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Curitiba – José Dirceu nega a participação no mensalão, mas confessa que, se tivesse oportunidade, roubaria também. E dispara: "Nesse país ninguém importante vai preso". Enquanto isso, Marcos Valério insiste que a honestidade ainda vale a pena: "Foi bom que tudo isso veio à tona, porque quanto mais sujeira aparecer, melhor será para o país".

Já Renilda reitera que sempre ficaria do lado do marido, nem que precisasse mentir ou omitir alguma coisa. "É preciso pensar na família", defende. Roberto Jefferson, por sua vez, quer saber mesmo é de jogar futebol, navegar na internet e desfilar com seu carro prateado. Mas segue com a língua afiada: "Eu faria a mesma coisa. No meio da política é difícil achar uma pessoa honesta, e quem é honesto acaba saindo fora".

E, não se trata de um súbito ataque de verborragia dos principais personagens do escândalo do mensalão. O José Dirceu do primeiro parágrafo foi batizado José Roberto Dirceu, mora no Pinheirinho, em Curitiba, tem 51 anos e é caminhoneiro, mas no momento está desempregado. "É uma pouca vergonha, enquanto a gente está aqui na pior, eles estão se dando bem."

O curioso é que o José Dirceu de Curitiba diz ter conhecido o xará famoso. "Conheci esse homem, ia levar leite para ele quando ele esteve em Avaré (SP), nos anos 60. Ele me atendia, mas não tinha muito papo", revela. Quanto à coincidência de nomes com o ex-superministro da Casa Civil, hoje é alvo de piada: "Vivem me perguntando do dinheiro do mensalão".

O mesmo acontece com Marcos Valério Milani, 42 anos, promotor de eventos na capital. "Me perguntam se eu já juntei muito dinheiro, como eu consegui essa boca... essas coisas", conta. Mesmo classificando a avalanche de denúncias e evidências de corrupção como "vergonha", Valério não se diz decepcionado. "Temos que trabalhar e fazer a nossa parte", ensina. Perguntado sobre o que faria se estivesse no lugar do publicitário mineiro acusado de ser o operador do esquema de corrupção, Milani é taxativo: "Eu jamais estaria no lugar dele".

Renilda Adevânia Borges, 27 anos, professora do ensino fundamental e médio em São José dos Pinhais, não é a esposa de Marcos Valério, que se notabilizou pelo depoimento decidido e emocionado que prestou na última terça-feira à CPI dos Correios. As coincidências com Renilda Santiago se limitam ao primeiro nome. "É até engraçado, um nome tão incomum como esse e agora todo mundo fala nele. Tanto que hoje eu vejo os repórteres falando Renilda o tempo todo, e nem acho mais mais tão feio assim."

O depoimento da homônima na CPI dos Correios rendeu boas piadas também entre os alunos e colegas da Renilda professora: "Perguntam do meu marido, das maletas, ficam dizendo que eu estou escondendo o jogo", conta ela. "No dia do depoimento, até os meus alunos vieram me perguntar se eu não ia faltar para depor." Sobre a participação da xará na CPI, Renilda Borges diz acreditar no que ela disse. "Ela não devia saber de tudo, devia estar mais preocupada com a casa e os filhos. Mas eu também protegeria o meu marido."

Já o Roberto Jefferson da nossa história tem um "Oliveira" completando o nome, vai fazer 23 anos no próximo dia 22 e se formou em Administração de Empresas no interior de São Paulo. Também é o único que não foi localizado pela lista telefônica – tivemos acesso ao "cover" do presidente licenciado do PTB pelo Orkut, rede de relacionamentos na internet. O perfil dele aparecia ao lado de mais de 70 páginas dedicadas ao deputado que abriu a vala do mensalão.

Oliveira trabalha numa empresa imobiliária de Urânia, a 600 quilômetros de São Paulo, e diz que os amigos vivem lembrando que agora ele é famoso: "Dizem que eu estou sempre na televisão". Mesmo tendo dito à reportagem que é difícil encontrar uma pessoa honesta na política nacional, o jovem administrador – que diz ter votado em Lula na última eleição – afirma que não aceitaria o mensalão se tivesse um mandato no Congresso. "Alguém sempre fica sabendo", justifica. Mesmo assim, uma das comunidades em que ele se inscreveu no Orkut é emblemática. Chama-se "Eu quero meu mensalão".

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