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Alexandre Garcia

Alexandre Garcia

Economia

Construindo pobreza

O Bolsa Família se agigantou desde a pandemia: o valor médio mais que triplicou e o número de famílias atendidas teve forte aumento
O Bolsa Família se agigantou desde a pandemia: o valor médio mais que triplicou e o número de famílias atendidas teve forte aumento. (Foto: Roberta Aline/MDS)

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Leio os títulos dos jornais: “Freio no crescimento”, “Economia perde o fôlego” e outros eufemismos para mostrar a estagnação do PIB no terceiro trimestre do ano. Títulos enganadores, porque fazem pressupor que havia crescimento e fôlego. Meninos, eu vi o que é crescimento. Cobrindo economia no Jornal do Brasil, eu acompanhei, no que agora chamam de “anos de chumbo”, os anos dourados do PIB brasileiro. Em 1973 crescemos 14%. Nem a China conseguiu isso. A média de crescimento em quatro anos foi de 11,2% ao ano. Milagre econômico, chamaram. Milagre nada. Foi produto de entusiasmo, otimismo. Abriam-se empresas e empregos. Faltavam empregados, papelão de embalagens, veículos na vitrine. Sobravam renda, emprego, produção, compra e venda. Só esfriou quando o petróleo de que o Brasil necessitava saltou de US$ 3 para US$ 12 por barril.

Agora o PIB ainda mostrou 0,1% positivo no trimestre, porque o petróleo é nosso. O pré-sal de petróleo e gás é que garantiu um décimo por cento de positivo, porque a indústria de manufaturados encolheu, o comércio perdeu fôlego – a 25 de Março, em São Paulo, e o Saara, no Rio, mostram isso. Até o agro, que sustenta o balanço de pagamentos, ficou apenas com menos de 0,5% positivo. Nenhuma praga, oposta ao milagre; apenas o óbvio: só o trabalho produz riqueza. Num país em que 45% da população ativa vive de benefícios sociais pagos pelos impostos tirados de todos, o crescimento é impossível. Eram R$ 90 bilhões em 2019, agora são R$ 285 bilhões em benefícios. Em 13 estados – do Norte e Nordeste – o número de beneficiários é maior que o de assalariados, e falta mão de obra para a atividade econômica de emprego intensivo. Muito óbvio. O PIB parou porque estão empatados a renda e o gasto. A poupança, em novembro, diminuiu em quase R$ 3 bilhões. Com eleições o ano que vem, o gasto aumenta. E aí?

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Proibir reeleição seria uma solução, mas muitos vão dizer que é contra Lula. Com o populismo em campanha, todos vão pagar depois. Pagam os que geram riqueza, emprego e impostos, e os que se beneficiam disso, porque já não cai maná há mais de 3 mil anos. E não há almoço grátis. Tem de pagar. E só se paga quando houver geração de riqueza. E aí, repito o óbvio: só o trabalho gera riqueza – para sustentar governos e seus populismos. Populismo e contas públicas não fecham jamais. Demagogia não gera investimento nem produtividade; ao contrário. Sem crescer, não há riqueza a distribuir. Distribuir sem ter é desastre a ver. Na base, a conta de energia sobe mais que a inflação.

Não se festeja aumento do Bolsa Família; o que se deve festejar é a diminuição dos que recebem o benefício, porque o melhor programa social é o emprego. Mas populismo incha em ano eleitoral, até explodir as contas públicas. O arcabouço só existe em declarações do ministro. Na realidade, é apenas uma propaganda enganosa, já que uma pilha gigantesca de bilhões de reais foi posta dentro da cartola dos mágicos contábeis. Uma reeleição com presidente populista é vitória de Pirro, pois será sua derrota gerir um Estado esfacelado. Mas, se for derrotado, deixa as contas para o vencedor pagar. O populismo gera pobreza, com propaganda de riqueza.

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Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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