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Choque de liberdades: mulher trans vai à justiça contra negativa de atendimento de depiladora muçulmana
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O que vale mais: a liberdade religiosa ou o respeito à diversidade sexual? Na era da judicialização ampla e irrestrita, é dessa forma que o Canadá vai resolver o que seria uma marcação de atendimento na Max Wax depilação, localizada na cidade de Windsor, às margens do lago Ontario, fronteira com os Estados Unidos.

O evento aparentemente corriqueiro, ocorrido por telefone, deu início a uma ação judicial de violação de Direitos Humanos no valor de 50 mil dólares canadenses pelo que a acusadora classificou de “imensa ofensa à minha dignidade”.  A mulher trans preferiu não se identificar no processo porque está procurando emprego com a identidade feminina. Quem tem falado por ela com a imprensa é a advogada Megan Evans Maxwell, conhecida ativista pelos direitos da população LGBT e também das mulheres – e aqui fica uma outra questão para debater mais adiante.

Jason Carruthers, o dono da clínica de depilação feminina, explicou que a cliente queria uma “brazilian wax”, tecnicamente a depilação na virilha e em toda a região pubiana. Falou primeiro com a atendente, dizendo que era uma mulher transgênero e recebeu a resposta de que não havia atendentes masculinos, então pediu para falar com o dono.

O empresário relata ao jornal canadense Windsor Star que ligou de volta, no mesmo dia 17 de março, e esclareceu que a única funcionária que está preparada para depilar homens estava de licença por motivo de saúde, a que estava de plantão é muçulmana praticante e não toca corpos de homens que não sejam da sua família.

Na reclamação de violação de direitos humanos feita ao Tribunal de Ontário, a cliente trans alega que pediu uma depilação na perna e o atendimento foi negado por sua condição sexual. Em entrevista à Rádio iHeart AM 800, o advogado de Carruthers, Raymond Colautti, garante que não: “O problema é que não havia ali nenhum funcionário treinado para realizar os serviços que esta pessoa estava pedindo e isso foi explicado a ela com detalhes”.

Segundo a CTV News, a petição da mulher trans ao Tribunal de Ontário diz que “a recusa em prover os serviços de depilação da perna porque eu sou uma mulher transgênero e a revelação do meu nome, gênero, identidade e informações pessoais a vários órgãos de mídia me fez sentir ameaçada, exposta, com meus direitos violados em termos de procurar trabalho como uma mulher na comunidade de Windsor-Essex”.

Já o dono da clínica de depilação diz ao jornal Windsor Star que só foi à imprensa depois que vazou na internet um vídeo que manchava a reputação de sua empresa dizendo que se recusava a atender mulheres trans.

O debate dos tribunais será clínica x cliente mulher trans, mas o que mais interessa à sociedade talvez seja outro debate: as mulheres que trabalham em clínicas de depilação para mulheres são obrigadas a aceitar lidar com genitália masculina se a pessoa diz ser mulher?

É uma preocupação que consta da declaração pública do empresário, que é empregador: “Nós também apoiamos nossos funcionários e respeitamos suas crenças religiosas e sentimentos de segurança e dignidade com relação ao direito de realizar sessões de depilação em homens e genitais masculinos”.

A advogada da mulher trans é uma conhecida ativista feminista, fica aí uma boa questão. Outra, que não me sai da cabeça é: por que não marcou a depilação para o dia em que a outra depiladora, a que atende genitália masculina, estivesse no plantão?

O processo vai ter um encontro inicial, com mediadores, para conciliação das partes. Só prossegue caso não cheguem a nenhum tipo de acordo.

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