Há 15 dias, uma cachorra pretinha perambula sozinha na frente do meu prédio. Ela não passa do portão, fica ali perto da guarita do porteiro, quietinha, encolhida no chão. Eu, que moro lá há quase três anos, nunca tinha visto antes. Quando percebi, não pensei duas vezes: comprei ração, ossinhos para cães e passei a colocar para ela duas vezes ao dia. Saí perguntando por aí se alguém estaria disposto a adotá-la, já que meu apartamento é pequeno e já tenho um animal que mora comigo.
Nesta busca, algumas pessoas do prédio me contaram que não sabiam de onde ela vinha, mas que possivelmente teria sido abandonada por alguém da região. Detalhe: como as mamas dela estão muito grandes, provavelmente teve filhotes, embora eu não tenha visto nenhum sinal deles por lá.
Ela é bem arredia, vive com o rabo encolhido e mal chega perto da gente. Para dar comida, preciso de uma estratégia: vou, pé por pé, ao local onde ela deita, coloco água e ração e fico espiando. Em menos de um minuto lá está ela faminta, devorando tudo.
No sábado de Páscoa cheguei em casa de madrugada. Caia uma chuva enorme. Na hora que parei o carro para abrir o portão, lá estava ela. Embaixo de chuva, com o pelo completamente ensopado. Por sorte, eu trazia no carro um pacote com comida e ossinhos para o meu cão, que comprei à tarde em um pet shop. Não pensei duas vezes: saí do carro e fui até o potinho de comida dela, que minha mãe colocou no começo do dia. Joguei fora os restos – que estavam também bem molhados – e coloquei pedaços de carne enlatados, próprios para cães.
Fui para casa com o coração apertado, morrendo de pena da cachorrinha. Na segunda-feira, perguntei para todos do jornal se alguém queria adotá-la. Nada. Continuei a semana preocupada até que, no meio da semana, chego em casa e uma surpresa: minha mãe descobriu que ela tem dono! A danada mora em uma ruela perto da minha casa, mas escapa sempre para ganhar quitutes dos vizinhos! Fiquei mais tranquila, mas o pacote de ração que fica de plantão dentro do meu carro vai continuar lá. Afinal, ela é tão esperta que merece, não acham?
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