Saúde e Bem-Estar

Agência Estado e Carolina Furquim, especial para a Gazeta do Povo

Não é AVC! Paralisia de Bell tem sintoma parecido com derrame

Agência Estado e Carolina Furquim, especial para a Gazeta do Povo
10/11/2019 13:00
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A paralisia ocorre quando um nervo do rosto inflama ou incha, despertando sintomas como fraqueza muscular, olhos e cantos da boca inchados, espasmos ou mesmo a paralisia total muscular. Foto: Bigstock.

paralisia facial periférica ou paralisia de Bell trata-se de uma imobilização parcial do rosto e ocorre quando um nervo do rosto inflama ou incha.
Isso desperta sintomas como fraqueza muscular, olhos e cantos da boca inchados, espasmos ou mesmo a paralisia muscular total. Os sintomas geralmente afetam apenas um lado do rosto.
No Brasil, a cada 10 mil pessoas, cerca de 15 a 30 são diagnosticadas com a condição todos os anos.

A doença pode afetar qualquer um, mas é mais comum em mulheres no último trimestre de gravidez e pós-parto, em pessoas com infecções virais como herpes, varicela, catapora, rubéola e até mesmo a gripe, diabéticos ou mesmo quem sofre de estresse.

A baixa imunidade pode fazer com que um vírus, até então adormecido, entre em atividade e “ataque” o nervo facial. Se esse vírus for o do herpes, as pequenas vesículas típicas podem estourar atrás da orelha afetada.
Quando não é possível determinar a causa da paralisia, trata-se a doença como Paralisia de Bell, em referência ao anatomista Charles Bell, o primeiro a descrever o evento, em 1821.
O diagnóstico é essencialmente clínico para quase todos esses casos, sendo rara a solicitação de exames complementares.
O quadro é agudo e o paciente acorda com metade da face paralisada, da boca até a testa, ou percebe a fraqueza e assimetria de uma hora para outra.
Ainda que tenha início súbito, a paralisia demora de 48 a 72 horas para estabilizar, quando atinge seu grau máximo.
Paralisia ou AVC?
A paralisia facial acontece como reflexo de uma disfunção inflamatória do nervo responsável pelos movimentos dos músculos de uma metade do rosto.
É aí que ela se difere do AVC, que ocorre quando há um entupimento ou rompimento de vasos que levam sangue ao cérebro.

No AVC, a paralisia da face é apenas um dos vários sintomas que se manifestam — entre distúrbios da fala, confusão mental, muita dor de cabeça e perda da função motora em um dos lados do corpo.

As características da paralisia no rosto, quando fruto de um derrame, também diferem da paralisia facial periférica — outro termo para paralisia de Bell. A paralisia facial também não causa ou precede um AVC.
Diagnóstico
Na consulta, o neurologista realiza testes de força e pede ao paciente que execute algumas funções como piscar, sorrir e franzir a testa.
De modo geral, a boca entorta para o lado preservado, o olho não fecha no lado acometido, não é possível elevar a sobrancelha do lado paralisado e todas as rugas e linhas de expressão desse lado, especialmente as da testa, tendem a sumir.
Além desses sinais típicos, outros sintomas podem surgir e incomodar o paciente com Paralisia de Bell, pelo comprometimento de algumas funções.
Sempre no lado afetado, podem surgir insensibilidade ou alteração do paladar na metade da língua, redução ou excesso de lágrimas, formigamento ou dormência e hiperacusia (audição excessiva).
Alguns pacientes referem uma dor de cabeça bem característica, que se irradia para o ouvido e para atrás do lóbulo da orelha, horas antes do início da paralisia.
Cuidados
O relógio é aliado importantíssimo do paciente com Paralisia de Bell, por isso, procurar ajuda médica imediatamente é fundamental.
Isso porque, uma vez diagnosticada a doença, a resposta ao tratamento é melhor caso ele seja iniciado logo nas primeiras 48 horas.

Estudos demonstram que a evolução tende a ser mais favorável com a administração continuada de medicamento corticosteroide associado a um antiviral, mas isso, apesar de não ser totalmente comprovado, vai depender do tempo de instalação e de outras análises do médico.

Sessões de fisioterapia regulares e por algumas semanas são essenciais para evitar atrofia muscular e acelerar e garantir uma recuperação com menor chance de sequelas, e devem iniciar antes mesmo do ápice clínico ou estabilização da paralisia.
O tempo médio de recuperação total varia entre um e três meses, mas a primeiras melhoras devem ser sentidas em até duas semanas.
Estima-se que 80% dos pacientes evoluem para a recuperação total ou satisfatória, enquanto outros 20% permanecem com alguma sequela — tudo depende do grau da paralisia, se leve, moderado ou grave —, da procura por ajuda em tempo hábil e da resposta pessoal ao tratamento.
Não há nenhuma comprovação científica de que tratamentos alternativos como acupuntura, relaxamento ou ingestão de vitaminas possam ajudar na cura.
Cuidados essenciais
Até a recuperação plena, o cuidado com o olho afetado é a conduta mais importante durante todo o tratamento. Pela dificuldade de fechamento do olho, o médico vai receitar colírio de lágrima artificial e uma pomada especial que deve ser usada junto com um tampão para a oclusão na hora de dormir.
Como não é possível piscar do lado paralisado, fechamentos manuais da pálpebra, durante todo o dia, também são indicados. Sem esses cuidados, o olho pode ressecar e predispor úlcera na córnea, o que pode levar até mesmo à cegueira.
Dificuldades
As dificuldades relatadas pelos pacientes tendem a minimizar conforme a evolução favorável do quadro.
Podem ser sentidas dores ou espasmos na face, dificuldade de manter alimentos ou líquidos na boca (usar canudos nesse período pode ajudar) e os incômodos mais típicos, relacionados à inexpressividade, como não conseguir sorrir, piscar e fazer movimentos simples, como “mandar um beijo”.
Apesar da sensação de peso ou dormência na face, a sensibilidade não é afetada.
Recuperação insatisfatória
Infelizmente, não há muito o que fazer em casos de recuperação insatisfatória.
Pode ser recomendada a aplicação de Botox para corrigir assimetrias ou, em casos mais graves, descompressão cirúrgica do nervo, uma opção ainda em estudo.
Eventualmente, à medida em que o nervo facial se recupera, pode haver a formação de conexões anormais, que levam ao surgimento de movimentos inesperados e voluntários de alguns músculos faciais, chamados sincinesias. As recidivas são raras.
Fontes: neurologistas Adriana Moro e Marcelo Mariano da Silva.
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