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Eis o grupo de risco
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É bom de ver. Nesta terça-feira, no auditório do Mercado Municipal, pouco mais de 200 pessoas estão reunidas para discutir um assunto da hora: a vida dos motofretistas. Sim, a expressão causa estranheza – passou-se de motoboy a motofretistas, e antes que alguém chie, julgando estar diante de mais uma novidade do politicamente correto, melhor não esquecer que desde a origem do mundo, tudo começa com a palavra. E motofretista é melhor do que motoboy. Assim se faça.

Motofretista é uma profissão, um ofício. O motoboy é uma espécie de office-boy sob rodas, crescidinho, de baixa escolaridade, sem carteira assinada e sujeito à pressa da população em comer pizza quentinha. O que lhe acontece no meio do caminho a gente já sabe: dados da prefeitura indicam que um motociclista morra a cada 2,6 dias na capital.

O seminário – organizado por Adílson Lombardo da Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego – não trata propriamente disso. Mas também disso. Este é o grande barato. A situação dos motofretistas ainda é dramática. Os números são estarrecedores. Em contrapartida, a era motofretista já gera uma verdadeira corrente para frente de interessados no assunto. São gestores públicos, estudiosos, membros da sociedade organizada, ocupados de responder à demanda que a moto gerou no trânsito. É o caso do ortopedista Rached Hajar Traya, do Hospital do trabalhador, e da pesquisadora Vera Lídia Alves de Oliveira, as Secretaria Municipal de Saúde – para citar dois.

O impacto da era motoboy é tamanha que a palavra de ordem é reprogramar a cidade em função das motos. Exagero? Não – em cinco anos, o número de motocicletas subiu 105% no Brasil. São 153 milhões de unidades nas ruas, causando a morte de nada menos do que 8 mil motoqueiros ano. Tão assustador quanto o número de mortos é o de mutilados. Em matéria publicada pela Gazeta do Povo em 16 e 17 de maio último estima-se que 70% dos acidentados fiquem com alguma sequela.


Rodrigo Board, de Cerro Azul, personagem da matéria da Gazeta em 16 de maio: geração de mutilados.

É a partir desses dois números que se desenha a tragédia. Na esteira de mortos e feridos vêm os gastos estratosféricos na saúde pública e a formação de uma geração de jovens pouco escolarizados, às expensas de suas famílias, fatalmente empobrecidas. Não há perspectivas para esse exército de mutilados, com perdão ao clichê. É o bastante para que a sociedade berre. E que campanhas de mobilização brotem do chão, sendo tão contundentes quanto as de prevenção da aids ou as antitabagistas. Não é pedir demais. Os números estão aí para comprovar.
Em tempo. Curitiba tem mais de 125 mil motocicletas. Desses, cerca de 20 mil fazem entregas e míseros 3 mil têm carteira assinada. Na região metropolitana o número de registrados é um pouco maior – 3.5 mil motofretistas. Em miúdos, mais da metade dos trabalhadores do ramo estão em Curitiba e adjacências. Eles ganham pouco – na faixa dos R$ 600, cursaram o ensino médio e oscilam 30 e 39 anos de idade. Eis o grupo de risco.

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