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Ministro Joaquim Barbosa preside sessão extraordinária do STF. Foto:Nelson Jr./SCO/STF (01/07/2014)
Ministro Joaquim Barbosa preside sessão extraordinária do STF. Foto:Nelson Jr./SCO/STF (01/07/2014)| Foto:

“Quase todo mal deste mundo é causado por gente bem intencionada.”

T. S. Eliot

Logo na primeira entrevista como potencial candidato à sucessão de Michel Temer, Joaquim Barbosa puxou o cartão racial: “o Brasil está preparado para ter um presidente negro?”

A declaração infeliz gerou reações nas redes sociais como a do professor Paulo Cruz, um dos mais lúcidos críticos do país em relação ao aparelhamento ideológico dos movimentos que combatem o racismo: “antes os negros escondiam sua cor por causa do preconceito; hoje, escondem o preconceito por causa de sua cor.”

Vale lembrar que duas semanas antes da entrevista à Folha de S. Paulo , Joaquim Barbosa estava sendo homenageado numa cerimônia no STF quando foi chamado de “negro de primeira linha” pelo ministro Luís Roberto Barroso, uma gafe inacreditável que só foi tolerada por conta do duplo padrão moral com que os “progressistas” tratam os seus.

Segundo a última pesquisa Datafolha divulgada, Joaquim Barbosa oscila próximo dos 10% de preferência do eleitorado, resultado levemente inferior aos de Lula, Bolsonaro e Marina Silva. Como pesquisa mais de um ano antes da eleição é tão útil quanto mapa astral para prever o resultado das urnas, sigamos.

A lamentável declaração do ex-ministro serviu para que o país relembrasse Nilo Peçanha, ex-senador e ex-governador do Rio de Janeiro que liderou o país por 16 meses após a morte de Afonso Pena e é considerado pelo Museu Afro Brasil como o primeiro presidente negro do país. O município de Nilópolis, na região metropolitana do Rio, foi batizado em sua homenagem.

Se Nilo Peçanha é pouco conhecido entre os políticos e aspirantes a cargos públicos do país, ainda mais grave é a total ignorância sobre quem foi Campos Sales, presidente que herdou uma das maiores crises econômicas que se tem notícia e recolocou o país na rota do crescimento usando a única fórmula que realmente funciona nestes momentos: austeridade e responsabilidade fiscal.

Paulista de Campinas, o advogado e ex-governador Manuel Ferraz de Campos Sales foi eleito com 91,5% dos votos em 1898, governando até 1902 quando fez seu sucessor, Rodrigues Alves. É provavelmente o presidente mais conservador em termos econômicos que já tivemos, o que explica em parte porque seu admirável sucesso é negligenciado ou relativizado nos livros didáticos e pelos políticos até hoje.

Sales recebeu o país após a série de barbeiragens econômicas que ficaram conhecidas como a crise do Encilhamento, uma bolha de crédito que gerou uma espiral inflacionária espantosa até para os padrões brasileiros. A comédia de erros teve como principal responsável Ruy Barbosa, o mítico advogado e diplomata baiano que ocupou o Ministério da Fazenda entre 1889 e 1891.

“Entendi dever consagrar o meu governo a uma obra puramente de administração, separando-o dos interesses e paixões partidárias, para só cuidar da solução dos complicados problemas que constituem o legado de um longo passado. Compreendi que não seria através da vivacidade incandescente das lutas políticas, aliás sem objetivo, que eu chegaria a salvar os créditos da nação, comprometidos em uma concordata com os credores externos!

Campos Sales

O quarto presidente brasileiro foi inegavelmente um estadista. Afastou seu governo da guerra política buscando montar um ministério técnico em nome de uma administração austera e verdadeiramente comprometida com a resolução da crise que destruiu o valor da moeda e instalou o caos na economia do país.

Curiosamente, Campos Sales dizia se inspirar no presidente americano Benjamin Harrison, um dos menos populares entre todos os ex-ocupantes da Casa Branca exatamente pelo intervencionismo que levou ao “Pânico de 1893”, uma das mais sérias crises da economia dos EUA. Harrison conquistou a presidência na eleição de 1888 perdendo no voto popular contra Grover Cleveland, que foi seu antecessor e sucessor e o único presidente americano a ter dois mandatos não consecutivos.

Assim que assumiu, Campos Sales foi a Londres negociar pessoalmente a dívida externa brasileira, conseguindo um acordo que suspendeu seu pagamento por treze anos e ainda conquistando um novo empréstimo de 10 milhões de libras. Uma vitória notável para o representante de um país com a economia em frangalhos.

No acordo firmado com os banqueiros britânicos, Sales se comprometeu a cortar a farra de emissão de moeda, combater a inflação, estabilizar a economia, reduzir gastos públicos, o que evidentemente, num país sério, não precisaria ser exigido por uma potência externa. Deu certo.

A despeito do que dizem os militantes marxistas que escrevem os livros de história adotados pelo MEC, Campos Sales deveria ser reverenciado como o mais competente e austero administrador do país, um presidente que emergiu em meio a uma crise de proporções bíblicas para liderar o processo de saneamentos das contas públicas, da luta contra a hiperinflação e da volta da normalidade econômica.

É lamentável que um pré-candidato relevante como Joaquim Barbosa tenha esquecido de Nilo Peçanha, mas enquanto os políticos brasileiros continuarem ignorando as lições do governo Campos Sales de nada adianta discutir nomes para administrar o país na maior recessão de todos os tempos.

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