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Meu cãozinho baiacu
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Arquivo pessoal

Tinham me convencido de que era a hora de acabar com o sofrimento dele. Pedi para meu marido esperar no carro que eu iria buscá-lo em nosso apartamento. Quando a porta do elevador abriu no nosso andar, escutei suas patinhas no piso de madeira dentro de casa. Ao abrir a porta lá estava ele, com seu solzinho de pelúcia na boca, rabinho mexendo rápido de um lado para o outro, as orelhinhas em pé. De onde ele tirava forças para reagir daquela maneira? Não poderia fazer aquilo, ele confiava em mim, era meu companheiro e lutava bravamente pela sua vida. Pesava apenas três quilos, dava para sentir cada osso do seu corpinho frágil, mas seus olhos ainda brilhavam de alegria ao me ver. Falei o nome dele e na hora se jogou no chão com as patinhas para cima, esperando o carinho que ele tanto adorava. Dali para frente teríamos nossas últimas 24 horas juntos. Chorei, rezei, ri ao lembrar das suas estripulias, sofri por vê-lo sofrer, pedi para São Francisco recebê-lo com carinho… meu cãozinho baiacu estava indo.


O Gregory, meu yorkshire de quase 6 anos, tinha a chamada linfagiectasia. A doença deu seus primeiros sinais quando tinha pouco mais de 3 anos. Ele teve muita diarréia, vômito e começou a inchar. Parecia que ia explodir. Foi quando fizemos a primeira drenagem nele – prática que virou rotina tempo depois. Um ano se passou quando aconteceu a segunda “inchada”, e a terceira sete meses depois. Esta crise foi violenta e a veterinária dele sugeriu operá-lo para obter um diagnóstico mais preciso. Abriram a barriga dele para uma biópsia do intestino. Nem acredito que saiu vivo desta. O Greg parecia um gato que se valia de suas sete vidas. E ele precisaria usar todas elas. A linfagiectasia é uma doença que não tem cura e vai tirando toda a musculatura do animal, uma vez que seu organismo não absorve a proteína dos alimentos.


O tratamento era, basicamente, a alimentação. Uma ração especial intercalada com uma dieta específica. Os inchaços na barriga foram se tornando mais freqüentes e as idas ao veterinário também. Ele já era conhecido de todos na Vetsan. Eu dizia: “Meu cãozinho baiacu chegou. Precisamos drenar. Ele não consegue mais subir no sofá e está quase perdendo o equilíbrio quando ergue a patinha para fazer xixi”. Eu o deixava pela manhã e o buscava depois do almoço. Ele renascia. Voltava a ficar animado e pronto para suas caminhadas. O Greg não podia ver meu pai colocar o boné que ficava doido…. era o sinal que iriam passear.
Novas crises vieram e os inchaços, diarreias e vômitos foram ficando mais frequentes. Uma vez por mês, duas, todas as semanas, dia sim, dia não. Remédios para a dor de estômago e para controlar as ascites. Tentamos de tudo e ele também – impressionante como não se entregava. E antes que alguém pense que ele vivia triste, num canto, amuado, quero dizer que não. Ela era uma alegria só, um guerreiro. Até seus últimos momentos latiu bravamente para meu marido, com quem disputava o espaço na casa – era muito engraçada a relação dos dois.

O Greg morreu na tarde do dia 11 de julho. Nosso pequeno companheiro viveu pouco entre nós, mas sua história foi marcante, intensa, com ótimas histórias e muitas alegrias. Ele faz falta, muita falta.

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