Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Contra medo e ansiedade por voar, pessoas se automedicam sem saber os riscos

Amanda Milléo
19/04/2019 08:00
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Tomar remédios que acalmam antes de viajar de avião não é incomum, mas exige cuidado (Foto: VisualHunt)

Às vezes é o medo do avião em si. Em outras é o receio de que o voo desencadeie uma crise de ansiedade ou de pânico. Fato é que as pessoas tendem a tomar remédios ansiolíticos controlados (muitas vezes sem orientação médica), como o Rivotril, antes de viajar de avião e essa escolha carrega riscos à saúde.
O medicamento não é o vilão da história, conforme lembra o médico psiquiatra Luis Fernando Petry, mas o uso deve ser orientado por um especialista.
“Remédios ansiolíticos, como o Rivotril, são extremamente eficazes para tratar o medo patológico. Pacientes podem ser orientados a usar esse tipo de medicação porque, muitas vezes, o medo não acontece apenas no momento do embarque. Tem pessoas que, só de saber da viagem marcada, começam a ter insônia, e a medida que o tempo passa, mais desesperadas ficam”, explica o psiquiatra.
O tratamento, porém, não se limita a medicações. “Uma vez que fica claro o fenômeno ansioso ou o transtorno de ansiedade, como o medo de viajar de avião, o tratamento vai de uma medicação que reduz os sintomas ao uso da psicoterapia. O paciente precisa dar conta se tiver sintomas de algum tipo de ataque”, lembra o médico.

Reações inesperadas

Uma pessoa que recebe a liberação para tomar medicamentos controlados não terá os mesmos riscos no uso que alguém que tome o remédio de um amigo ou familiar. Ainda assim, o consumo desse tipo de remédio durante uma viagem de avião — especialmente as longas — precisa de cuidados, conforme lembra Ricardo Benvenutti, médico clínico geral do hospital VITA, preceptor da residência médica do hospital Zilda Arns, ou hospital do Idoso, em Curitiba.

“O problema é que, em viagens de avião longas, se a pessoa toma um medicamento como esse, que acaba gerando sonolência, ela dorme durante todo o percurso. Então ela não consegue se levantar e mexer as pernas, aumentando o risco de trombose venosa profunda”,  reforça o médico. Outro risco, decorrente da mesma situação, pode ser gerar uma embolia pulmonar, segundo Benvenutti. 

“Outras preocupações estariam em eventualmente a pessoa tomar o medicamento de uma forma errada, em uma dosagem maior que a indicada para ela, ou associar a outro medicamento. São situações que podem gerar riscos de complicações”, diz.
Remédios ansiolíticos não podem ser tomados sem orientação médica, especialmente entre quem usa para viajar de avião (Foto: VisualHunt)
Remédios ansiolíticos não podem ser tomados sem orientação médica, especialmente entre quem usa para viajar de avião (Foto: VisualHunt)

Álcool não combina com remédio, muito menos em voo

Em viagens internacionais, é comum que as companhias aéreas ofertem bebidas alcoólicas aos viajantes. “A bebida também pode potencializar o efeito. Além de dormir e não se mexer, a pessoa pode não se alimentar durante toda a viagem, e ter um quadro de hipoglicemia, por exemplo”, reforça o clínico.

Outra situação é, devido ao consumo da bebida alcoólica, o medicamento tem o efeito reduzido ou adverso. O ansiolítico, ao invés de acalmar, acaba gerando um efeito de agitação psicomotora. 

“As pessoas podem ter, então, a crise de pânico que tentaram evitar durante a viagem. Já presenciei pessoas em crise, passando mal. Não é nada grave, mas é uma crise de ansiedade e difícil de controlar. É preciso um bom apoio das pessoas próximas”, diz Benvenutti.

O que fazer ao ver alguém com crise de pânico ou de ansiedade no avião?

Ninguém gostaria de vivenciar uma crise de pânico ou ansiedade dentro de um avião. Dos sintomas mais comuns, a pessoa pode ter o coração acelerado, náusea, vômito, sensação de desmaio.
Ao ver alguém com esses sintomas próximos a você no avião, procure:

Acalmar a pessoa. Converse com ela, tente fazer com que ela fale sobre qualquer outro assunto. 

Diga para que respire. Durante um momento de crise, a respiração fica fora de ritmo. Peça para que a pessoa respire profundamente, segurando o ar por alguns segundos e soltando devagar. Isso ajudará a desacelerar o coração também.

Ofereça um líquido. Água com açúcar, refrigerante ou qualquer bebida adocicada pode ajudar. Se a pessoa estiver com sensação de desmaio, a glicose do alimento melhorará esse sintoma. 

Se essa pessoa for você, siga as recomendações e, depois de desembarcar, marque uma consulta com um médico, de preferência psiquiatra, para receber indicações de tratamento.
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