Saúde e Bem-Estar

Agência RBS, Larissa Roso

Veja as práticas que causam e que pioram doenças de inverno

Agência RBS, Larissa Roso
14/06/2019 17:00
Thumbnail

Gripes normalmente geram febre de cerca de três dias, tosse, dor muscular, dor de cabeça e coriza, podendo levar a pneumonia e outras complicações mais graves. Foto: Bigstock.

Sobram lamentos sobre os transtornos provocados pelo clima do inverno no sul do país. Entre eles, além das paredes e dos pisos que vertem água e das roupas no varal que jamais secam, estão os mais incômodos e potencialmente graves: estamos na época do ano em que há maior incidência de doenças respiratórias, como gripe, pneumonia, bronquiolite, sinusite e rinite. Haja saúde.
Adoecemos mais agora, e depois, quando a estação mais fria do ano chegar de vez, dia 21 de junho, devido a três fatores principais. Em primeiro lugar, o frio e a umidade são propícios ao surgimento de sintomas respiratórios, como tosse, falta de ar, catarro, chiado no peito e coriza, que se manifestam de maneira mais forte em quem já tem alguma enfermidade respiratória.

Outro fator importante é que as condições climáticas propiciam a proliferação de germes, mofo, vírus e bactérias, o que está diretamente ligado ao terceiro aspecto — as pessoas passam mais tempo em ambientes fechados, tentando se aquecer, e, em consequência, há menor ventilação em casas, salas de aula, escritórios e ônibus, onde a presença de um único doente pode contaminar inúmeros presentes.

“Quem não tem doença respiratória prévia também pode desenvolvê-la. Febre, tosse e catarro são sintomas que devem fazer a pessoa evitar ir ao trabalho ou a outros locais onde pode ocorrer a transmissão de viroses e bactérias. Se durarem mais de dois, três dias, é sinal de coisa séria”, alerta o pneumologista Adalberto Rubin, chefe do Serviço de Pneumologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
O pneumologista José Chatkin, professor da Escola de Medicina da PUCRS e coordenador do Serviço de Pneumologia do Hospital São Lucas da PUCRS, alerta que os males dos meses gelados tendem a ser mais sérios para crianças e idosos. Entre os pequenos, o sistema imunológico ainda não está maduro, principalmente ao longo do primeiro ano de vida, e, nos mais velhos, as defesas já começam a falhar.
Reações às vacinas: quais sintomas são normais e quando se preocupar? (Foto: Bigstock)
Reações às vacinas: quais sintomas são normais e quando se preocupar? (Foto: Bigstock)
“Se somarmos a isso alguns fatores que contribuem para que as defesas não funcionem, como tabagismo, uso de medicamentos imunossupressores (que alteram a imunidade) e doenças crônicas, a situação fica bem mais difícil”, diz Chatkin.

O quadro clínico na velhice pode não ser tão claro como nos adultos, destaca o professor. Uma gripe ou uma pneumonia talvez fique mais “escondida” no idoso, e só um exame médico detalhado é capaz de revelar o real diagnóstico por trás de uma perda de apetite ou de um estado geral mais atrapalhado.

O paciente de mais idade perde a força para tossir e não consegue expectorar. No caso de crianças de até cinco anos, sintomas que devem levar os pais a procurar atendimento imediato, no posto de saúde ou em emergências, são febre alta (acima de 38 graus C) e frequência respiratória aumentada (respirar com dificuldade).
Adultos que tiverem tosse e expectoração purulenta, com ou sem febre, precisam ser avaliados para que se comprove ou descarte um início de pneumonia.

“Isso é importante, principalmente, se o paciente é fumante ou ex-fumante. A possibilidade de uma complicação grave é alta”, acrescenta o professor da PUCRS.

Como medida preventiva, a vacinação é uma das mais eficazes. Pais costumam seguir o calendário previsto para os bebês no primeiro ano, com os reforços subsequentes, mas os idosos acabam sendo frequentemente negligenciados, comenta Chatkin.
Homens e mulheres acima de 60 anos necessitam receber as doses contra a gripe e a pneumonia, mas também as contra coqueluche e sarampo, que podem complicar bastante a saúde respiratória nessa faixa de idade.

A vacina antipneumocócica, que combate a pneumonia, tem duas apresentações: a pneumo 13 e a pneumo 23. Os números se referem aos números de sorotipos de pneumococo (bactéria), ou seja, a doença é a mesma, mas o germe desencadeador pode provir de várias famílias. Mais potente, a 13-valente abrange os sorotipos mais agressivos.
Em princípio, pode ser aplicada uma única vez e, conforme as condições imunológicas da pessoa, ser repetida em cinco anos. A 23-valente — única disponível na rede pública — tem duração limitada, e são necessárias reaplicações anuais. O pediatra deve orientar o esquema vacinal das crianças.

As principais doenças respiratórias de inverno

ASMA
O que é: estreitamento das vias aéreas (brônquios) causado pela compressão dos músculos que as envolvem. Histórico familiar de alergias respiratórias (asma ou rinite) pode estar entre as causas.
Sintomas: falta de ar, chiado e sensação de aperto no peito, tosse seca. A bronquite tem sintomas parecidos.
Tratamento: a asma não tem cura, mas pode ser muito bem controlada à base de inaladores e antialérgicos. O paciente tem que seguir o tratamento prescrito pelo médico e tomar cuidados em relação ao ambiente. Podem ser gatilhos para uma crise asmática: poeira, mofo, ácaros, pólen, bichos de estimação (pelos, descamação da pele do animal, saliva, urina e outros tipos de excreções), infecções virais como a gripe, fumaça de cigarro, poluição e exposição ao ar frio.
GRIPE
O que é: infecção aguda causada pelo vírus influenza que acomete todo o sistema respiratório. O influenza tipo A é o mais perigoso e o que mais mata.
Sintomas: febre alta (acima de 38 graus C), dores musculares, tosse, congestão e fadiga.
Tratamento: com medicamentos antivirais, como o Tamiflu, e para combater os sintomas (antitérmicos e analgésicos). Repousar é fundamental.
Crianças de cinco anos também estão no alvo de campanha pela vacina da gripe. Foto: Bigstock.
Crianças de cinco anos também estão no alvo de campanha pela vacina da gripe. Foto: Bigstock.
BRONQUITE
O que é: causada por alergias e/ou infecções por vírus, provoca irritação das vias respiratórias. É comum na infância.
Sintomas: tosse e chiado no peito.
Tratamento: atacam-se os sintomas com antialérgicos e broncodilatadores.
BRONQUITE CRÔNICA
O que é: causada por fatores como o tabagismo, que estimulam a proliferação de secreção e provocam o entupimento das vias respiratórias.
Sintomas: tosse com muito catarro e falta de ar. É permanente, cessando apenas com o abandono do cigarro.
Tratamento: parar de fumar, praticar atividade física, fazer inalação com bombinha e nebulização.
BRONQUIOLITE
O que é: quadro agudo, com estreitamento das vias aéreas,
desencadeado por vírus (principalmente, o vírus sincicial respiratório, VSR) em crianças de até 12 anos.
Sintomas: tosse, chiado e falta de ar.
Tratamento: feito com broncodilatadores e antivirais. Nos casos mais graves, pode ser indicada a internação do paciente e a prescrição de antibióticos.
SINUSITE
O que é: pode ser de origem bacteriana (que provoca mais sintomas) ou viral, aguda (a crise é tratada e passa) ou crônica (a enfermidade volta de tempos em tempos). Quem tem rinite está mais propenso por ser mais sensível e produzir mais secreção, onde a bactéria se prolifera.
Sintomas: secreção amarela no nariz, pressão na face, dor de cabeça e tosse.
Tratamento: se a sinusite for bacteriana, utilizam-se antibióticos e descongestionantes. No caso da viral, recomendam-se antialérgicos e medicamentos para aliviar os sintomas.
PNEUMONIA
O que é: doença causada por uma bactéria que entra nos pulmões.
Sintomas: febre alta, tosse e dor no peito para respirar.
Tratamento: com antibiótico e medicamentos para os demais sintomas (antitérmicos e analgésicos). Dura, no mínimo, sete dias.
ENFISEMA PULMONAR
O que é: cistos de ar que se formam dentro do pulmão e pioram a respiração. Cerca de 90% dos casos são decorrentes do tabagismo, enquanto os outros 10% têm origem genética.
Sintomas: muita falta de ar e dificuldade para realizar atividades corriqueiras, como caminhar, tomar banho, arrumar a cama e limpar a casa. Os sintomas costumam aparecer quando a enfermidade já está em estágio avançado.
Tratamento: com inaladores e oxigênio. Quem fuma deve abandonar o hábito.
Fontes: pneumologista Adalberto Rubin e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Como se proteger

Uma das práticas mais perigosas nos meses de frio e umidade é se submeter a abruptas mudanças de temperatura. Sair do banho com água superquente direto para a sala onde as janelas estão abertas, dando passagem ao ar gelado da rua, é um risco para todos.

Permanecer em uma área com temperatura baixa, mas estável, não traz tanto malefício quanto sair de um ambiente com ar-condicionado quente para entrar em outro bem mais frio. Essas trocas, salienta o pneumologista José Chatkin, abalam o sistema imunológico — a inalação de ar muito frio compromete o nariz, um dos primeiros mecanismos de defesa do organismo contra vírus e bactérias.

Ao sair do chuveiro, o ideal é abrir uma pequena fresta da janela ou da porta do banheiro para que o ar de menor temperatura comece a entrar, enquanto você se veste — o mesmo vale para quando os pais dão banho nos filhos pequenos.
O pneumologista Adalberto Rubin orienta que, ao sair de casa, vale aquela dica das avós para se agasalhar muito bem. É preciso cobrir as extremidades, pontos sensíveis que captam mais o frio e o transferem para todo o corpo. Toucas, mantas, protetores de orelha, luvas e meias grossas cumprem a missão de mantê-lo aquecido.
Para os frequentadores de academias de ginástica ou outros locais de prática de atividade física, o ideal é se agasalhar bem para o trajeto e retirar as roupas mais pesadas ao chegar. Na hora de voltar, seque o suor e troque as peças molhadas antes de partir, e vista todos os agasalhos novamente. Se o seu condomínio dispõe de academia, aproveite-a, evitando deslocamentos nos dias mais críticos.

Fugindo dos perrengues

Veja como prevenir problemas:

– Uma alimentação saudável e balanceada é um fator de proteção para todas as faixas etárias. Bebês devem ser amamentados, no mínimo, por um ano.
– Manter a prática de exercícios físicos, mesmo no frio, é fundamental, mas requer precauções adicionais. Não corra ou pedale ao ar livre quando estiver chovendo muito ou com
temperaturas demasiadamente baixas.
– Quando estiver muito frio e úmido, crianças e idosos devem evitar sair de manhã cedo ou ao final do dia se não for extremamente necessário.
– Crianças com doenças respiratórias agudas não devem ir à escola para que não se tornem um ponto de disseminação de germes. Caso os pais fiquem sabendo que um ou mais colegas do filho estão enfermos, é melhor deixar a criança em casa.
– Os pequenos não devem visitar pessoas com enfermidades infectocontagiosas ou ter contato muito próximo com elas.
– Pacientes oncológicos e HIV positivo, além daqueles que se tratam com medicamentos que provocam baixa da imunidade, necessitam de cuidado redobrado e orientação médica.
– Lave as mãos várias vezes ao dia – sem esquecer os dorsos, os punhos e entre os dedos –, especialmente quando chegar da rua. Se estiver espirrando, aumente a frequência da higienização.
– Mesmo com frio e umidade, é importante abrir as janelas de sua residência em algum momento do dia para circulação de ar.
– A vacina contra a gripe leva, em média, 15 dias para começar a fazer efeito. Para os que ainda não tomaram a dose este ano, ainda há tempo.
– Ninguém pode fumar perto de uma criança. Não basta ir para outro ambiente, pois a fumaça se deposita em superfícies lisas dos móveis e do piso. Também não resolve sair para fumar na rua, pois a roupa voltará impregnada do cheiro e das substâncias tóxicas. Pegar a criança no colo depois do cigarro é igualmente prejudicial.
LEIA TAMBÉM