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EXCLUSIVO: Se servimos para apoiar, também merecermos ser apoiados, diz presidente do PDT sobre relação com o PT
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A recente declaração do ex-governador Jaques Wagner de que o PT poderia “ceder a precedência” na eleição presidencial de 2018 sacudiu o ambiente político. Mesmo com Wagner – apresentado como um dos planos B do PT – posteriormente reafirmando seu apoio à indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo partido, a hipótese de o PT nomear o candidato a vice na chapa encabeçada por Ciro Gomes (PDT) saiu reforçada.

O blog A Protagonista conversou com o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, para ver como o partido recebeu as declarações de Wagner. Ele chamou o ex-governador de “antigo amigo”, reiterou que o PDT presta apoio ao PT no governo de quatro estados (Acre, Ceará, Bahia e Piauí) mas disse que é possível que os pedetistas peçam manifestações de reciprocidade: “é natural que chegue uma hora em que eles achem que podem nos apoiar. Também merecemos ser apoiados”.

Lupi também descartou a possibilidade de ser candidato a vice-governador do Rio em parceria com Eduardo Paes (DEM) – hipótese que foi aventada pelo deputado estadual André Corrêa (DEM-RJ). “O PDT terá candidato ao governo do Rio”, disse Lupi, que adiantou que não disputará as eleições deste ano.

Confira abaixo a entrevista de Carlos Lupi, que foi ministro do Trabalho nos governos Lula e Dilma Rousseff, ao blog A Protagonista.

Qual a análise que o senhor faz hoje do panorama para a disputa presidencial?
Eu vejo um quadro muito parecido com 1989. Com uma diferença fundamental – em 1989 não tinha eleição para deputado e governador, era só presidente. É parecido pela pluralidade de candidatos – temos 12, 15 candidaturas a presidente – e pelo fato de ser uma eleição após fatos que marcaram o Brasil. Em 1989 foi logo após a ditadura, e agora após mensalão e Lava Jato, coisas que mexem e continuam mexendo com o inconsciente coletivo da sociedade. Eu penso que vai ser uma eleição em que quem conseguir 15%, 16%, 17% estará no segundo turno – como aconteceu com o Lula em 1989.

Como o senhor avalia as perspectivas para o PDT e a candidatura de Ciro Gomes?
Nós estamos já há dois anos nesse projeto com ele, andando o Brasil todo. Ele tem viajado muito, feito muitos encontros. Acho que o Ciro tem um projeto claro, ligado à história do nosso partido, que é um projeto nacional-desenvolvimentista, que busca um Estado eficiente e que privilegie o capital produtivo em vez do capital especulativo.

Como o senhor recebeu a declaração do ex-governador Jaques Wagner, que disse que o PT poderia ceder a cabeça de chapa nas eleições desse ano?
Jaques Wagner é um antigo amigo. A gente tem, desde a primeira eleição dele ao governo do estado da Bahia, o apoiado. Hoje, dos cinco governos de estado comandados pelo PT, em quatro nós apoiamos – o Rui [Costa], sucessor do Wagner na Bahia, o Wellington Dias no Piauí, o Camilo [Santana] no Ceará e os irmãos Viana no Acre. O único em que ainda não definimos foi Minas Gerais. Então é natural que chegue uma hora em que eles achem que podem nos apoiar, porque a gente não pode só servir para apoiar, a gente também tem que… se somos aliados, se temos o respeito de reciprocidade, também merecemos ser apoiados.

Como o senhor avalia o diálogo do PDT com outras forças de esquerda, como o PSOL e o PCdoB? O ex-ministro Joaquim Barbosa, do PSB, também poderia estar nessa mesa?
Primeiro a gente tem que saber o que o Joaquim pensa. Para mim, o ele ainda é uma incógnita. Em algumas atuações como ministro do Supremo ele votou com a centro-esquerda, mas em outras com os conservadores, de centro-direita. Então, eu não sei o que ele pensa da política, porque eu não tive a oportunidade de ouvi-lo, de ver uma entrevista sobre as ideias dele. Em relação aos outros partidos, eu estou participando de todos os encontros, fiz o manifesto, escrevemos artigos sobre isso. Respeitando cada um, dentro do seu partido, nas suas candidaturas no primeiro turno. Mas, com certeza, estaremos juntos no segundo turno em cima de um programa. É mais ou menos o que está se desenhando.

Qual a opinião do senhor sobre a prisão do ex-presidente Lula?
Vejo que houve muitos abusos nesse processo. Um princípio fundamental do direito é que todo mundo é inocente até que se prove algo em contrário. Eu me dei ao trabalho de ler as 226 folhas do processo do triplex. Prova cabal, concreta, não existe nenhuma. Existem fotos, depoimentos, fotos com a Dona Marisa visitando, uma ou duas fotos dele [Lula], alguns afirmando isso e aquilo… agora, não tem documento, não tem uma certidão, não tem uma comprovação da posse do imóvel. Acho que foi um julgamento muito mais político do que jurídico. Por isso gera essa parcela considerável da sociedade com revolta e com isso o Lula se mantém com uma aceitação muito forte, e a população não se convence que essa condenação seja baseada em fatos reais.

O deputado estadual André Corrêa (DEM-RJ) disse que o senhor poderia ser candidato a vice-governador do Rio de Janeiro na chapa do Eduardo Paes (DEM). Como o senhor viu essa opinião?
Eu agradeço a referência, mas o PDT do Rio vai lançar candidatura própria. No próximo dia 8, nós vamos fazer o pré-lançamento para o governo do deputado estadual Pedro Fernandes. É um deputado de 34 anos, jovem, que já foi secretário municipal, secretário de estado, tem experiência em Executivo, é um cara que fez curso em Harvard, tem uma formação muito boa e, como nós queremos trabalhar muito a renovação do partido, ele é um nome que nós vamos apostar para o governo do estado.

O senhor planeja disputar as eleições de 2018?
Não. Meu projeto é só presidir o partido. Mais nada.

Em relação às eleições para o governo do Distrito Federal: o PDT continua insistindo na candidatura do deputado distrital Joe Valle?
Continuamos. Eu tenho conversado com ele toda semana. Ele está muito em dúvida ainda, por causa da pressão familiar. A gente continua insistindo para que ele seja a grande novidade para o governo. É alguém com experiência, com imagem positiva junto à população, e é um político sem mácula. Isso pode transformá-lo em uma candidatura viável e vitoriosa.

Como o senhor avalia as chances da senadora Kátia Abreu na disputa para o governo do Tocantins? O PDT conta com o apoio do PT no estado? [Nota: o PT de Tocantins disse que gostaria de apoiar o PSB, mas a Direção Nacional do partido interveio para que houvesse o apoio a Kátia Abreu]
Isso depende do PT. Como o PT tem conflitos internos “grandiosos”, temos que aguardar a definição deles. A Kátia é nossa candidata e será governadora nesse período curto, e logo depois candidata à reeleição [o Tocantins elegerá em junho governador e vice para um mandato-tampão, vigente apenas até o fim do ano; em outubro, o estado fará a eleição convencional]. A Kátia tem um simbolismo de quem trabalha na área produtiva, com experiência nessa área, e muita sensibilidade social.

Quais são as metas do partido para a eleição de deputados federais e senadores agora em 2018?
Acho que nós vamos fazer se não a maior, a segunda maior bancada da nossa história. Em 1990, quando o [Leonel] Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro, nós fizemos 46 deputados federais – eu fui um desses. Mas desses, 21, quase a metade, era do Rio. Nós tínhamos Rio, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e um ou dois estados do Nordeste com representação. Hoje o partido está nacionalizado. É bem provável que a gente tenha representação nos 27 estados. Acredito que tenhamos uma bancada que vá variar entre 35 e 45 deputados federais. A candidatura Ciro pode ajudar muito. Já para o senado, nossa meta é fazer cinco ou seis senadores.

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