Saúde e Bem-Estar

Lesley McCowan e Robin Cronin*, The Conversation

Grávidas reduzem o risco de morte fetal ao dormirem do jeito certo

Lesley McCowan e Robin Cronin*, The Conversation
12/04/2019 17:00
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A posição supina no fim da gravidez está associada à redução do fluxo sanguíneo para o útero, por isso o melhor é ficar de lado. Foto: Bigstock.

Um estudo internacional liderado pela Nova Zelândia publicado neste mês fornece a mais forte evidência, até então, de que as mulheres podem reduzir por mais do que a metade o risco de morte fetal ao dormir de ambos os lados durante os últimos três meses de gravidez.
Este mega estudo (conhecido como meta-análise de dados individuais de participantes) também confirmou que o risco de morte fetal associado a dormir de costas se aplica a todas as mulheres grávidas no último trimestre da gravidez.
Na Nova Zelândia, a natimortalidade é definida como a perda de um bebê após 20 semanas de gravidez. Estima-se que em todo o mundo 2,64 milhões de bebês morrem durante a gestação anualmente. Cerca de uma em cada 500 mulheres na Nova Zelândia experimentará a tragédia de um natimorto tardio e perderá o bebê durante ou após 28 semanas de gravidez.
Foram analisados todos os dados disponíveis ao redor do mundo a partir de cinco estudos anteriores, incluindo a pesquisa precedente, o 2011 Auckland Stillbirth Study (Estudo de 2011 sobre a Natimortalidade em Auckland, em tradução livre), que foi a primeira a identificar uma ligação entre a posição de dormir das mães e o risco de morte fetal.
Os kits são voltados principalmente para mulheres em idade fértil e para estudos epidemiológicos que pretendam determinar pessoas que já tenham sido expostas ao vírus. Foto: Bigstock.
Os kits são voltados principalmente para mulheres em idade fértil e para estudos epidemiológicos que pretendam determinar pessoas que já tenham sido expostas ao vírus. Foto: Bigstock.
A principal descoberta no mega estudo, que incluiu informações de 851 mães enlutadas e 2.257 mulheres com gravidez em curso, foi que dormir de costas (posição supina) a partir de 28 semana de gravidez aumentou o risco de morte do bebê em 2,6 vezes.

Este risco elevado ocorreu independentemente dos outros fatores de risco conhecidos para natimortalidade. No entanto, o risco é aditivo, o que significa que dormir de costas aumenta o risco de morte fetal de outros fatores como, por exemplo, um bebê que está com dificuldades de crescimento no útero.

Fatores de risco comuns existentes para morte fetal tardia não são facilmente contornáveis.  Eles incluem idade materna avançada (acima de 40 anos), obesidade, tabagismo continuado e um feto que está crescendo mal, especialmente se o crescimento insuficiente não for reconhecido antes do nascimento.
As mulheres também têm um risco maior durante a primeira gravidez, ou se já tiveram três ou mais bebês. As mulheres da etnia do Pacífico e do Sul da Ásia também têm um risco elevado de morte fetal tardia, em comparação com as mulheres europeias.

Se fatores de risco contornáveis puderem ser identificados, algumas dessas mortes de bebês poderão ser evitadas.  É importante ressaltar que o mega estudo mostrou que, se cada gestante fosse dormir deitada de lado após 28 semanas de gestação, aproximadamente 6% das mortes fetais tardias poderiam ser evitadas. Isso poderia salvar a vida de cerca de 153 mil bebês por ano em todo o mundo.

Fluxo de sangue reduzido

A relação entre a mãe ir dormir deitada de costas e a morte fetal é biologicamente plausível. A posição supina no fim da gravidez está associada à redução do fluxo sanguíneo para o útero. Sabendo disso, as mulheres em trabalho de parto ou que estão passando por uma cesariana são rotineiramente inclinadas para o lado para melhorar o fornecimento de sangue para o bebê.
Uma pesquisa recente realizada na Universidade de Auckland forneceu evidências sofisticadas sobre como a posição das mães influencia o fluxo sanguíneo. Os resultados obtidos usando ressonância magnética (MRI) demonstram o maior vaso no abdome da mãe, a veia cava inferior, sendo comprimido pelo útero grávido quando ela está deitada de costas. Isso reduz o fluxo através deste canal em 80%.
Embora a circulação da mãe responda aumentando o fluxo através de outras veias, isso não compensa suficientemente. A aorta da mãe, a principal artéria que transporta sangue rico em oxigênio de seu coração, também é parcialmente comprimida quando a mãe está deitada de costas. Isso diminui o fluxo sanguíneo para o útero, para a placenta e para o bebê.
Nós especulamos que, embora bebês em gestações saudáveis possam compensar o suprimento sanguíneo reduzido, bebês que não estão bem desenvolvidos ou vulneráveis por algum outro motivo podem não aguentar. Por exemplo, o mega estudo mostrou que o risco de morte fetal após 28 semanas de gestação aumenta cerca de 16 vezes se a mãe dorme deitada de costas e também está grávida de um bebê muito pequeno.

O que fazer

Pesquisas da Nova Zelândia mostraram que mulheres grávidas podem mudar sua posição de dormir. Em uma pesquisa recente realizada em mulheres grávidas do sul de Auckland, uma comunidade que tem uma alta taxa de natimortos, mais de 80% das mulheres entrevistadas afirmaram que poderiam mudar a posição de dormir com pouca dificuldade se fosse melhor para o seu bebê.

O conselho proveniente do estudo para as mulheres grávidas a partir de 28 semanas de gravidez é o de dormir de lado para reduzir o risco de morte do bebê e iniciar cada sono, incluindo os cochilos diurnos, de lado. Não importa qual lado. É comum acordar deitada de costas, mas recomendamos que, se isso acontecer, as mulheres simplesmente rolem para os lados.

Tradução de Giovani Formenton.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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