Saúde e Bem-Estar

Luciane Belin, especial para a Gazeta do Povo

Infarto é diferente de parada cardíaca. Veja como cada um deles acontece

Luciane Belin, especial para a Gazeta do Povo
09/08/2019 08:00
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O paciente em parada cardiorrespiratória fica inconsciente, não responde ao chamado, fica sem pulso e ele também não respira, fica pálida e muda de cor. Foto: Bigstock.

Você está andando na rua e uma pessoa cai com a mão sobre o peito.
A primeira intuição em uma situação como esta é a de que o indivíduo em questão esteja sofrendo um infarto, mas isso não significa que ela esteja tendo uma parada cardíaca.
Há, ao contrário do que sugere o conhecimento popular, diferenças importantes entre estes dois eventos, ou seja, não necessariamente alguém que sofreu um infarto poderá ver o coração parar de imediato.

Mas, independentemente do diagnóstico, é fundamental que o atendimento emergencial seja muito rápido, poisá que, caso o paciente não receba o tratamento adequado nos primeiros minutos, a parada cardiorrespiratória é o caminho mais provável.

“Existe uma grande possibilidade de um infarto levar o paciente a uma parada cardíaca nas primeiras duas horas de evolução”, diz o cardiologista do Hospital Cardiológico Costantini Everton Dombeck.
“A parada cardíaca pode acontecer na evolução natural do infarto. O paciente oclui a artéria coronária, o sangue não passa, todo o território muscular cardíaco que aquela artéria irriga deixa de receber sangue, o que leva essas células a até um processo de isquemia aguda e necrose, que é a morte da célula. Nesse processo, o coração pode entrar em processo de parada cardíaca”, detalha o especialista.
De acordo com a médica cardiologista Fernanda Sanches Aguera Grochocki, coordenadora da Equipe de Cardiologia do Hospital Marcelino Champagnat, existem diferentes circunstâncias que podem levar a um infarto.

“A mais comum é a aterosclerose, ou seja, quando ocorre um acúmulo de gordura em placas na parede das artérias e aí ocorre o entupimento das artérias, com a instabilização das placas de gordura”.

Outras causas incluem o espasmo das artérias coronárias, que pode ocorrer em virtude do uso de drogas como a cocaína, ou por uma situação desencadeada por um evento estressante, causando o que a comunidade médica chama de síndrome do coração partido ou síndrome de Takotsubo.

“Os sintomas mais comuns do infarto são a dor ou desconforto no peito. Normalmente essa dor é tipo pressão, aperto, peso ou queimação, e pode irradiar para o membro superior esquerdo, para as costas, para o pescoço e para a mandíbula. Além disso, pode vir acompanhado de náuseas e vômitos, de palidez e sudorese”, lista a cardiologista.

Por outro lado, a parada cardiorrespiratória pode acontecer em decorrência de um infarto, em um espaço pequeno de tempo entre ambos, mas há também outras causas não relacionadas a este.

“É um quadro em que ocorre uma parada total do fluxo sanguíneo circulante pelo corpo, porque o coração para de bater, então o sangue para de circular. Existem causas como as arritmias cardíacas, as doenças cardíacas congênitas, e causas não cardíacas, como a embolia pulmonar, um quadro de sepse grave ou um quadro de disfunção dos rins”.

Outro evento que costuma ser confundido com a parada cardíaca e que tem uma raiz similar é o acidente vascular cerebral isquêmico, o AVC.
Old man holding breast because of heart infarction. Painful senior man with pain on heart, heart attack. Abstract blurred background.
Old man holding breast because of heart infarction. Painful senior man with pain on heart, heart attack. Abstract blurred background.
“Há dois tipos de AVC: o AVC hemorrágico, que é quando ocorre a ruptura de um vaso intracraniano e ocorre sangramento na cabeça, e o isquêmico, que é mais parecido com o infarto”.
Neste último, de acordo com a cardiologista Fernanda, ocorre uma obstrução do fluxo sanguíneo dentro da artéria cerebral, que causa a morte do tecido cerebral irrigado por essa artéria.

“Os fatores de risco tanto para o infarto quanto para AVC isquêmico são muito parecidos e são esses que a gente busca prevenir, que são hipertensão, diabete e colesterol alto, tabagismo, sedentarismo, hábitos alimentares e hábitos de vida ruins”.

Tanto o AVC quanto o infarto são grandes preocupações para os brasileiros. Segundo o monitor Cardiômetro, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, até o dia 5 de agosto deste ano, 235.215 pessoas haviam falecido em decorrência de doenças cardiovasculares no Brasil, com uma média de 43 mortes por hora.
Entre 2004 e 2014, mais de 1,069 milhão de brasileiros perderam suas vidas por causa do infarto do miocárdio, angina e outras doenças isquêmicas do coração, contra 1,055 milhão que faleceram por efeito de AVCs e outras doenças cerebrovasculares.

Agilidade é essencial

Os dados de mortalidade poderiam ser drasticamente reduzidos com mais agilidade no atendimento à pessoa infartada. Há alguns casos em que o infarto não leva a uma parada cardíaca, e que a artéria se desobstrui sozinha, mas são raros.
O mais frequente é que, sem atendimento imediato, a paralisação do coração decorrente do infarto leve ao óbito ou a sequelas, caso o paciente sobreviva.

“Cada paciente vai ter todo um processo de fisiologia envolvido, não há como prever qual paciente vai ter ou deixar de ter a parada cardíaca. Quando não há, ou é porque o organismo tem recursos para se sustentar, ou o paciente foi atendido e foi feita alguma manobra para desobstruir a artéria, com medicamento ou, o mais comum e correto, com a angioplastia, que é o tratamento padrão ouro do infarto”, esclarece dr. Dombeck.

Se o paciente não consegue chegar ao hospital em cerca de 90 minutos, a recomendação é que o próprio socorrista administre um medicamento trombolítico intravenoso, algo que pode ser feito no local, para estabilizar o quadro.

Sinais e socorro imediato

Reconhecer se uma pessoa está sofrendo um infarto ou uma parada cardíaca é possível, mesmo para os leigos, com a observação dos sintomas.
O infarto em geral é precedido por desconforto no peito que pode irradiar para o pescoço, braços, ombros, costas e pescoço.
“Formas menos características são as dores nas costas, mas há situações em que o primeiro sintoma do infarto é a própria parada cardíaca”, diz o médico.

O paciente em parada cardiorrespiratória tem sintomas mais evidentes, conforme detalha Fernanda. “Ele fica inconsciente, não responde ao chamado, fica sem pulso e ele também não respira. A pessoa vai ficando pálida, a cor dela é diferente. A primeira coisa a se fazer quando se encontra uma pessoa nessa situação é chamar por ajuda, ou seja, ligar pra emergência”.

Em ambos os casos, os primeiros socorros podem incluir uma massagem cardíaca e os médicos dizem que esse procedimento, em geral, pode ajudar tanto no caso de infarto quanto no caso de parada cardíaca.
Contudo, ele deve ser feito apenas por quem tem conhecimentos básicos sobre o mesmo e uma única pessoa não pode realizá-lo sozinha.

“Por mais treinada que seja, sozinha é muito difícil conseguir reverter todo um quadro de parada cardiorrespiratória. O ideal é que a pessoa faça um treinamento básico de primeiros socorros para que ela saiba como agir numa situação dessa e para aprender a técnica correta de massagem cardíaca efetiva, se a massagem cardíaca não for efetiva, não se consegue manter uma boa circulação sanguínea, não consegue proteger o cérebro e isso pode ocasionar várias sequelas”, diz a cardiologista.

Gripes normalmente geram febre de cerca de três dias, tosse, dor muscular, dor de cabeça e coriza, podendo levar a pneumonia e outras complicações mais graves. Foto: Bigstock.
Gripes normalmente geram febre de cerca de três dias, tosse, dor muscular, dor de cabeça e coriza, podendo levar a pneumonia e outras complicações mais graves. Foto: Bigstock.

São diferentes

Há outras situações em que o conhecimento popular gera confusões no diagnóstico das patologias. Veja algumas das doenças e condições do tipo:
Infarto x AVC
O infarto ocorre quando as artérias coronárias são entupidas, normalmente por placas de gordura, deixando de alimentar o coração. Já o AVC pode ser de duas formas: o isquêmico, quando as artérias cerebrais são bloqueadas e é o cérebro que deixa de receber o sangue, e o hemorrágico, quando o vaso sanguíneo se rompe dentro do cérebro. Daí, vem o nome “derrame”, como também é popularmente conhecido o AVC.
Gripe e resfriado
Embora hoje a diferença entre as duas condições esteja mais clara, ainda há quem confunda as duas situações, pois que os sintomas são parecidos. Enquanto o resfriado é, normalmente, mais brando, e dura entre dois e quatro dias, raramente ocasionando febre, as gripes normalmente geram febre de cerca de três dias, tosse, dor muscular, dor de cabeça e coriza, podendo levar a pneumonia e outras complicações mais graves.
Virose e intoxicação alimentar
Ambos apresentam vômitos, febres, desidratação e diarreia, o que justifica a dificuldade de determinar se uma pessoa tem intoxicação alimentar ou se está com a infecção intestinal, também conhecida como virose. Ambas são também causadas por alimentos preparados de formas inadequadas, pouca higiene ou a infecção por vírus. O que diferencia as duas patologias é que a virose normalmente vem também acompanhada de calafrios e mal-estar, mas é mais facilmente tratável por medicamentos, enquanto a intoxicação alimentar exige dieta especial e repouso.
Dermatite atópica e psoríase
Doenças da pele podem ser complexas para diagnosticar, uma vez que seus sintomas e causas são muito similares. Descamação da pele, coceiras, desconforto e manchas avermelhadas, por exemplo, podem indicar tanto uma dermatite atópica quanto uma psoríase, ambas doenças crônicas que têm desdobramentos diferentes. Outro fator em comum é que tanto a psoríase quanto a dermatite atópica podem ter relação com fatores emocionais e estresse, e é preciso consultar um médico dermatologista para diagnosticar e tratar.
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