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Mil dias pelas Américas: Desvendando Sint Maarten/Saint Martin
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Fotos: Arquivo Pessoal
Parlatuvier Bay, uma das praias paradisíacas dentre as montanhas de Tobago.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Já se passaram 365 dias e ainda é difícil de acreditar que estamos realizando este sonho. Depois de 30 mil km, 12 países, 18 estados brasileiros e mais de 180 cidades percorridos, completamos o nosso primeiro ano de viagem. Trinidad e Tobago foram nossa primeira parada desta etapa caribenha. Planejamos uma semana intensa com montanhas, trekkings, mergulhos e praias paradisíacas, afinal este feito merecia uma comemoração à altura!


Rodrigo e Ana, 24 horas por dia, 7 dias na semana, há 365 dias.

El Tucuche, segunda montanha mais alta da ilha, está localizado no vilarejo de El Luengo, ao norte de Trinidad. É o preferido pelos aventureiros que visitam o país, já que El Cerro del Aripo, a montanha mais alta, não possui uma vista muito privilegiada no cume devido às árvores. A caminhada é super agradável, à sombra da floresta úmida tropical, ouvindo as diversas espécies de pássaros e cruzando com os curiosos caranguejos da montanha. O dia esteve aberto o tempo todo, mas no topo a neblina tomou conta e infelizmente ficamos sem a tão esperada vista.


Trilha ao El Tucuche, segunda maior montanha de Trinidad e Tobago.

No dia seguinte, fomos à Salybia, uma vilazinha às margens do rio e do mar marca a paisagem de uma das principais praias escolhidas pelas tartarugas para reprodução. Começamos a nossa caminhada por uma estrada de asfalto a caminho da Cachoeira do Rio Seco e dentre a floresta aqui conhecida como Ever Green. É muito parecida com a Mata Atlântica, não tão úmida quanto sua prima do El Tucuche e tem como característica se manter verde durante todo o ano. Esta floresta especificamente é formada por moran trees, árvore de madeira forte e duradoura utilizada há séculos pelos colonizadores para construção de casas.


Cachoeira do Rio Seco em Salybia, Trinidad.

O ferry boat de Trinidad para Tobago é profissional, possui uma infraestrutura digna de um shopping center flutuante, belo investimento do governo para unir o país de uma forma mais rápida e barata. Em duas horas e meia chegamos a Tobago, a irmã mais nova, mais caribenha e mais baiana de Trinidad. Com apenas 300 quilômetros quadrados, foi descoberta pelos espanhóis que, todavia, não se deram ao trabalho de ocupá-la. Assim, a partir do início do século 17I várias nações tentaram colonizá-la: holandeses, franceses, ingleses e até os courlanders, pequeno ducado onde hoje é a Letônia. Foram tantas batalhas travadas entre estas pequenas colônias formadas na ilha, inclusive contra os índios que a habitavam, que no início do século 18, Togabo foi declarada um território neutro, o que deu ainda mais espaço para a ilegalidade, prato cheio para os piratas. Só em 1763 os ingleses resolveram colocar ordem e tomar a frente na colonização da ilha, trazendo para lá escravos que iniciaram a cultura de cana de açúcar e algodão.

Em 1963 a ilha foi atingida pelo Furacão Flora, que devastou suas plantações, casas e estradas. Desde então o governo vem fazendo um trabalho orientado ao turismo, criando um novo mercado até então pouco explorado por seus moradores. Um paraíso para os birdwatchers e mergulhadores, Tobago possui o seu próprio ritmo, mais easy going e vem conquistando facilmente milhares de turistas todos os anos.

As praias mais procuradas ficam no extremo oeste da ilha, próximas à Crown Point, onde fica também o aeroporto internacional. Bem estruturada, Crown Point oferece desde simples pousadas a grandes e luxuosos resorts à beira mar. Restaurantes, internet café e ATMs também são facilmente encontrados. Store Bay é a praia mais acessível, com uma pequena faixa de areia e suas águas tranquilas. A apenas 20 minutos de caminhada dali está o Pigeon Point, uma das praias mais procuradas da região. Suas águas cristalinas e areias claras são ótimas para snorkeling ou apenas para relaxar na sombra dos coqueiros. Há também um deck muito bacana, que além de uma bela vista da praia, também oferece passeios de barcos com fundo de vidro sobre o Buccoo Reefs e piscinas naturais próximas da costa.


Praia do Blue Marine Resort em Speyside, Tobago.

O mergulho é um dos principais atrativos de Tobago e mesmo de Crown Point pode-se agendar saídas. Entretanto quem vem a Tobago para mergulhar, sem dúvida alguma deve vir à Speyside. Os melhores pontos de mergulho ficam há apenas 10 minutos do trapiche, dos 41 pontos de mergulho contidos em toda a ilha, mais de 15 deles estão nesta região. Uma pequena vila de pescadores, Speyside, começou a ser frequentada por turistas em meados do século 20, quando um engenho de açúcar se transformou em um grande hotel, o Blue Water Resort. Um cenário sensacional, logo em frente fica a Goat Island e Little Tobago. Esta é uma grande ilha que nos idos de 1800 abrigava uma plantação de algodão e no início do século 20, se tornou a Ilha dos Pássaros do Paraíso. O britânico Sir Willian Ingram, apaixonado por aves, importou da Papua Nova Guiné mais de 50 espécies de aves e criou um santuário para a proteção destas espécies em extinção. O Furacão Flora, no entanto, dizimou a maioria dos pássaros e seu habitat, e hoje o governo administra a ilha mantendo o projeto de Sir Ingram, porém com aves nativas. Dentre os pontos de mergulho destaca-se, Bookends. Uma mescla entre cânions, pináculos e paredões, um mergulho com um cenário espetacular, formações de corais belíssimas e muita vida! Tartarugas, barracudas e até um cardume de tarpões, imensos, lindos!


Vida marinha e mergulhos fantásticos em Speyside, Tobago.

A apenas 25 minutos de carro de Speyside, encontra-se a Argyle Falls, uma cachoeira com 3 andares e 50 m de altura, a maior de Tobago e também uma das mais populares. Passamos por uma trilha fácil de uns 20 minutos até a cachoeira em uma mata que um dia foi uma plantação de cacau e hoje está em processo de reconstituição a mata nativa.
Estamos longe da Fiona, mas não conseguimos ficar longe de uma boa estrada. Por isso, decidimos fechar a nossa estada neste país, conhecendo todo o litoral norte da ilha de Tobago, explorando a maravilhosa Northside Road. Esta estrada liga Speyside, no extremo leste da ilha, a Crown Point, no extremo oeste, passando por charmosas vilas, belas praias e magníficas baías. O histórico de colonização da ilha torna ainda mais interessante este passeio, pois passamos por vilas de diferentes origens, como a inglesa Charlotteville e a francesa Parlatuvier. Todas muito bem temperadas pelos habitantes tobagonians, a grande maioria de origem africana, além de muito calypso e soca music!
Sobrevoar este mar é uma coisa sensacional. Pulamos de cadeira em cadeira, de um lado para o outro no corredor para conseguir ver as ilhas. O avião sobrevoou a cadeia de montanhas e a cada minuto uma nova ilha surgia, Antigua e Barbuda, St Kitts & Nevis, St Eustatius, Saba, St Barths, cada uma com um formato, uma geografia e uma cor de azul mais impressionante que a outra. Enfim, chegamos à Sint Maarten/Saint Martin, o menor pedaço de terra dividido em dois países no mundo! Sint Maarten é holandesa, Saint Martin é francesa, mas adivinhem qual é a língua mais falada em ambos os lados? Inglês é claro! Qual é a moeda que domina o mercado? O dólar americano. O caribe é dominado pelos turistas americanos, que sem querer querendo acabam ditando as regras e mudam a cultura das ilhas.


Argyle Falls, maior cachoeira de Tobago, com 50 m de altura.

Vista das Ilhas Granadinas durante sobrevôo no mar do Caribe.

Chegamos em Philipsburg, a capital de Sint Maarten, no Aeroporto Internacional de Juliana. A moeda corrente aqui é o guilder das Antilhas Holandesas, que é diferente do já desaparecido do guilder holandês. No entanto, ninguém usa esta moeda, nos contou o taxista, “Eu mesmo nasci aqui, moro aqui, mas não tenho um guilder na carteira, só dólar. Vocês vieram aqui para tirar férias, não para ficar se preocupando em converter moedas.” Na prática a fronteira entre os dois países não existe, pegamos um táxi e só sabemos que deixamos St Maarten pois vimos um monumento com as duas bandeiras. Arquitetura, restaurantes, bistrôs e bares de Marigot, nos lembram a cada minuto que estamos em território francês. Inclusive a moeda corrente, o euro e seus preços europeus. Todos neste canto da cidade têm o francês como primeira língua, mas (quase) todos falam inglês. Em torno de 38% dos moradores de St. Martin vieram da França e estes são os que puxam e mantém a língua, pois quem nasceu aqui mesmo acaba falando o inglês.
Subimos até o Fort St Louis, forte construído no final de século XVIII pelos franceses para defender o território das invasões inglesas. A sua edificação só foi possível, pois o governo francês contou com a ajuda e colaboração da comunidade, produtores de café, algodão e índigo, que sofriam graves danos a cada invasão britânica. O pôr-do-sol do alto do forte foi simplesmente perfeito. Avistamos do alto St Martin de um lado, St Maarten do outro, baías e lagoas ao meio com seus inúmeros barcos e veleiros. Luz perfeita, cenário magnífico para comemorarmos o nosso primeiro ano na estrada.


Marigot, capital de Sait Martin e ao longe Sint Maarten, do lado holandês.

Voltamos pela marina, já de olho em que restaurante escolheríamos para a nossa comemoração. Tailandês, balinês, francês, italiano, difícil escolha. Voltamos mais tarde e os mais simpáticos venceram o embate, os franceses! Atendimento de primeira, pratos deliciosos e para brindar um vinho francês, é claro! E que venham os próximos 635 dias!


Pôr-do-sol no alto do Fort Saint Louis, Marigot – Saint Martin.

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira semanalmente em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.

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