Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Por que a panturrilha é considerada o “segundo coração” do organismo

Amanda Milléo
23/07/2019 08:00
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Seis deve ser o número de corações periféricos distribuídos pelo corpo, sendo a panturrilha o principal deles. Foto: Bigstock.

Para sair do coração e irrigar os dedos dos pés ou o couro cabeludo, o sangue arterial é bombeado com uma força intensa para todo o corpo. O caminho de volta, no entanto, não é tão simples, especialmente quando a direção é de baixo para cima.
Sem a ajuda da gravidade, o sangue venoso deve subir a distância aproximada de 1,20 m e, para isso, conta com a colaboração dos chamados ‘corações periféricos’. O principal deles é a panturrilha.
Os músculos que formam a panturrilha são envoltos por estruturas firmes, conhecidas por aponeuroses que, no movimento de contração durante o andar, aumentam a pressão dentro da cavidade.
A pressão nas veias impele o sangue para cima, e até mesmo os ligamentos e a gordura dos membros inferiores colaboram com este processo essencial para a ‘limpeza’ do sangue.

“Funciona como o movimento de ordenhar a vaca. Quando caminhamos, a nossa panturrilha empurra o sangue de volta ao coração”, explica o cirurgião vascular Luiz Fernando Kubrusly.

As válvulas ou valvas presentes nas veias direcionam o caminho correto, e evitam que o sangue volte ao pé durante a subida. Se a pessoa tem o hábito de ficar em pé por muito tempo, as valvas lutam contra a gravidade e pode-se criar uma comunicação entre os dois sistemas responsáveis pela circulação venosa, o profundo e superficial.

“Quando há esta ligação, as varizes ficam mais aparentes e surge o risco de uma trombose venosa. As varizes são o indicativo da insuficiência venosa, mostrando que o sistema começou a ficar caótico porque a drenagem piorou e não sofre o efeito da panturrilha”, afirma Kubrusly.

Força insuficiente
O principal problema decorrente da panturrilha enfraquecida é a Insuficiência Venosa Crônica, indicada pelo surgimento das varizes. As valvas nas veias não aguentam levar o sangue, que permanece acumulado na perna. O causador da anomalia, segundo o cirurgião vascular José Carlos Costa Baptista-Silva, é o sedentarismo aliado à obesidade.
“Os fatores propiciam o aparecimento de um número maior de doenças venosas, como as varizes e a trombose venosa, acidentes vasculares cerebrais (derrames) e doenças arteriais, como infarto do miocárdio (músculo do coração), gangrena e até mesmo amputações”, explica.
Além das varizes, outros sintomas que podem indicar um início da insuficiência são dores nas pernas, sensação de queimação nos pés e cansaço nos membros inferiores a partir da metade da tarde.

“Há pessoas que, mesmo em dias frios, colocam o pé para fora da coberta porque não aguentam o calor ou que pela manhã calçam bem os sapatos, mas à tarde não conseguem fazê-lo tão facilmente. Estes são sinais indiretos de que o sangue não está voltando direito”, afirma Kubrusly.

A prevenção é básica: caminhada de pelo menos uma hora, três vezes por semana para fortalecer a musculatura da panturrilha. “Se a pessoa puder, no fim do dia, levantar os pés acima da ponta do nariz, esta é uma posição ideal. Ficar parado nesta posição por 10, 15 minutos também ajuda o corpo a drenar o sangue”, sugere o cirurgião cardiovascular.
Melhor caminho é andar
Para funcionar corretamente, a bomba muscular da panturrilha deve ser ‘ativada’ todos os dias e a melhor forma de fazer isso é caminhando. “O melhor é intercalar o sentar e o andar. Se a cada hora a pessoa respirar profundamente 10 vezes ou mover o pé como em um acelerador do carro, levantar, dar uma volta pelo escritório, tudo isso colabora com a ativação da panturrilha”, afirma Kubrusly.
Apesar das dicas simples, muitas pessoas não costumam seguir essas orientações. “É difícil convencer o paciente de que ele deve se exercitar, perder peso e se alongar de forma correta para parar de sentir dores, cansaço ou mesmo o inchaço nas pernas”, complementa a cirurgiã vascular do Hospital Nossa Senhora das Graças, Flávia Tristão.

Elas são diferentes

Devido ao tamanho maior da panturrilha em relação às mulheres, os homens são menos propensos a desenvolverem problemas do retorno venoso. Como a musculatura masculina é mais evidente, a bomba muscular da panturrilha trabalha melhor. Além do tamanho, as mulheres sentem mais pressão do útero durante a gravidez, que colabora com o surgimento de problemas na circulação. Para tanto, as atividades de fortalecimento são ainda mais importantes para elas.

Seis corações periféricos
Este deve ser o número de corações periféricos distribuídos pelo corpo, sendo a panturrilha o principal deles. Apesar de este número não estar bem estabelecido, há outras variáveis que contribuem para o retorno venoso, como a inspiração, a pressão negativa na diástole cardíaca (quando o coração relaxa e recebe o sangue que será bombeado durante a sístole), os plexos venosos – entrecruzamentos de veias na panturrilha, região plantar, abdominal e do tornozelo, o batimento das artérias ao lado das veias e as válvulas presentes naquelas que direcionam o fluxo.

Retorno correto

Vários fatores colaboram com o retorno venoso adequado, dizem os cirurgiões vasculares Luiz Fernando Kubrusly e Flávia Tristão:
• Caminhadas
Os músculos da panturrilha ‘empurram’ o sangue de volta ao coração.
• Acelerar
Movimentar o pé como em um acelerador de veículo ajuda a fortalecer a panturrilha e a contrair as veias.
• Inspirar
A pressão negativa intratorácica da respiração facilita a passagem do sangue da veia cava inferior para o compartimento torácico.
• Pisar corretamente
A adequada movimentação tíbio-társica é muito importante para o impulso do sangue ao sistema venoso superficial e profundo. A diferença do tipo de calçado e a maneira de pisar influencia a dinâmica do retorno do sangue.
• Não só a panturrilha
A perda de peso, o alongamento adequado da articulação do tornozelo e o fortalecimento da musculatura abdominal são importantes para prevenir e amenizar os sintomas da Insuficiência Venosa Crônica.
• Saltos
Usar somente salto alto não é uma boa sugestão, mas quando a pessoa caminha com eles, a posição de bailarina contrai as veias e ajuda no retorno venoso.
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