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A vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018.
A vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018.| Foto: Renan Olaz/CMRJ

Durou seis anos. Foi um longo tempo. Mais que uma daquelas novelas inacabáveis. Mas acabou. O sinal musical em italiano da Capo assinala que já estava tudo lá no começo, e basta repetir os acordes e a letra. O então ministro da Justiça Sergio Moro lembra; agora, como senador, ele posta no X. Em 2019 já apareciam o nome do mandante e o motivo. O governo da época quis terminar logo com a agonia e propôs que a Polícia Federal entrasse para concluir o inquérito. Mas a reação foi gigantesca. Acabar logo com essa campanha que tem a força dramática de um corpo de mulher assassinada? Perder um produto desses? Jamais. Não; deixem a Polícia Civil do Rio conduzir a novela, sob a batuta do delegado Rivaldo Barbosa. Nem Felix Caignet, autor de O Direito de Nascer, faria melhor.

E tudo durou seis anos, desde o assassinato, em março de 2018. Os Brazão já estavam ali, talvez até a compor um triste trocadilho como aumentativo de Brasil. Mas ficaram ocultos, porque o alvo eram os Bolsonaro. Noticiaram até que os milicianos, assassinos de Marielle, foram à casa dos Bolsonaro em condomínio na Barra da Tijuca. Por 300 semanas se insinuou nas redes sociais, na tevê e nos jornais que o sobrenome Bolsonaro bordejava o assassinato de Marielle como a faca de Adélio tangenciou o órgão vital do então candidato naquele mesmo ano de 2018. Mas não há como comparar os dois. Um brigava pelo território da zona oeste do Rio; o outro queria o território inteiro do Brasil.

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Era uma questão fundiária de Jacarepaguá e adjacências, mas a campanha a converteu em luta pela democracia e até pelos direitos LGBT. A exploração do assassinato rendeu um ministério para a irmã da morta, cujo currículo era esse: ser irmã da morta. Não podiam descobrir logo o que estava já evidente em 2019. Precisava render mais frutos. Havia uma eleição presidencial pela frente e era preciso manter os Bolsonaro como futuros indiciados pela morte de Marielle. Afinal, vivemos em tempos em que ninguém se pergunta o que está engolindo. Engolir sem perguntar, fica mais fácil. E ninguém perguntava: que interesse teriam os Bolsonaro na morte da vereadora?

As prisões não vão resolver muito a vergonha por que passamos. O conselheiro do Tribunal de Contas vai ganhar aposentadoria: o deputado vai ter um suplente sobrinho de bicheiro – nepotismo ao pé da letra. E, quem sabe, todos acabarão soltos antes de qualquer senhorinha com Bíblia na mão, flagrada derrubando o governo por abolição violenta do Estado de Direito. Agora a novela acabou. Terminou a campanha. É como uma Quarta-Feira de Cinzas, com o asfalto cheio de propaganda mentirosa deixada no chão. E com o desrespeito de usar um cadáver para tentar assassinar viventes. Foi nojento.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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