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Impasse na psicologia
| Foto:
Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Paula Gomide, da Sociedade Brasileira de Psicologia.

A onda de casos de psicopatia que ronda o país – todos estampados com destaque no noticiário policial – parece estar bagunçando os bastidores da psicologia. Pelo menos é o que dá a entender uma resolução recente do Conselho Federal de Psicologia, recomendando que os profissionais da área não encaminhem relatórios sobre presidiários aos juízes (Resolução CFP 009/2010). Esses documentos, como se sabe, são decisivos nas solturas dos presos perigosos e, não raro, quando incidem em crime, a culpa acaba recaindo sobre a turma do divã.

A psicóloga Paula Gomide, presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia, declarou à Gazeta do Povo que discorda da resolução do conselho, por entender que representa um retrocesso e um desrespeito à autoridade dos psicólogos. “Ora, se estou fazendo um trabalho e considero que aquela pessoa está pronta, não vou dizer. Uma bobagem. Além de tudo, inconstitucional”, protesta.

A pesquisadora – que é professora aposentada da UFPR e hoje atua na Universidade Tuiuti e na Faculdade Evangélica – argumenta que é função da profissão avaliar e produzir relatórios e que faz parte do expediente informar o juiz. Gomide acaba de montar um programa de mestrado em Psicologia Forense, para a Tuiuti. “Não é o juiz que sabe quem está pronto para sair de uma unidade prisional ou unidade de ressocialização. Atuamos em parceria. Faz parte da vida forense”, reforça.

Gomide lembra que a psicopatia – apontada como causa de muitas reincidências – é de difícil diagnóstico e que só pode ser feita por profissionais preparados. “O psicopata é altamente competente. Ele poderia estar aqui no meu lugar e você não iria perceber. Ele tem um registro verbal elevadíssimo, polidez, traquejos, usa as palavras adequadamente. Mas o especialista identifica as falhas. O psicopata exagera. A situação é desagradável e ele continua sorrindo”, explica.

A psicóloga argumenta que as faculdades não dão conta de preparar profissionais para trabalhar no sistema prisional e em unidade de ressocialização. Muitos recém-formados, via concurso, acabam sendo escalados para trabalhar nessas áreas. O resultado é o conhecido e é possível que essa falha tenha motivado o conselho. “O mundo das prisões é o pior lugar para um amador entrar. Ali a gente trabalha com a população mais comprometida que existe. O infrator é um indivíduo com um sofrimento na vida imenso. Para propor um programa de ressocialização é preciso conhecer tudo o que o levou àquela situação.”

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