Uma investigação feita pelos jornalistas independentes David Ágape e Eli Vieira e publicada pelo jornalista americano Michael Shellenberger, denominada "Vazatoga 2", veio à tona na última segunda-feira, 4 de agosto de 2025, um dia após manifestações por todo o país. A denúncia aponta para uma suposta operação orquestrada por funcionários do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF), sob a coordenação do ministro Alexandre de Moraes, com o objetivo de perseguir e incriminar opositores do atual governo e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, além de justificar prisões de manifestantes.
A apuração levanta sérias questões sobre a conduta das mais altas instâncias judiciárias do país por, entre outras coisas, prática da chamada "Fishing Expedition" (pesca probatória). Funcionários do TSE teriam vasculhado redes sociais e conversas privadas em grupos de WhatsApp e Telegram de cerca de 2.000 pessoas presas em frente ao quartel do exército em Brasília, no dia seguinte ao 8 de janeiro. O objetivo declarado seria encontrar qualquer postagem que pudesse servir como prova para justificar a manutenção daquelas pessoas na prisão, mesmo sem evidências de sua presença na Praça dos Três Poderes na véspera.
A "Vazatoga 2" apresenta documentos que indicam que as audiências de custódia desses presos foram mero teatro. Um print de conversa de WhatsApp obtido pelos jornalistas Eli Vieira e David Ágape mostra o juiz responsável pelas audiências de custódia supostamente se despedindo de um grupo com a mensagem: "Que nas audiências de custódia possamos dar a cada um que lhe é de direito, a prisão.", acompanhada de emojis de deboche. Na mesma conversa, Eduardo Tagliaferro (chefe da unidade especial de combate à desinformação do TSE) e outro assessor de Moraes também respondem com emojis de gargalhada e mensagens de apoio, supostamente zombando dos presos do 8 de janeiro.
Unidade de inteligência e certidões informais
A investigação também sugere que Moraes teria recrutado funcionários do STF e do TSE para operar uma espécie de "unidade de inteligência" que se comunicava via WhatsApp, contando inclusive com a participação de seus próprios juízes auxiliares.
A força-tarefa montada nos dois tribunais para perseguir pessoas de direita supostamente funcionava com base em "certidões informais" geradas a partir de meros comentários nas redes sociais. Postagens com a bandeira do Brasil ou fotos vestindo verde e amarelo, por exemplo, seriam suficientes para emitir uma "certidão positiva" contra alguém já detido e que se desejava manter na prisão. Tais certidões, segundo a denúncia, não eram compartilhadas com os advogados de defesa nem analisadas por promotores de justiça, embora a reportagem da "Vazatoga 2" traga algumas delas com o timbre do tribunal, atestando sua inclusão nos processos dos presos de 8 e 9 de janeiro.
Recrutamento externo e ordens secretas
A operação de perseguição política teria chegado a recrutar pessoas de fora da estrutura judicial, incluindo extremistas de esquerda das universidades, influenciadores digitais, militantes de Lula e o pessoal das agências de checagem. A incumbência dessas pessoas seria infiltrar-se em grupos de bate-papo privados para coletar informações e acusar indivíduos de "terrorista" ou "golpista" com base em suas opiniões políticas.
O ministro Alexandre de Moraes teria autorizado essas ações via e-mails de uma conta pessoal, evitando os canais institucionais do TSE e do STF para não deixar rastro. Qualquer mensagem que pudesse ser classificada como "antidemocrática", compartilhamento de protestos do 8 de janeiro, críticas à vitória de Lula em 2022 ou apoio a Bolsonaro, servia para justificar a manutenção da prisão pelo ministro Alexandre de Moraes. A participação em grupos de WhatsApp ou Telegram com conteúdos classificados como "desinformação" também era motivo.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) teria recomendado a libertação de várias dessas pessoas, mas o ministro Alexandre de Moraes supostamente se recusou a liberá-las antes que a força-tarefa terminasse de vasculhar as redes sociais de cada um dos presos.
A Gazeta do Povo publicou uma matéria sobre a "Vazatoga 2" e informou que solicitou um posicionamento do STF e do TSE sobre as revelações, mas não obteve resposta. Os jornalistas que divulgaram as mensagens também afirmaram ter buscado contato com os envolvidos, sem sucesso. O surgimento da "Vazatoga 2" ocorreu horas antes de Alexandre de Moraes decretar a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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