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Alan Ghani

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Crise comercial

Tarifas de Trump: o Brasil está pronto para enfrentar as consequências?

Com o tarifaço de Trump, o Brasil pode ser visto como um “inimigo dos EUA”, o que gera insegurança jurídica e afasta investidores. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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No dia 1º de agosto passam a valer as novas tarifas de importação dos EUA para os produtos brasileiros. As consequências econômicas para o Brasil serão negativas, tanto em termos de comércio exterior quanto de investimentos.

Os EUA representam 10% do total das exportações brasileiras, o que equivale a 2% do PIB. Com a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, alguns setores serão fortemente atingidos, como os de petroquímica, fabricação de aeronaves e agronegócio.

De acordo com alguns bancos de investimentos, a tarifa poderá reduzir o PIB em 0,4 p.p. Para a população, significa perda de emprego e renda.

Além da perda comercial, podemos também ser atingidos pela perda de investimentos. Com as tarifas, e as justificativas dadas por Trump, o Brasil pode ser visto como um “inimigo dos EUA”, o que gera insegurança jurídica e afasta investimentos. No caso brasileiro, esse risco é relevante, pois o EUA é o país que mais investe no Brasil, além de ser o segundo parceiro comercial. 

Essas consequências seriam somente pelas alíquotas de 50% impostas pelos EUA, sem considerar o efeito das tarifas recíprocas. Caso o Brasil opte por esse caminho, os efeitos podem ser piores.

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Caso o governo brasileiro taxe as importações americanas em 50%, certamente haverá um aumento da inflação no país decorrente de dois efeitos

O primeiro é o fato de várias empresas brasileiras comprarem máquinas, equipamentos, tecnologia e insumos dos EUA. A elevação dos custos industriais será repassada ao longo da cadeia produtiva, trazendo elevação de preços para o consumidor final.

O segundo é que a reciprocidade poderia elevar ainda mais a cotação do dólar (já em curso), por conta do aumento do risco. A elevação da moeda norte-americana também traz elevações de custos para as empresas, pois diversas commodities, insumos, matérias-primas e bens de capital são cotados em dólar. Novamente, com o encarecimento do processo produtivo, haverá repasse de preços para o consumidor brasileiro.

Tal situação se torna ainda mais delicada, pois já estamos num processo inflacionário desde a pandemia. A alta dos preços, num custo de vida já muito elevado para o brasileiro, significará diminuição da renda real e perda do poder de compra da classe média e dos mais pobres.

Com os prováveis impactos da escalada comercial – inflação e desemprego -, é crucial que o governo brasileiro faça um bom diagnóstico das causas que levaram a essa situação a fim de contornar e evitar futuros problemas com o nosso principal investidor e o segundo maior parceiro comercial.

É claro que algumas exigências feitas por Trump, como a anulação do processo contra Bolsonaro, não dependem de decisões de Lula, mas do STF. Entretanto, reaproximar o Brasil dos EUA, sem proselitismo ideológico de esquerda na reunião dos Brics, bravatas geopolíticas em favor da China, e provocações gratuitas contra os EUA para substituir o dólar nas transações econômico-financeiras são de responsabilidade exclusivamente do governo federal.

Ainda há tempo para evitar inflação e desemprego para a população brasileira. 

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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