
Vejam só: está faltando só esta quarta, quinta e sexta-feira — até às 23h59 — para entregar a declaração do Imposto de Renda. E consta que 10 milhões de pessoas ainda não entregaram. Isso significa, mais ou menos, que um em cada quatro contribuintes ainda não fez a entrega.
Por que será que isso acontece? Inclusive eu estou incluído nessa. Eu, enfim, estava em Portugal e não quis mexer nisso. Voltei, tive só duas semanas para fazer e continuo mexendo.
Ontem, almocei com um reitor de uma universidade do Porto, e ele me disse que, lá em Portugal, é facílimo — não precisa perder tempo. Aqui, é muito complicado, principalmente se a gente acredita em investir em papéis que representam o capital de empresas brasileiras de capital aberto. Então o negócio já complica.
Mas, enfim, tem muita gente — muitos milhões — que relutam. É inconsciente isso: “Pra que eu vou dar dinheiro para o governo?” O governo vai gastar esse dinheiro? Vai aplicar em bons serviços públicos — de ensino, de saúde, de segurança pública, de justiça, por exemplo — ou está só gastando como um grande gastador? Esse é o problema.
A projeção que os bancos fazem — os bancos, que agora são inimigos, segundo José Dirceu... Os bancos e o agro. Numa mensagem ao PT, defendendo a candidatura que ele apoia para a presidência do partido, Dirceu disse que devemos escolher como inimigos a Faria Lima, os bancos, o setor financeiro e o agro — que seriam, segundo ele, os concentradores de riqueza. Imaginem só! Acho que o agro é quem põe comida na mesa, não é? E que garante, no nosso balanço de pagamentos e na balança comercial, um saldo bem positivo. Mas, enfim...
O que a gente está vendo é isso: mais imposto — imposto sobre operações financeiras. O crédito fica mais caro. Fica mais caro até fazer uma previdência complementar, com um imposto que vem para cobrir o déficit — que os bancos calculam em R$ 97 bilhões de gastos a mais.
Desvio premiado
Dito isso, vejam só: dentro de um banco estatal, a Caixa Econômica Federal — eu não sei se ainda é uma autarquia ou empresa pública, mas enfim... — a própria Caixa descobriu, e agora está nas mãos da Polícia Federal, da Polícia Civil de Brasília e de Goiás, um desvio de, no mínimo, R$ 11 milhões, feito por um funcionário dela. Isso foi feito via Pix, com o dinheiro sendo enviado para outras contas correntes e para empresas de apostas.
Olha a ironia: o maior banqueiro de apostas é a Caixa Econômica, que faz sorteios, etc. O nome disso é jogo — proibido pela Lei de Contravenções Penais. Jogos de azar são todos aqueles cujo resultado depende da sorte. Um jogo de futebol não é; de vôlei, não é; de tênis, não é — mas de loteria, é.
E está lá — só falta revogarem o artigo da Lei de Contravenções Penais. A Caixa é banqueira, mas foi vítima de empresas de apostas que estavam recebendo esses milhões desviados. Já saiu uma ordem judicial para sequestro de bens desse funcionário. Pena que a gente não fica sabendo o nome dele. Coitadinho... tem que ser protegido, mesmo depois de ter metido a mão!
Sequestro de bens, busca e apreensão, bloqueio de contas bancárias, quebra de sigilo bancário — tudo isso.
Narrativa desfeita
Bom, e só pra encerrar: a Câmara aprovou o “Dia da Marielle”, 14 de março. Ainda bem que vai para o Senado. Eu não entendi. É uma espécie de sublimação — o Dr. Freud explica. Ficaram frustrados quando descobriram que o assassino, o mandante, não era quem eles pensavam. Era um apoiador de Lula — inclusive um deputado e um sujeito do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Ficaram frustrados.
Então veio essa sublimação para homenagear Marielle. Quando se faz homenagem a uma pessoa, é preciso saber o que essa pessoa fez para servir de modelo, de exemplo, para ser venerada naquele dia.
O projeto agora vai ao Senado. É de autoria do PSOL, e a relatora na Câmara foi a deputada Benedita da Silva.