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Congresso Nacional, em Brasília, teve forte renovação nas eleições 2018. Foto: Pedro França/Agência Senado
Congresso Nacional, em Brasília, teve forte renovação nas eleições 2018. Foto: Pedro França/Agência Senado| Foto:

Dos meus filósofos favoritos, escolho o pindamonhangabense radicado em Sobral, no Ceará, Ciro Gomes. Num passado não muito distante, disse uma frase que guardarei como um mantra: “a democracia é uma delícia, mas tem seu custo”.

E é sobre esse custo, em especial, que cabe a análise de hoje, 8 de outubro, o dia depois das eleições mais esdrúxulas da República. Há políticos que estão pagando esse custo de uma vez, pesado, à vista. Outros, num parcelamento a perder de vista. Os mais preocupados, apostaram no consórcio, sem aperto.

Mas o fato é que quando a fatura vem, tem que ser liquidada. Nem no prognóstico mais otimista eu apostaria que a deliciosa democracia faria uma mudança tão radical em postos enraizados no Brasil, com nível de renovação tão importante. Cheguei a apostar que eu trocaria de nome se houvesse renovação maior que 30% no Congresso Nacional. Errei e, sem pudores aviso: podem me chamar de Chiquita Bacana.

Com o fim da apuração, o fato: mesmo com apenas 30% de caras novas, o Senado Federal foi renovado em 85%. Somente 8 das 54 cadeiras em disputa este ano serão ocupadas por quem foi em busca de se reeleger.

Na Câmara, a renovação chega a 47,3%, com 243 novos deputados, em seus primeiros mandatos, segundo a Secretaria Geral da Mesa. É, de fato, a maior renovação nos últimos 16 anos.

Figurões que sempre apostaram que os mandatos eram vitalícios, ou que havia escritura de posse de suas cadeiras e gabinetes, se veem na necessidade de buscar algo novo, inédito: trabalhar de verdade! Tem gente que já está atualizando o LinkedIn, vasculhando aquele currículo antigo, lembrando como era seu antigo ofício, enfim.

Figurões que sempre apostaram que os mandatos eram vitalícios, ou que havia escritura de posse de suas cadeiras e gabinetes, se veem na necessidade de buscar algo novo, inédito: trabalhar de verdade!

Nas Alagoas, apenas a dupla hereditária de Renan’s se deu bem, com Renan Calheiros reeleito senador e Renan Filho reeleito governador do estado com esmagadores 77,3%. A ‘pegada’ era tão forte que Fernando Collor se absteve de disputar. Mas, na Câmara Federal, não houve espaço para nomes conhecidos como Ronaldo Lessa (PDT), ex-prefeito de Maceió, duas vezes governador e deputado, bem como para Heloísa Helena (Rede), que chegou a ser a terceira mulher a receber mais votos em uma eleição presidencial.

No Amazonas, Vanessa Grazziotin, que tentava reeleição ao Senado, pelo PCdoB, não conseguiu ir além do quinto lugar, com 373.948 votos. O deputado Pauderney Avelino (DEM) também não garantiu sua recolocação na Câmara.

Na Bahia, como esquecer de Tia Eron (PRB), que ganhou notoriedade no processo de cassação de Eduardo Cunha por ter seu voto como decisivo. Pois é, mas os baianos esqueceram e ela não foi reeleita. O mesmo aconteceu com Antonio Imbassahy (PSDB) e Aleluia (DEM). Lucio Vieira Lima (MDB), também não teve sucesso ao tentar voltar à Câmara.

No Ceará, Eunício Oliveira (MDB) ficou em terceiro lugar por margem curta para o segundo – e eleito – Eduardo Girão, do Pros.

No Distrito Federal, Joaquim Roriz, governador por quatro mandatos, ministro de Collor e senador renunciado, sequer conseguiu se eleger a deputado. Seu sobrinho, Dedé, também não foi eleito. Com as filhas fora de disputas, fim da era Roriz na política brasileira, por enquanto.

No Espírito Santo, dois nomes forte foram relegados na corrida ao Senado: Magno Malta (PR) e Ricardo Ferraço (PSDB), ficaram em terceiro e quarto lugar, sem mandato. A pancada em Malta é forte, pois ele chegou a ser cogitado para vice de Bolsonaro, mas o partido declinou. Ah, se arrependimento matasse…

Goiás, por sua vez, não permitiu que um político de carreira, como Marconi Perillo (PSDB), quatro vezes governador – até abril deste ano, inclusive – senador, deputado estadual e federal, pudesse retornar ao Senado. Teve apenas 416.613 votos, praticamente quatro vezes menos que os eleitos, o que inclui o apresentador de TV Jorge Kajuru (PRP).

Falei do fim da era Roriz, mas o mesmo ocorre no Maranhão, onde nenhum Sarney foi eleito: o filho (PV) ficou em terceiro na corrida ao Senado, com metade dos votos da segunda colocada. Roseana (MDB), na corrida ao governo, mal passou dos 30%, metade dos votos do reeleito Flavio Dino (PCdoB). Outro figurão da política, que até ministro foi, Edison Lobão teve desempenho pior ao Senado, com 9,7% dos votos, na quarta posição.

Minas Gerais, a terra da torta de climão que tanto mostramos, fez jus ao título. O estreante Romeu Zema do Novo, até pediu voto para Bolsonaro, causando ira no partido, mas sendo o melhor desempenho em cargo executivo. Saiu do zero e está em primeiro lugar na disputa, com 42,73%, indo ao segundo turno com Antonio Anastasia (PSDB), que ficou com 29%. Não sei quem tem mais ódio de Zema: Anastasia que teria tudo para faturar a eleição no primeiro turno, ou Fernando Pimentel (PT), que foi arruinado com os números.

Não dá pra falar de Minas e não lembrar de Dilma Rousseff (PT). A ‘presidentA’ liderava as pesquisas até a véspera, mas ficou na quarta posição com pouco mais de 15% dos votos.

No Pará, Flexa Ribeiro (PSDB) não conseguiu se renovar.

Na Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), ficou em quarto lugar e não conseguiu ir ao Senado Federal.

E o Paraná? Dois figurões: Requião (MDB), um dos reis do Twitter, e Beto Richa (PSDB), que foi preso recentemente, não conseguiram a vaga ao Senado, ficando apenas em terceiro e sexto lugares, respectivamente. Richa mal chegou a 4% dos votos.

No Pernambuco, dois ex-ministros de Temer não chegaram ao Senado: Mendonça Filho (DEM) e Bruno Araújo (PSDB), só ficaram em terceiro e quarto lugares. Mas Fátima Bernardes está feliz, afinal seu namorado, Túlio Gadêlha, foi eleito deputado federal pelo PDT.

No Piauí, fim da linha para Paes Landim (PTB), que desde 1987 era deputado. Isso mesmo, depois de 30 anos, não conseguiu a reeleição. Outro inesquecível, Heráclito Fortes (DEM), também ficará em casa a partir de 1º de janeiro de 2019.

No Rio de Janeiro, filhos de Eduardo Cunha, Sergio Cabral, Picciani, Roberto Jefferson e Crivella não vão à Câmara. Somente Clarissa Garotinho chegou lá. Wadih Damous (PT), também não foi eleito e terá mais tempo para se dedicar aos processos que correm contra Lula. Jean Wyllys (PSOL) entrou na raspa do tacho e deve agradecer a expressiva votação de Marcelo Freixo.

Cesar Maia (DEM), Lindbergh Farias (PT) e Chico Alencar (PSOL), também ficaram bem longe do Senado Federal nessas eleições.

No Rio Grande do Norte, Garibaldi Filho (MDB), ficou fora do Senado.

Pelo Rio Grande do Sul, ex-ministro Miguel Rosseto ficou de fora da disputa ao segundo turno do governo gaúcho.

Em Roraima, Romero Jucá (MDB), nome forte de Temer, está fora do Senado.

Em Santa Catarina, o governador Raimundo Colombo está fora do Senado, bem como Paulo Bauer, que foi cotado para concorrer ao governo.

Em São Paulo, Eduardo Suplicy (PT) vai ter que se contentar com a vereança na capital, pois despencou da liderança.

O ponto final e que deixa muita gente sem dormir é um só: quem é investigado e não foi reeleito perde o famigerado foro privilegiado e passa a responder como simples cidadãos comuns. Convenhamos, coisa que já deveria ser feita há muito tempo.

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