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1000 dias pelas Américas: Pico Paraná e litoral paulista
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Fotos: Arquivo pessoal
Ana e Rodrigo mergulham na Laje de Santos, no litoral paulista, a 19 metros de profundidade.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Começamos a nossa semana em Curitiba. Este foi o último retorno a nossa cidade de origem por um longo período, por isso resolvemos aproveitá-lo para fazer o último check-list das pendências burocráticas para a viagem, pois por mais que façamos o planejamento da viagem sempre surgem imprevistos. Falando em imprevistos, o nosso roteiro continua rumo ao Rio de Janeiro, na região de Paraty, de onde paramos.

Contudo aproveitamos aquele retorno estratégico para fechar dois grandes buracos que haviam ficado no caminho, uma vez que as condições climáticas são essenciais e não nos ajudaram muito quando passamos por ali: o Pico Paraná, entre Antonina e Campina Grande do Sul (PR); e o mergulho na Laje de Santos, uma imensa rocha que faz parte de um parque marinho no litoral paulista.

Aguardamos dias a fio, foram umas três semanas de estiagem e clima seco no país inteiro, umidade do ar a 12%, um calor absurdo. Pensamos “Agora vai!” e mais uma vez o Pico Paraná se mostrava relutante a aceitar-nos sobre ele. O tempo virou no domingo, chegou uma frente fria e chuva. Esperamos alguns dias, acreditando na previsão do tempo que dizia que melhoraria no decorrer da semana. Enfim, não poderíamos mais esperar, estava resolvido, vamos ao PP. Chegamos na quinta-feira na Fazenda Pico Paraná, a porta de entrada para a trilha mais curta até o pico. Estávamos empolgadíssimos, pois finalmente iríamos riscar esta pendência do nosso roteiro. Anotamos as últimas dicas do Dilson, dono da fazenda, e começamos a trilha.

Começamos a caminhada em torno das 11h30, já no Morro do Esquenta começou a garoar. Não desanimamos, cobrimos nossa mochila e continuamos felizes, pois a garoa refresca e facilita a subida. Passamos pelos campos de altitude e chegamos à primeira bifurcação, já bem sinalizada pelo último mutirão feito por montanhistas para manutenção da trilha do PP. Caratuva à esquerda, PP à direita. Caminhamos em um bom ritmo, até por que a chuva só aumentava e precisávamos nos esquentar. Eis que se inicia um longo trecho de trilha de mata fechada e com muitas raízes travando o ritmo de caminhada. Sobe morro e desce morro, passamos o Acampamento 1 e logo avistamos, no meio da neblina, a pirambeira que teríamos que escalar. Uma parede de rocha vertical.


Escalada do Pico Paraná.

No início subimos “na unha” e depois a maior parte utilizando os benditos degraus fixados nas pedras. Chuva que Deus mandava e nós subindo contra a corrente, nas pedras a água formava uma pequena e longa cachoeira, tudo completamente escorregadio. Frio, a ponto dos dedos ficarem duros, completamente encharcados, andando há horas sem parar nem para comer nem descansar, percebendo que teríamos que montar a barraca na chuva e isso tudo sem perder a esportiva. Isso é o que chamamos de perrengue! Chegando ao acampamento dois, nosso plano inicial era montarmos a barraca, deixarmos a mochila e seguirmos ao cume ver o sol se pôr. Contudo isso agora não fazia sentido algum! Montamos acampamento rapidamente e depois de nos secarmos capotamos de cansaço dentro dos nossos sacos de dormir quentinhos.
Horas de sono depois, acordamos e resolvemos preparar o nosso jantar, já era meia-noite, mas pelo menos nos ajudava a passar o tempo e o desconforto. Preparei a minha especialidade, macarrão ao molho gorgonzola e tomamos um vinho delicioso chamado “Los Haroldos”, em homenagem ao primo alpinista. Foi perfeito, embalamos no sono dos justos, rezando para que a chuva parasse.

No dia seguinte as nossas preces foram atendidas, a chuva havia parado, mas ainda estava frio e havia muita neblina. Não conseguíamos avistar o pico, mas sabíamos que não estava distante dali. Só podíamos imaginar a paisagem que a neblina escondia. A trilha segue pela crista da cadeia de montanhas. Vamos vencendo pequenas montanhas tentando descobrir qual delas será a derradeira até alcançarmos o cume. A vegetação estava totalmente molhada e lá estávamos nós novamente encharcados. A informação é que subiríamos em 40 minutos, porém com a trilha completamente inundada e escorregadia acabamos levando em torno de uma hora.

Finalmente chegamos ao cume! Foram os 1.870 metros mais custosos que encontramos até agora, mas a sensação de ter vencido este desafio é maravilhosa, conseguimos. O Pico Paraná dificultou ao máximo a nossa subida, valorizou o passe e quis deixar marcada a sua passagem por estes nossos 1000dias! A caminhada de volta agora era mais tranquila, sem chuva e com os trechos bem gravados na memória, cada obstáculo vencido era um passo a mais para a nossa próxima aventura. Laje de Santos, aí vamos nós!


Casal chega ao Pico Paraná, depois de uma subida com muita chuva.

Esgotados depois da trilha, noite mal dormida na barraca e ainda 4 horas de estrada depois, chegamos a Santos (SP). Estávamos com os contatos para o mergulho na laje todos a postos, porém assim que o celular voltou à ativa descobrimos que havia entrado um vento “x” que não permitiria a saída de barco para a laje. Um alívio por um lado, pois poderíamos descansar um pouco, nos recompor, cuidar dos equipamentos de camping que estavam enlameados e ainda explorar a cidade e seus atrativos.

Um dia lindo se abriu e à tarde fomos até a pista de vôo livre, no alto do morro em São Vicente. Lá encontramos outra espécie de aventureiros, os aventureiros do ar. Pilotos de asa-delta e paraglider curtindo a vista, trocando histórias e dobrando seus equipamentos, pois o vento já estava baixando. Chato para eles, mas ótimo para nós, que precisávamos do mar bem lisinho no dia seguinte. Uma volta no teleférico e um almoço tardio no Terraço da Ilha Porchat, vendo o sol se pôr na praia de São Vicente, local que abrigou a primeira cidade brasileira.


Vista aérea de São Vicente, no litoral paulista.

À noite encontramos os amigos e vamos conhecer a vida noturna da cidade, um happy hour em um bar esquentou a turma para uma balada mais animada em um bar no centro antigo de Santos. Um jeito diferente de fazer turismo, suas ruas lotadas de jovens de todas as tribos. Dentre eles o prédio da Bolsa Oficial do Café, um dos prédios históricos da Câmara Municipal e bares para todos os gostos, de pagode vip até a boate de música eletrônica mais moderna, tudo convivendo no mesmo local.


Vagner, as duas Anas e Rodrigo em turismo noturno por Santos (ao fundo, a Bolsa do Café).

Penamos para acordar no dia seguinte, mas o mergulho foi confirmado! Finalmente o clima nos ajudou e temos as condições certas para irmos até a famosa Laje de Santos. Uma rocha imensa com 550 m comprimento, 185 m de largura e 33 m de altura, só na sua parte emersa. Ela fica localizada em alto mar a 40 km da costa, por isso as condições climáticas são essenciais para o sucesso deste mergulho. Uma navegação de pouco mais de 1h30, mar batido, navegação sofrida, pudemos contar nos dedos de uma mão quem conseguiu chegar até lá sem ficar enjoado. Uma vez ancorados o esquema é equipar rapidamente e cair na água, o mar cura qualquer enjôo e logo nos surpreende com a beleza que encontramos ali. O inverno é a melhor época para mergulhar na laje, época em que se pode avistar arraias mantas, tubarões e toda a qualidade de vida marinha. No nosso primeiro mergulho saímos do Portinho em direção ao naufrágio, porém uma forte corrente não nos deixou alcançá-lo. A água estava a 19°C, com visibilidade em torno de 15 m.


Laje de Santos, com 550 metros de comprimento, um dos melhores pontos de mergulho do litoral paulista.

Já no segundo mergulho fomos para a direção oposta, navegando para sudoeste encontramos o Parcel das Âncoras, que chega a até 38m de profundidade. Foi surpreendente! A água esquentou e a corrente quente trouxe consigo uma quantidade de peixes absurda e a visibilidade chegou a bater em torno de 30 metros! Tartaruga, garoupas imensas, um verme de fogo, vários cardumes, inclusive de peixe enxadas! Foi maravilhoso. Voltando á embarcação ainda tivemos a boa notícia de que o vento havia baixado e a navegação de retorno a Santos foi muito mais tranqüila.
Foi uma semana intensa, puxada, mas recompensadora. Finalmente conseguimos nos desvencilhar totalmente dos compromissos e pendências em Curitiba.


Ana se prepara para o mergulho na imensa rocha em pleno oceano.

Pico Paraná e Laje de Santos estavam engatados na nossa garganta e finalmente foram riscados da lista. Fica para nós a sensação de dever cumprido, do alto do Pico Paraná até as profundezas da Laje de Santos só continuamos tendo certeza de que estamos no caminho certo. Que venham os próximos 830 destes 1000dias!

Próxima Semana
Rumo às cachoeiras da Serra da Bocaina, praias desertas da Baía de Paraty e os encantos da Ilha Grande.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.

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