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Sem meias palavras durante o depoimento à CPI, o doleiro Alberto Youssef voltou a relacionar o Planalto com o esquema de corrupção na Petrobras. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Sem meias palavras durante o depoimento à CPI, o doleiro Alberto Youssef voltou a relacionar o Planalto com o esquema de corrupção na Petrobras.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O doleiro Alberto Youssef voltou a afirmar, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, em Curitiba, nesta segunda-feira (11), que o Planalto sabia do esquema de corrupção na estatal. Questionado pelos deputados se confirmava um depoimento anterior no qual citou nomes como o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da presidente Dilma Rousseff (PT), ele confirmou.

Cerveró e outros quatro optam pelo silêncio

O ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, os empresários Mário Goes, Guilherme Esteves e Adir Assad, apontados como operadores do esquema de corrupção na estatal, além do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, se calaram nesta segunda-feira (11) em depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba.

Durante a sessão, o advogado de Baiano, David Teixeira, bateu boca com parlamentares, alegando que eles estariam “falando” pelo depoente. A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) chegou a pedir a prisão do advogado. Mais tarde, Teixeira interveio novamente quando o deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) perguntou se o réu tinha mãe. No final da sessão, Teixeira foi pedir desculpas ao deputado Onyx Lorenzoni (DEM), que não aceitou.

Terceiro a ser ouvido na sessão em Curitiba, Cerveró se limitou a dizer que estava em férias em Londres, em janeiro, quando soube da prisão e preferiu retornar ao Brasil para prestar esclarecimentos. Incomodado, o deputado Delegado Waldir (PSDB-GO) perguntou, rindo, se o ex-diretor da Petrobras era o Papai Noel. Cerveró respondeu que iria ficar calado.

Em todos os casos em que os depoentes permaneceram em silêncio, os parlamentares insistiram em fazer as perguntas. Quando da oitiva do empresário Mário Goes, o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB), propôs a liberação do réu, visivelmente com saúde debilitada, mas não teve o aval de alguns membros da comissão. “Ele não pode falar, mas tem muito a ouvir”, disse o deputado Izalci (PSDB). Goes respondeu apenas que tinha 74 anos e quatro filhos.

Vaccari

O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI da Petrobras, afirmou nesta segunda-feira (11) que vai comunicar à Justiça Federal sua incompatibilidade de testemunhar a favor do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. “Foi um erro o advogado do Vaccari me indicar como testemunha. Vou comunicar a Justiça essa incompatibilidade. A CPI investiga e não cabe a quem faz parte de uma comissão ser testemunha de um investigado”, declarou Sérgio. Vaccari é acusado de ser um dos operadores do esquema de corrupção na Petrobras. O desembargador Newton Trisotto, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou nesta segunda pedido de habeas corpus do ex-tesoureiro.

Ele negou, porém, que houvesse uma coordenação do Planalto no esquema. “Não digo que havia uma coordenação, mas eu acredito que eles tinham conhecimento, no meu entendimento, do que acontecia”, respondeu Youssef. Os parlamentares também questionaram se o doleiro achava que o esquema de corrupção teria servido ao interesse do governo. “Serviu ao interesse do partido, automaticamente aos partidos da base aliada”, disse.

Youssef afirmou ainda que recebeu dinheiro de uma empreiteira, em 2010, para “abafar” a CPI da Petrobras. “Em 2010, eu fui contatar a Queiroz Galvão e quando fui cobrar para que ela pudesse pagar seus débitos referentes aos contratos de diretorias de abastecimento da Petrobras, fui informado de que eles teriam repassado R$ 10 milhões por conta do abafo dessa CPI”, disse o doleiro.

A informação dada em sua delação premiada, de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), recebeu indiretamente dinheiro do esquema, também foi confirmada na CPI. “Não [repassei recursos] diretamente [para Cunha], mas a pedido de Julio Camargo [proprietário da empreiteira Toyo Setal, que também fez delação premiada] que entregasse dinheiro a mando de Fernando Soares [suposto operador do PMDB no esquema]”, disse Youssef.

Além de Youssef, que falou por cerca de quatro horas, outros seis presos da operação Lava Jato estavam na lista de depoentes da CPI em Curitiba. Foram ouvidos o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano; o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró; os operadores Maio Goes e Guilherme Esteves; o empresário Adir Assad; e a doleira Iara Galdino. Somente Youssef e Iara, porém, responderam aos questionamentos dos deputados.

Os depoimentos da CPI são de livre acesso e acontecem no auditório do prédio da Justiça Federal na capital. Os presos são escoltados por policiais federais até as dependências do Judiciário. As sessões foram marcadas com a anuência do juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, na 13.ª Vara Federal de Curitiba. Ele também autorizou o compartilhamento com os parlamentares de provas obtidas durante as investigações.

Para esta terça-feira (12), estão marcados os depoimentos da doleira Nelma Kodama, do operador René Luiz Pereira, dos ex-deputados Luiz Argôlo (SD-BA), André Vargas (sem partido-PR) e Pedro Corrêa (PP-PE) e do doleiro Carlos Habib Chater, dono do posto de gasolina em Brasília que deu nome à operação da Polícia Federal. “Temos expectativa que eles possam falar e trazer informações novas”, declarou Hugo Motta (PMDB-PB), presidente da CPI.

PF indicia Vargas, Argôlo e Corrêa por receber propina

A Polícia Federal (PF) concluiu nesta segunda-feira (11) sete inquéritos que investigam ex-deputados e indiciou André Vargas (sem partido-PR), Luiz Argôlo (SDD-BA), Pedro Corrêa (PP-PE) e sua filha Aline Corrêa (PP-SP). O doleiro Alberto Youssef e o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, que foi ministro do ex-presidente Fernando Collor, também foram indiciados.

Conforme a PF, os ex-deputados do PP recebiam uma espécie de mesada do doleiro porque o partido havia indicado Paulo Roberto Costa para a diretoria de Abastecimento da Petrobras. A propina correspondia a 1% do valor dos contratos fechados por essa diretoria, de acordo com Youssef.

No total, foram 30 indiciamentos. As suspeitas são de práticas de crimes como lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa, fraude à licitação e organização criminosa. Youssef foi indiciado cinco vezes.

O empresário Leonardo Meirelles, sócio do laboratório Labogen, foi indiciado por fraude à licitação junto com o ex-ministro Leoni Ramos e André Vargas. A PF considerou fraudulenta a parceria entre a Labogen com o Ministério da Saúde para produzir o princípio de um remédio que era importado – negócio que renderia R$ 31 milhões ao laboratório.

A mulher de André Vargas, Eidilaira Soares Gomes, o filho e a nora de Pedro Corrêa são outros indiciados pela PF – acusados de terem servido de laranja para os ex-deputados. Além deles, o publicitário Ricardo Hoffmann, que foi dirigente da agência Borghi Lowe em Brasília, também foi indiciado. A agência atende o Ministério da Saúde e a Caixa Econômica Federal. Segundo a PF, produtoras de comerciais contratadas pela agência repassaram pelo menos R$ 3,17 milhões para empresas controladas por Vargas.

O advogado Haroldo Nater, que defende Meirelles, disse que “a PF cometeu um grande equívoco” ao indiciar seu cliente. Os demais defensores não foram localizados.

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