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Que tiro foi esse, McCartney?
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Antes que comece a gritaria, desde minhas lembranças mais remotas ouço e sou fã daqueles quatro rapazes de Liverpool. O mundo é melhor porque os Beatles existiram, não apenas pelas músicas mas por mensagens anárquicas e também anti-revolucionárias (mais gritaria), como a letra mais politicamente engajada da banda: “Revolution” (1968). Sigamos.

Sir James Paul McCartney, hoje um vetusto avô de 75 anos, cinco filhos e oito netos, tem o hábito de se envolver em temas políticos inofensivos como seu veganismo (ou vegetarianismo, sabe-se lá) de butique, seus libelos pela paz mundial entre outras frivolidades que pegam bem entre seus amigos endinheirados do grand monde. Até aí, nada demais.

O gênio por trás de Eleanor Rigby dificilmente seria lembrado pelo apoio a causas até que, no último sábado, Paul McCartney usou o cadáver o ex-companheiro John Winston Lennon para vender sua agenda suicida de segurança pública que tenta rasgar a Constituição americana e desarmar a população que insiste em criar dificuldades para criminosos que apenas sonham em distribuir renda e socializar a propriedade alheia. O assassino de Lennon também agradece.

O crime hediondo e covarde que vitimou o mais cerebral dos Beatles ocorreu em 8 de dezembro de 1980 quando Mark David Chapman, por volta das 22h e cinco horas depois de tirar uma foto e pegar um autógrafo do ídolo, disparou cinco tiros pelas costas de John Lennon (quatro acertaram o alvo). Lennon morreu na hora, sem qualquer chance de defesa.

Paul McCartney não era “amigo” de Lennon, ao menos em momentos críticos da vida de ambos. Foram exatamente seus desentendimentos entre 1968 e 1970 que terminaram com a mais famosa banda pop de todos os tempos. Depois do fim dos Beatles, continuaram trocando farpas em entrevistas e até em letras de músicas, como em “How Do You Sleep?” do álbum “Imagine”, de 1971, quando Lennon disse “Those freaks was right when they said you was dead.” George Harrison tocou guitarra na faixa, mostrando de que lado estava.

Em vez de usar sua fama e fortuna para empurrar causas equivocadas, crime agravado pelo uso do nome de Lennon, McCartney faria um favor a si e ao mundo se fosse se informar melhor sobre segurança pública e como as armas legais e uma legislação penal que não sirva como proteção para a bandidagem contribuem para a diminuição da criminalidade no país que seu falecido ex-companheiro e desafeto escolheu para viver.

O Brasil pode ajudar e muito na luta para jogar um pouco de luz na questão levantada por McCartney ao dizer que havia perdido o “amigo” para as “armas”, uma idéia absurda que dissocia o criminoso do crime e ainda facilita o trabalho dos próximos homicidas em busca de potenciais vítimas desarmadas e indefesas. Sei que o vovô de Liverpool não lerá este texto, mas que seus fãs no mundo possam ao menos separar o músico brilhante do ativista idiota.

Imagine que Mark Chapman, assassino confesso de Lennon, fosse Marcos Chaves e tivesse matado o ídolo pop João Leite nas ruas do Leblon. Nos EUA, o criminoso da vida real pegou prisão perpétua e, desde então, já teve diversos pedidos de perdão e relaxamento da pena negados pela justiça. Vai morrer na cadeia, um bem para o planeta muito maior do que as causas ambientalistas de McCartney. Já a história de Marcos Chaves seria bem diferente.

Preso em flagrante após cometer o assassinato do astro brasileiro, Marcos, réu primário como Mark Chapman, seria condenado provavelmente a 15 anos de prisão. Com a progressão de pena prevista na Lei de Execução Penal vigente nos anos 80, cumpriria 2 anos e meio em regime fechado e já seria elegível ao semi-aberto, quando o condenado passa o dia na rua, pode trabalhar, e só volta para dormir na cadeia. Em 1983, já estaria na rua. Chapman chegou a alegar que “ouvia vozes”, mas sua doença mental nunca foi comprovada. Charles Manson, outro monstro que cometeu vários crimes indescritíveis, como o assassinato da atriz Sharon Tate, grávida de oito meses de Roman Polansky, também pegou prisão perpétua e ficou preso até sua morte em novembro do ano passado. Manson dizia que seus crimes foram motivados por mensagens que ouvia em Helter Skelter, sucesso dos Beatles composto por Paul McCartney.

A lei brasileira, como é hoje, faria Marcos cumprir 2/5 da pena pela morte de João Leite em regime fechado, ou seis anos, ainda menos que a metade dos 15 anos que seria provavelmente condenado. Mesmo matando um inocente a sangue frio, sem possibilidade de defesa, por motivo fútil e pelas costas, Marcos estaria de volta às ruas em 2024. Parece pouco, e é.

Se a lei americana fosse igual, Mark Chapman estaria passeando pelas ruas de Nova Iorque há mais de 30 anos como se nada tivesse acontecido, mas como esses ianques são atrasados e não entendem nada de segurança pública, o assassino pegou prisão perpétua e só sairá da cadeia numa caixa de madeira do mesmo tipo que ele próprio condenou John Lennon a morar, neste caso num rito sumário e sem direito de defesa.

Celebridades pop costumam ser tão alienadas, politicamente ignorantes e ideologicamente tortas no primeiro mundo quanto aqui, como a passeata contra a “violência das armas” do último sábado mostrou. Inaceitável, imoral e indigno é usar a morte de um desafeto, ídolo tão ou mais relevante que o próprio McCartney para a música e a cultura do séc. XX, para avançar uma agenda que levaria a mais mortes como de Lennon.

No Brasil, um dos crimes mais conhecidos envolvendo celebridades foi o assassinato da atriz Daniella Perez em 1992, morta a punhaladas (sim, nada de armas) pelo ator Guilherme de Pádua e sua ex-esposa Paula Thomaz. Ambos foram condenados a 19 anos de prisão, ficaram presos apenas sete e em 1999 já estavam prontos para assombrar as ruas novamente, enquanto a vítima, morta aos 22 anos de idade, foi condenada para sempre. Guilherme hoje é pastor evangélico e está no terceiro casamento. Paula, agora Peixoto, está num novo relacionamento, tem três filhos e trabalha como advogada. Vida que segue, ao menos para ambos.

Basta imaginar (com trocadilho) a contribuição de Mark Chapman passeando pelas ruas dos EUA e rindo do cadáver de John Lennon para perceber o absurdo das idéias da esquerda para a segurança pública que ainda encontram resistências por lá mas que no Brasil puderam não só infectar as leis como dar metástase e criar o ambiente para mais de 60 mil homicídios por ano. Alguém precisa gritar “Help!”

Fim da impunidade, redução da maioridade penal, polícia mais aparelhada, treinada e apoiada pelo poder público e pela população, leis que realmente condenem bandidos, menos possibilidades de recursos protelatórios para prisão, armas legalizadas nas mãos de cidadãos sem antecedentes criminais e devidamente habilitados para o uso, não eliminam a criminalidade, mas reduzem bastante.

Se cada vida vale, qualquer uma, esqueça as bobagens ditas por celebridades, jornalistas engajados, militantes autoritários e políticos oportunistas. Lute pela sua segurança e do país sem bordões, palavras de ordem ou músicas de protesto, mas com inteligência e soluções comprovadas e eficazes, que salvam vidas aqui e no mundo. The End.

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