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Dilma no Itaquerão: estádio de futebol gera comportamento irracional da multidão, diz especialista | Sebastião Moreira/EFE
Dilma no Itaquerão: estádio de futebol gera comportamento irracional da multidão, diz especialista| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Histórico

Antes de Dilma, vários presidentes brasileiros já haviam sido vaiados em público:

• Campos Sales (1898-1902) – O segundo presidente civil foi um dos primeiros a ser vaiado, após um impopular ajuste financeiro. Saiou sob vaias do Palácio do Catete ao final do mandato.

• Artur Bernardes (1922-1926) – Nem havia assumido o cargo e foi vaiado durante todo o trajeto da cerimônia de posse.

• Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) – Durante evento em São Paulo, foi vaiado durante 15 minutos, já que não era popular entre os paulistanos desde a Revolução Constitucionalista de 1932.

• Castelo Branco (1964-1967) – O primeiro dos presidentes da ditadura militar foi vaiado por 40 mil pessoas no Maracanã. Em seu funeral, em 1967, também houve vaias.

• João Figueiredo (1979-1985) – Enquanto visitava Santa Catarina, foi vaiado por estudantes. O presidente partiu para cima dos manifestantes, que foram presos após o ato.

• José Sarney (1985-1990) – Após dois anos de mandato, foi vaiado no centro do Rio de Janeiro pela insatisfação popular com o Plano Bresser, que tentava conter a inflação após o fracasso do plano Cruzado.

• Fernando Collor (1990-1992) – Pouco antes de sofrer impeachment, foi vaiado pelos cariocas enquanto visitava a mãe no hospital.

• Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) – O presidente tucano também sofreu com os gritos da população. Em três anos seguidos, recebeu vaias durante o desfile do Sete de Setembro.

• Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2010) – Assim como sua sucessora, o presidente também foi vaiado durante um evento esportivo. A abertura dos Jogos Panamericanos no Rio, em 2007, foi marcada pelos gritos contra o petista.

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Reações

Veja qual foi a reação de alguns dos principais personagens da política brasileira aos xingamentos e vaias a Dilma durante a abertura da Copa do Mundo:

"Os responsáveis por aqueles xingamentos contra uma mulher e uma presidente são moleques. Fiquei pensando (...) que não é dinheiro, nem escola, nem qualquer tipo de título que garante educação. A educação se aprende dentro de casa com o pai e com a mãe. Mesmo quando eu fazia oposição, nunca tive coragem de faltar com respeito a um presidente da República."

Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente.

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Fellipe Sampaio/SCO/STF

"Baixaria, um horror."

Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

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"Por mais compreensível que seja o sentimento dos brasileiros, acredito que a sua manifestação deve se dar no campo político sem ultrapassar os limites do respeito pessoal."

Aécio Neves (PSDB), senador e candidato à Presidência.

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"Talvez a forma [de hostilizar a presidente] não tenha sido a melhor de expressar esse mau humor, essa discordância. (...) Mas vale o ditado: na vida, a gente colhe o que a gente planta."

Eduardo Campos (PSB), pré-candidato à Presidência.

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"São desrespeitosos [os xingamentos]. [Mas] esse clima crispado começou com o próprio PT, que sempre teve mania de acusar o outro, de criticar duramente. O próprio presidente Lula usa palavras feias. Isso é mau, não é educativo."

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente.

As vaias e os xingamentos contra a presidente Dilma Rousseff (PT) durante a abertura da Copa do Mundo, na quinta-feira passada, despertaram diferentes reações no âmbito político e na população. Há quem classifique as manifestações como um simples reflexo do direito constitucional de se expressar – ainda que a forma tenha sido grosseira. Outros consideram a atitude dos torcedores inaceitável porque incita à violência. A despeito disso, o episódio está sendo superex­plorado pelos diferentes grupos partidários na tentativa de tirar proveito: ora colocando a presidente como vítima da intolerância, ora argumentando que ela apenas está colhendo o que plantou.

Foi dessa última maneira que Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência pelo PSB, se referiu ao ocorrido. Já o ex-presidente Lula classificou as vaias e xingamentos como um "ato de cretinice". O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, inicialmente apoiou os protestos dentro do estádio. Mas voltou atrás e disse que os limites do respeito pessoal não devem ser ultrapassados.

Corriqueiro

O historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Marco Antonio Villa, observa que vaias e xingamentos contra autoridades públicas são comuns no Brasil (veja exemplos no quadro ao lado). "Isso sempre ocorreu e, estando na vida pública, a pessoa tem que saber que pode receber aplausos, mas também protestos", diz ele. Ontem, Dilma inclusive foi aplaudida por um grupo de cerca de 200 turistas que visitavam a Praça dos Três Poderes, em Brasília, no exato momento em que ela recepcionava, na rampa do Palácio do Planalto, o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos.

Villa aponta também que o clima de protestos contra a Copa e até o local onde ocorreu a manifestação foram outros fatores que favoreceram os xingamentos direcionados à presidente. "Um estádio de futebol gera um comportamento irracional. Você vai do céu para o inferno sem mediação, como quando xinga um jogador e, um minuto depois, está elogiando ele. Os árbitros também são prova disso", diz.

Porém, há quem considere que, no caso da presidente, os xingamentos foram grosseiros e desrespeitosos, já que atingiram uma governante eleita democraticamente. "Existe na Constituição o direito à livre manifestação, mas qualquer direito fundamental possui limites", afirma o professor de Direito Constitucional na UniBrasil, Paulo Schier. Para ele, as manifestações extrapolaram os limites, pois incitaram o "ódio" e a "violência". "E esses discursos não são compatíveis com a democracia", avalia.

Para o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Antonio Flavio Testa, tanto o governo quanto a oposição estão "tirando proveito" político dos protestos contra a presidente na abertura do Mundial. Segundo ele, enquanto que os representantes do PT se "fazem de vítima" quando tratam do assunto, os outros pré-candidatos ao Palácio do Planalto aproveitam para travar um embate ideológico contra quem está no poder.

"Os partidos estão tentando fazer disso um cavalo de batalha", observa. Testa cita como exemplo disso a retomada – um pouco modificada – do slogan petista de "fazer uma campanha para a esperança vencer o ódio" (em 2002, a campanha do partido teve como tema "para a esperança vencer o medo"). "O eleitor tem que ficar atento, pois, assim como no futebol, isso também é um jogo. E um jogo de profissionais", diz.

Pré-campanha tem muita retórica e pouca proposta

Laura Beal Bordin, especial para a Gazeta do Povo

Faltando 20 dias para o início oficial da campanha eleitoral, os candidatos à Presidência seguem apostando mais no jogo retórico do que na discussão de propostas para o país. E, com frases de efeito fortes, conseguem destaque em vários jornais.

A campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) aproveitou o episódio dos xingamentos no Itaquerão para ressuscitar o velho slogan lulista de que "a esperança vencerá o medo", desta vez repaginado em "a esperança vencerá o ódio". Coube a Lula disseminar, no fim de semana, a nova versão do mote de campanha.

Já o candidato do PSDB, Aécio Neves, atacou o PT durante a convenção do partido, no sábado, afirmando que um "tsunami" vai varrer do governo federal quem não é digno de atender às demandas sociais. No domingo, o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, disse que a aliança de sustentação de Dilma é um grupo de "velhas raposas que já roubaram o que puderam do sonho brasileiro".

Análise

De acordo com o especialista em oratória política, professor Alcides Schotten, a falta de propostas e a troca de farpas entre os candidatos já eram esperadas neste momento de pré-campanha. Para ele, nenhum dos candidatos tem efetivamente dialogado com o eleitor, pois falam muito genericamente sobre os temas prioritários ao país. "Os candidatos estarão atentos para tocar em pontos que os brasileiros identificam como prioritários, tais como segurança e educação. Porém, demonstram carência de projetos e argumentos para a solução."

Schotten aposta que, a partir dos próximos dias, esse panorama deve mudar e a campanha não deve ser essencialmente baseada em ataques pessoais. Ele diz que Dilma deve deve ter uma campanha fundamentada nos números dos quatro anos de governo, e seus adversários tendem a mostrar propostas efetivas, pelo menos no início.

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