsa em um Corsa Wind azul. Ele saiu do veículo com a mão suja de sangue e não reagiu a ordem policial".

No veículo do acusado, a polícia encontrou duas agendas eletrônicas, dois aparelhos celulares, R$ 15.409 em um saco plástico e dois revólveres calibre 38 - um do vigilante que foi assassinado e o outro do criminoso. A arma usada no crime havia sido roubado em 1996, na cidade de Indaiatuba, segundo informa a Secretaria.

Mãos sujas de sangue

Após socorrer o vigia, os policiais tiveram que decidir que estratégia usariam para prender o criminoso. Sem pistas, os policiais não tinham como identificá-lo, mas acreditavam que ele continuava dentro do shopping. Decidiram cercar todas as saídas.

Quando viu Franco da Silva no estacionamento, o sargento Vaz desconfiou. "Ele estava nervoso, suando, dentro do carro. Fui até lá e o mandei descer. Quando ele pôs a mão na nuca, vi que estava suja de sangue. Falei: pode me confessar, que agora não tem mais como negar".

No carro, ao lado do suspeito, estava Rita. Ela disse à polícia que não sabia de nada e nem desconfiou da mão suja do companheiro. Segundo contou à polícia, ela pediu a Franco da Silva, que insistia em ir embora, para terminar de assistir o filme.

Após a confissão, o suspeito ainda teria aceitado voltar com os policiais até o local do crime, onde explicou como tudo havia acontecido.

Tiros no cinema

O sargento Vaz classificou o episódio de fato isolado. "Ele tentou a sorte pelo fato de conhecer o funcionamento do local. Foi um fato isolado. As pessoas podem ir ao cinema tranqüilas", afirma.

Coincidentemente, o sargento também trabalhou no caso do "atirador do shopping". Em 1999, o estudante de medicina Mateus da Costa Meira, armado com uma submetralhadora, abriu fogo contra a platéia de uma sala do cinema de um shopping, também na Zona Sul de São Paulo, matando três pessoas e deixando quatro feridas.

"Trabalhava no dia e tive que ficar dando apoio à ocorrência. Fazer coisas como verificar dados da ocorrência, ajudar a preservar o local para a perícia, fazer relatórios", lembra.

Para ele, a diferença principal dos dois casos é o perfil do assassino. "No caso atirador do shopping, foi tudo psicológico. Esse rapaz de hoje quis tentar a sorte. Naquele caso foi loucura, nesse, aventura", diz.

Há 16 anos na polícia, o sargento lamenta o episódio. "Não é fácil. Venho trabalhar motivado. Mas quando acontece isso, a gente se sente frágil porque não podemos proteger a todos. O que mais lamento é a perda de uma vida, de um trabalhador, de um pai de família, de uma maneira banal".

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