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Alan Ghani

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Estados Unidos

100 dias Trump: um balanço de erros e acertos na economia

(Foto: Chris Kleponis/EFE/EPA/POOL)

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Nesta semana, Trump completou 100 dias na presidência dos EUA. Por enquanto, seu governo foi marcado por uma série de medidas econômicas, como protecionismo comercial, cortes de impostos, desregulamentação e redução do tamanho do governo federal. Com exceção da política tarifária, Trump mais acerta do que erra.

O primeiro acerto foi reconhecer que os EUA têm um problema fiscal a ser resolvido. O modelo econômico americano, caracterizado por elevados gastos de consumidores, família e governo, superiores ao que a economia produz, é insustentável no longo prazo. 

Essa conta só fecha porque o mundo financia os EUA, comprando títulos da dívida norte-americana. O problema é que chegará num ponto no qual essa dívida se torna impagável.

Com essa possibilidade, Trump propõe corretamente um ajuste nas contas do governo. Para isso, criou um departamento chefiado por Elon Musk para reduzir o tamanho do Estado norte-americano. ​

Uma das primeiras medidas adotadas foram demissões de funcionários e corte de recursos de uma série de agências governamentais, entre elas a USAID.

O motivo para os cortes é que parte do dinheiro não era utilizada para ajuda humanitária, mas para promover agendas ideológicas de esquerda ou fabricar narrativas geopolíticas favoráveis ao deep state norte-americano, como o endossamento das Revoluções Coloridas mundo afora.

Na esteira da eficiência governamental, Trump também corta gastos para a agenda climática do aquecimento global. Não se trata de não valorizar o meio ambiente, mas reconhecer que a enxurrada de dinheiro para a energia sustentável não torna o mundo real menos dependente de combustíveis fósseis. Apenas enriquece ONGs e burocratas, sem de fato trazer eficiência energética a preços competitivos, beneficiando empresas e consumidores.

Além dos cortes para a agenda climática, o governo Trump reduz verbas para a OTAN, obrigando outros países também a pagarem pela sua defesa. De fato, os EUA não têm nenhuma obrigação em defender outras nações, como também não devem ser a polícia do mundo, por vezes causando guerras evitáveis e desnecessárias.

A redução do tamanho do Estado também vem acompanhada de propostas de diminuição de impostos. A ideia é tornar a economia mais produtiva, e até eventualmente aumentar a arrecadação do governo com o aquecimento da atividade econômica, a despeito da menor alíquota de imposto, seguindo a lógica da curva de Laffer.

Protecionismo

Mas nem tudo é liberalismo econômico no governo Trump. Em 2 de abril, Trump aumentou tarifas protecionistas contra a maior parte de países do mundo. A medida visa à reindustrialização dos EUA e à melhora do déficit em transações correntes, conforme explicado em artigo.

Trump acerta no diagnóstico, mas erra no remédio. De fato, os EUA têm uma cadeia produtiva hoje mais dependente da China, o que pode ser um problema em casos de guerra ou pandemia, principalmente para bens essenciais.

Além disso, o modelo americano de alto endividamento, evidenciado pelo elevado déficit em transações correntes, é insustentável no longo prazo. É impossível um país sistematicamente gastar mais do que produz. 

No entanto, o aumento de tarifas não significa nem reindustrializar os EUA, tampouco melhorar o déficit em transações correntes

Primeiro, porque não é simples trazer indústrias de volta para o seu país. As indústrias americanas foram fabricar bens para a China porque a mão de obra lá é muito barata. Além disso, há uma quantidade muito grande de técnicos, conforme destacou o próprio presidente da Apple, que admitiu não conseguir produzir iPhones nos EUA pela falta de engenheiros. 

Tanto engenheiros quanto mão de obra barata nada têm a ver com protecionismo tarifário. Em outras palavras, a empresa norte-americana não vai voltar para os EUA somente porque aumentou o protecionismo, pois outras variáveis que afetam sua operação. 

Outro problema é que as tarifas protecionistas não vão resolver o déficit em transações correntes dos EUA. Pelo contrário, outros países também retaliaram, aumentando suas tarifas de importação para os americanos, o que significa perda de receita de exportação para os EUA. 

Apesar do ganho da tarifa, o governo americano perde no volume de bens exportados para outros países, não resolvendo o déficit comercial. Tanto é verdade que, em 15 dias, as tarifas geraram uma receita de 500 milhões de dólares (12 bilhões no ano), um naco perto do déficit em transações correntes americano. 

Outro ponto também é que as tarifas protecionistas elevariam o preço das mercadorias nos EUA, aumentando o custo de vida para o americano médio. Iria encarecer o processo de produção de empresas dentro dos EUA, principalmente aqueles que importam matérias-primas ou insumos de outros países, como firmas de tecnologia e farmacêuticas. Em resumo, as tarifas protecionistas trariam mais inflação e redução da atividade econômica. 

Não à toa, Ronald Reagan, ex-presidente e ídolo da direita norte-americana, pontua corretamente que, se você quiser enfraquecer a economia de um país, coloque barreiras protecionistas. 

Segundo ele, o protecionismo, além de gerar mais inflação, vai tornar a indústria nacional menos produtiva e com menos capacidade de inovação, ao ficar mais dependente de subsídios do governo. O protecionismo para Reagan e para vários economistas, inclusive, está ligado à crise de 1929 nos EUA.

Assim, o único remédio para combater o diagnóstico correto que Trump faz da insustentabilidade da dívida americana é o corte de gastos governamentais. Trump faz isso acertadamente em outras áreas. Só deveria esquecer o protecionismo tarifário para os próximos 1360 dias de governo. 

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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