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Vá catar caquinha!
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Nada deve aborrecer mais um cachorro do que um dia chuvoso. A Madame, vira-lata de alto gabarito que me suporta há três anos, já olha pela janela e lamenta quando vê tudo molhado lá fora: hoje não vai ter passeio. Por isso os dias de sol são tão celebrados por donos e seus cães: qualquer calorzinho já é bom motivo para dar uma voltinha na rua.

Dispensados de capa e guarda-chuva, o passeio ainda assim exige apetrechos mínimos. Guia e focinheira para os mais agressivos, bolinha para os brincalhões, água para qualquer um dos tipos e saquinhos plásticos (ou jornal velho, em uma prática ecologicamente correta). Esse último item é fundamental e indispensável para não deixar nenhum vestígio do passeio do totó nas ruas, calçadas, jardins ou sapatos alheios.

Não é o maior problema do universo, mas pisar em coco de cachorro na rua é extremamente desagradável. Também não é legal ter na porta da sua casa ou do prédio um brinde mal cheiroso e cheio de moscas. Portanto, vá catar caquinha! Toda e qualquer caquinha. Não deixe de levar o kit de higiene necessário para a tarefa sob nenhuma hipótese. Nem na menor ou mais inocente voltinha com o amigo peludo. Mesmo quando ele acabou de aliviar-se em casa, o exercício vai estimular o intestino do bichinho. Convém, inclusive, levar apetrechos extras. Um saquinho só pode ser insuficiente. Eles adivinham (ou sacaneiam, de propósito) quando você está desprevenido.

Quem tem preguiça de carregar saquinhos para higiene canina deve mudar-se para Quebec, no Canadá. Lá há displays com rolinhos de sacos plásticos espalhados nos parques. Em especial, na área no Champs de Bataille. Ao lado das pistas de corrida e caminhada, bem perto dos extensos gramados onde os cães canadenses se esbaldam, os humanos menos prevenidos têm rolinhos de sacolas plásticas à disposição, gratuitamente. Não há desculpa para deixar o coco no chão. E ninguém deixa.

Nas ruas da cidade, que parece ter saído de um conto de fadas, príncipes e princesas, os cães desfilam nos primeiros dias do verão. De todos os tamanhos, sempre muito peludos, passeiam lépidos e faceiros com seus donos, até escurecer. Difícil saber quem está mais feliz com a temperatura amena, o ser humano ou o ser canino. Mas felizes mesmo ficam os outros pedestres, que circulam pelas vias públicas sem a menor preocupação de premiar a sola do sapato com nenhuma surpresa de consistência ou odor desagradável. Bem diferente das calçadas parisienses, referência cultural da cidade canadense, a primeira fundada pelos franceses quando chegaram ao Canadá, em 1608.

Em Paris, o turista precisa andar com olhos atentos aos monumentos, ao mesmo tempo em que localiza e desvia de cocos de cachorro por toda parte. Em Quebec, o visitante pode contemplar a paisagem despreocupadamente, sem correr risco de pisar no lugar errado, mesmo com a boa quantidade de cães saracoteando pelas ruas.

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