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O depoimento sobre Aécio Neves consta nos vídeos de delação premiada divulgados nesta terça-feira pelo STF. | Nacho Doce/Reuters
O depoimento sobre Aécio Neves consta nos vídeos de delação premiada divulgados nesta terça-feira pelo STF.| Foto: Nacho Doce/Reuters

O doleiro Alberto Youssef afirmou em um dos depoimentos de sua delação premiada que ouviu do ex-deputado José Janene e do presidente da empresa Bauruense, Airton Daré, que o senador Aécio Neves (PSDB) dividia uma diretoria de Furnas com o PP e que uma irmã dele fazia a arrecadação de recursos junto à empresa citada. Youssef disse não saber como se daria essa arrecadação por parte do PSDB. Os investigadores chegaram a apresentar uma foto de Andréa Neves, irmã do senador, mas Youssef disse nunca ter estado com ela.

O depoimento sobre Aécio Neves consta nos vídeos de delação premiada divulgados nesta terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As declarações foram prestadas no dia 12 de fevereiro deste ano, quando o grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República voltou a Curitiba (PR) para ouvir o doleiro em relação a pessoas com foro privilegiado. As citações ao senador tucano foram arquivadas pelo STF seguindo a proposta do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A alegação do procurador para o arquivamento da acusação é de que as citações foram indiretas, e que Youssef não forneceu elementos suficientes para aprofundar a investigação.

Aécio Neves, quando soube da decisão de Janot sobre o arquivamento, lembrou que o próprio Youssef, por intermédio de seu advogado, negou qualquer fato que o vinculasse ao senador mineiro. O ex-presidenciável disse à época:

“Recebo como uma homenagem o arquivamento”, afirmou, criticando o governo logo na sequência. “Foram infrutíferas as tentativas de setores do governo em envolver a oposição na investigação”, complementou Aécio.

Youssef contou que auxiliava Janene e algumas vezes transportou recursos para ele, originários de propinas pagas pela empresa Bauruense por contratos em Furnas. Isso teria ocorrido entre 1996 e 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso. Janene arrecadava entre US$ 100 mil e US$ 120 mil mensais, com pagamentos em espécie em dólares ou reais. Ele afirmou que ouviu o ex-deputado afirmar a correligionários do PP que a diretoria de Furnas era dividida com o PSDB, mais especificamente com Aécio.

“Ele conversando com outro colega de partido, então naturalmente saia essa questão que, na verdade, o PP não tinha a diretoria só, e sim dividia com o PSDB, no caso a cargo do então deputado Aécio Neves”, disse Youssef.

O doleiro afirmou que tanto Janene quanto Daré citaram em algumas ocasiões que cabia a uma irmã de Aécio fazer a arrecadação de recursos na Bauruense. Em relação ao empresário, o argumento era usado para justificar o motivo de não poder repassar mais recursos a Janene.

“Ele (Daré) estava discutindo valores com o seu José (Janene) e dizia: não posso pagar mais porque tem a parte do PSDB. Aí você acaba escutando”, afirmou o doleiro.

Perguntado pelos investigadores, o doleiro disse não saber qual seria a parcela do PSDB e não sabia identificar a irmã de Aécio, que seria responsável pelo recebimento. Foi mostrada uma foto de Andréa Neves e o doleiro disse não conhecê-la. Afirmou apenas acreditar que assim como Janene o PSDB recebia a sua parte em espécie.

Nas razões para pedir o arquivamento do procedimento envolvendo Aécio, o procurador-geral da República Rodrigo Janot afirma que as referências a ele são de “supostos” fatos ocorridos na empresa Furnas, em Minas Gerais. Para Janot, as referências de Youssef em relação ao tucano era com base no ter ouvido falar.

“É que as afirmativas de Alberto Youssef são muito vagas e, sobretudo, assentadas em circunstâncias de ter ouvido os supostos fatos por intermédio de terceiros (um deles, inclusive, já falecido: José Janene). Outro detalhe relevante: a referência de que existia uma suposta ‘divisão’ na diretoria de Furnas entre o PP e o PSDB — o que poderia ensejar a suposição de uma ilegítima repartição de valores entre as duas agremiações — não conta com nenhuma indicação, na presente investigação, de outro elemento que a corrobore”, diz o texto do procurador.

Ainda segundo Janot, diante do que há de concreto nos autos, até o presente, não há sustentação mínima para abrir uma investigação contra o senador. “É importante acentuar que tais conclusões prefaciais não inviabilizam que, caso surjam ulteriormente dados minimamente objetivos que justifiquem e permitam uma apuração em relação ao parlamentar, se retome o procedimento próprio para tal fim”, ressaltou.

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