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EXCLUSIVO – O desabafo de Osmar Serraglio: “Eu podia ser ministro hoje, numa boa, não aceitei. Eles que se virem.”
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Em um misto de entrevista com desabafo, o ministro da Justiça derrubado pela Operação Carne Fraca explica por que continua apoiando o governo Temer, mas não economiza palavras para condenar os feitos das pessoas com quem convivia de perto. Contou os detalhes do inquérito da Polícia Federal, deixou perguntas soltas no ar, disse coisas que estavam guardadas até agora, mostrou que se segurou na fé e, sobretudo, cobrou um desfecho para as acusações que sofreu.

Trombei com Osmar Serraglio por acaso, no corredor das Comissões na Câmara dos Deputados. Entrevistado antigo, relator mão-firme da CPI dos Correios, a mais efetiva na época do escândalo do mensalão, respondeu ao pedido de entrevista com uma pergunta: “Mas você vai me perguntar de quê?”. Arrisquei um: “De tudo, ué, do tsunami todo”. Ele riu e topou. O resultado está nesse vídeo, é só dar o play:

A relação entre Osmar Serraglio e Michel Temer é muito antiga, vem da década de 80 e de longe da política: foi o atual presidente, professor de Direito Constitucional, quem conduziu o deputado pelo mestrado que o levaria a uma vida acadêmica de sucesso na PUC-SP, onde foi professor.

O conhecimento acadêmico e a firmeza do deputado garantiram resultados históricos no escândalo do Mensalão e esperava-se que o nome fosse uma espécie de esteio moral do governo que sucedia o impeachment assim que anunciado para o Ministério da Justiça. Foi o oposto, uma tempestade. Ainda assim, Serraglio continua apoiando o governo.

Nós estamos com um navio em alto mar, o porto está ali à frente, não dá para você ali agora tirar, deixar sem condutor, sem nada e ver o que vai acontecer. Nós temos de chegar no porto ali à frente, que são as eleições.

O navio que nos leva ao porto está sujo. Sobram acusações e não são apenas palavras ao vento, há o histórico vídeo do suplente de Osmar Serraglio, outro ex-habitante do planalto, Rodrigo Rocha Loures, dando a constrangedora corridinha com a mala cheia de dinheiro.

Eu coloquei ele em risco, eu voltei. Porque ele era meu substituto, me ofereceram o Ministério da Transparência… Eu podia ser ministro hoje, numa boa, não aceitei. Eles que se virem, cada um responda pelo que fez.

É assim que o deputado diz que não aceitou o conforto de um Ministério em troca de dar o foro privilegiado a Rocha Loures.

Operação Carne Fraca: “Quem vai passar vergonha não sou eu”

O maior efetivo já envolvido em uma única operação da Polícia Federal. A gente adiando churrasco, memes com churrasco de papelão por todo o país, grupos de mães no whatsapp misturando pânico com dicas culinárias. Vocês lembram? Bom, o dia de Osmar Serraglio foi bem mais complicado.

Você trabalha a vida inteira para construir um nome, aí de repente fazem um aparato… Colocaram todo o sistema produtivo em risco. Até hoje tem situação que não foi recuperada na exportação. Tá errado, puna, mas não comprometa todo mundo.

 

O deputado cobra um desfecho para as acusações que pesam sobre ele, até agora sem uma palavra final por parte da Justiça.

Houve todo aquele escândalo. Até agora, o que que mostraram? O que tem de concreto, de efetivo?

Apeado do Ministério da Justiça, ele virou assunto preferido da gente, os jornalistas, por um tempo, depois voltou à função parlamentar, teve seus atritos com o governo, pragmaticamente decidiu não oferecer obstáculos até o final, mas votou a favor do impeachment de Temer quando teve a oportunidade. Tudo isso já aconteceu, mas Osmar Serraglio ainda não foi chamado a depor sobre o caso em que é acusado.

É bom que vocês saibam, vocês que estão vendo a gente: eu nunca fui à Polícia Federal. Com tudo o que eles fizeram… Jogaram meu nome na lama, eles que investiguem e me digam o que eu tenho.

A acusação concreta é que o deputado teria recebido propina para impedir o fechamento de um frigorífico com produtos irregulares, em conluio com um chefe de fiscalização indicado por ele.

Eu, Osmar Serraglio, iria me curvar a R$ 10 mil de propina? Com tudo o que eu já enfrentei, com todas as pressões que eu já sofri na vida?

O deputado argumenta que o chefe da fiscalização foi indicado por toda a bancada, permaneceu no posto durante a gestão de vários ministros diferentes e era elogiado. O telefonema a Daniel, fato que envolve Serraglio nas investigações, seria para perguntar qual o procedimento para fechamento de um frigorífico: o prefeito da cidade onde ocorria a fiscalização disse que estava tudo sendo feito às pressas, sem nenhuma notificação prévia.

O grosso da Carne Fraca foi lá em Goiás e Minas Gerais onde envolvia a JBS, firmas grandes. Aí fica em cima do cara lá do Paraná por quê? Porque tinha o ministro da Justiça. Enquanto tinha o ministro da Justiça, todo mundo descendo a lenha. Cadê? Cadê? Eu estou esperando.

Osmar Serraglio também desabafa sobre a gravação de suas ligações telefônicas.

Eu nunca falei isso, vou falar… É crime, é crime você pegar o telefonema de um deputado e botar no processo. Eles cometeram esse crime contra mim. Eu podia processar e eu não fiz nada disso. Porque, quando tem um deputado, eles têm que mandar para a Procuradoria.

O deputado encerra lançando um desafio aos seus acusadores:

Tudo isso eles fizeram, tudo bem. Mas, eu sempre falo, a verdade vencerá. Tá lá na Bíblia. Quem vai passar vergonha não sou eu.

 

As eleições no Paraná

Olavo Soares, que também participou comigo da entrevista, resolveu perguntar sobre as eleições no Paraná. Para o deputado, tudo depende do governador.

A eleição do Paraná passa pela decisão do senhor governador de Estado Beto Richa. Se ele continuar, o rumo é um, se ele sair, o rumo é outro. E nós não temos essa definição.

Se havia especulações sobre o tema, Serraglio confirma: caso Requião sacramente a coligação com o PT, ele sai do partido.

Eu trabalhei a vida inteira aqui apontando corrupção do PT, é só observar. O meu partido está indicando no Paraná que vai se coligar com o PT: tô fora. Para onde eu vou, eu ainda não sei, mas em março eu vou decidir. Mas certamente eu não vou ficar no PMDB se o PMDB se coligar ao PT.

Osmar Serraglio pretende sair mais uma vez candidato a deputado federal pelo Paraná.

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