Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo*

Quando a tristeza termina e começa a depressão: fique atento aos sinais

Amanda Milléo*
02/09/2019 08:00
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Quando é depressão e quando é apenas uma tristeza? Existem diferenças importantes. Foto: Bigstock.

Este é o mês escolhido pelo Centro de Valorização da Vida para a campanha de prevenção ao suicídio Setembro Amarelo. Um dos gatilhos dessa decisão costuma ser a depressão, que envolve muitas dúvidas.
Tristeza é sinônimo de depressão? Apesar da associação clássica entre o humor e a doença, a tristeza só se torna um alerta quando passa a afetar a vida do indivíduo.
Assim, quando é excessiva em tempo ou quando há interferência nos relacionamentos ou na produtividade no trabalho ou na escola, é preciso atenção.

O Brasil é o país mais deprimido de toda a América Latina, sendo 5,8% (12 milhões) da população vítima da depressão. O número nacional, divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é maior que a média mundial, de 4,4%.

“Ter a tristeza é totalmente normal, todo mundo tem. Um dos parâmetros para definir [a depressão] é quando começa a causar um real prejuízo. Quando afeta as relações interpessoais, a produtividade no trabalho. E, às vezes, não afeta nenhuma dessas coisas, mas afeta o sofrimento individual. A pessoa sofre a mais por algo que não precisaria”, explica Teng Chei Tung, médico psiquiatra, coordenador do serviço de Interconsultas e pronto-socorro do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP).
Frustrações na vida sempre existirão, conforme lembra o especialista, e que levarão a um momento mais introspectivo e de tristeza. “A tristeza é o momento para você ficar introspectivo, refletir e crescer. Se você está deprimido, você fica introspectivo por dias, semanas e não consegue sair. A cabeça não funciona, não tem concentração, não tem nem raciocínio, nem disposição. Então, na depressão, você está incapacitado”, reforça Tung, que também é vice coordenador da Comissão de Emergência Psiquiátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Sintomas: no que é preciso ficar atento?

Os sinais da depressão, ou dos transtornos depressivos, não se resumem a um ou dois sintomas. São, conforme alerta a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ou de humor), um conjunto de pensamentos, sentimentos, comportamentos e experiências que incapacitam alguém.
Ainda assim, vale o destaque aos seguintes:
  • Sentimento persistente de inutilidade, rejeição, angústia, vazio e/ou culpa;
  • Pessimismo e desesperança;
  • Desânimo e choro significativos;
  • Dificuldade de concentração ou na tomada de decisões;
  • Insegurança, medo e indecisão;
  • Baixa autoestima;
  • Fadiga, cansaço ou baixa energia;
  • Insônia ou muito sono;
  • Mudança no apetite, com perda ou ganho de peso;
  • Inibição geral das funções, lentidão na fala e nos movimentos;
  • Pensamentos de morte ou de suicídio;
  • Irritabilidade, explosões de raiva, ansiedade e inquietação;
  • Redução na libido;
  • Incapacidade de sentir prazer em atividades que antes eram agradáveis;
  • Isolamento social;
  • Dores e sintomas físicos não justificados por outros problemas médicos. Por exemplo, dores de cabeça, problemas gastrintestinais, dores pelo corpo e pressão no peito.

Se apresentar cinco ou mais dos sintomas acima por um período de duas semanas, é importante que busque por um médico psiquiatra e um psicólogo para avaliação. 

Falar sobre depressão e suicídio ainda é considerado um tabu na sociedade brasileira. Foto: Bigstock.
Falar sobre depressão e suicídio ainda é considerado um tabu na sociedade brasileira. Foto: Bigstock.

Depressão ainda é tabu

Filmes, séries e livros abordam a depressão há tempos — como a tentativa de suicídio de George Bailey em “A Felicidade não se Compra” (1946) ao “Divertidamente” (2015), animação infantil que conta as confusões em que se metem as emoções da garota Riley, de 11 anos, depois que a família se muda para uma nova cidade.
Ainda assim, falar sobre depressão no dia a dia parece ser um tabu difícil de transpor, conforme dados de uma pesquisa divulgada na última quarta-feira (28), em São Paulo. O estudo é resultado de uma parceria entre o laboratório Pfizer, a ABRATA, o Centro de Valorização da Vida (CVV) e Upjohn — divisão de doenças crônicas não-transmissíveis da Pfizer. Realizado pelo IBOPE Conecta, o levantamento faz parte da campanha Na Direção da Vida — Depressão sem Tabu.
Duas mil pessoas, das regiões metropolitanas de Fortaleza (CE), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre e da capital de São Paulo (SP) foram entrevistadas on-line. Dos resultados, jovens desconhecem a origem e os tratamentos disponíveis contra a doença, o que gera mais estigma e vergonha em tratar do assunto em casa, na escola e em sociedade.

“Minha família não leva a depressão à sério”

Quando questionados se estariam à vontade para falar sobre o diagnóstico de depressão em casa, com a família, 39% dos adolescentes (entre 13 e 17 anos) entrevistados disseram que “não“. Apesar da maioria (61%) falar que “sim”, a negativa acendeu um alerta entre os especialistas que avaliaram os resultados.
Dos motivos para a negativa, 38% dos jovens na mesma faixa etária responderam que “meus familiares vão achar que eu só quero chamar a atenção”, 41% alegaram que “minha família não leva a depressão à sério”, e 37% disseram que “sinto que vou atrapalhar e preocupar meus familiares”. Em outras faixas etárias, as respostas foram semelhantes.

“Chamar a atenção” foi a resposta para 63% dos jovens entre 18 e 24 anos quando questionados por que não contariam à família sobre o diagnóstico. E, nessa mesma idade, 50% avaliaram que a família não leva a doença à sério.

Com o avanço da idade, as respostas mudam e, entre o público de 55 anos ou mais, 44% disseram que não contariam porque iriam atrapalhar ou preocupar a família. 

Escola e trabalho: preconceito

A mudança de ambiente também não melhora a busca por ajuda. Quando perguntados se eles contariam no trabalho ou na escola o diagnóstico da doença, 56% dos jovens entre 18 e 24 anos disseram que “não”. Em comparação, 72% das pessoas acima de 55 anos disseram que “sim”.
Dos motivos pelos quais os jovens não levariam a informação aos seus chefes, professores ou colegas, 70% dos entrevistados entre 18 e 24 anos disseram que “as pessoas não levam a depressão a sério e não vão acreditar que estou doente”. A mesma resposta é vista em destaque nas faixas etárias de 25-34 e 35-54 anos.

“Tenho receio de tomar remédios fortes”

Ainda de acordo com os dados do levantamento, 25% dos adultos entre 25 e 34 anos responderam à questão “Se seu médico recomendasse uma consulta a um psiquiatra, você iria?”: Sim, mas não contaria a ninguém. A mesma resposta é dada por 12% dos adolescentes entre 13-17 anos, e outros 12% da mesma faixa etária foram categóricos: “não iria”.

Dos motivos, 26% dos jovens entre 18-24 anos disseram que tinham receio que o médico prescrevesse medicações muito fortes e 31% dos adultos entre 25 e 34 anos acreditam que a depressão não seja uma doença tão grave que precise se consultar com um médico psiquiatra.

Na mesma visão tem os bem jovens, entre 13 e 17 anos: 70% desse público respondeu “prefiro tentar outros tipos de apoio, como falar com meus amigos”. A mesma resposta foi dada por 47% do público com 55 anos ou mais.
*A repórter viajou a São Paulo à convite da Pfizer.
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