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Mil dias pelas Américas — Do Ararapira à Miami
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Arquivo pessoal
Rodrigo e Ana em um pit stop durante a pedalada em Ararapira.

Por: Ana Biselli e Rodrigo Junqueira

Lugar onde aparentemente o tempo parou, Superagui e sua praia deserta de 30km acompanham as mudanças do mundo de uma forma diferente. Segundo dia de viagem e depois de 30Km de bicicleta, chegamos à Barra do Ararapira. Ali nos encontramos com Seu Rubens, um dos líderes da comunidade que ainda hoje briga para manter a vila de pescadores em pé, já que o mar está avançando sobre ela.

Logo pensamos no aquecimento global depois de ver todo o aquele lixo na praia. A experiência e sabedoria dos 63 anos de Seu Rubens dizem, “isso não é aquecimento global, besteira, é o ciclo da própria natureza.” Aqui o tempo é medido pelo movimento da terra, pelas mudanças que fazem parte do ciclo normal da natureza, não pelo tempo que deixamos de ter na correria do dia a dia.

Atravessamos os 500 metros da barra nadando do Paraná a São Paulo, depois pedalamos novamente os 30Km em direção à vila de pescadores de Superagui e tivemos que dizer o nosso primeiro adeus, ou pelo menos, até daqui 1000 dias.

Arquivo pessoal
Depois de muito pedalar, Ana atravessa o rio na praia deserta de Superagui.

Depois de chegar à Ilha do Mel já nos preparamos para nossa próxima empreitada, dar a volta na Ilha. No quarto dia de viagem, saímos logo cedo e começamos a caminhar. Gostoso ver a Ilha neste horário, quase vazia, aquela brisa do dia que está nascendo, tranquilidade absoluta. Sem muito sol e com a temperatura perfeita para caminhar.

Engraçado que mesmo já tendo feito essa volta de barco, Ana tinha no seu imaginário um medo quase infantil, achava que lá, do outro lado da Ilha, iria encontrar um monstro feito de butucas agressivas e cheio de lodo daquele mangue intransponível! Mas o que encontramos foram paisagens maravilhosas, um mangue quase seco e um punhado de butucas pentelhas que foram sucumbindo à fúria do Rodrigo, uma a uma.

Afundamos o pé na lama junto com caranguejos e siris. Voamos com os chauás, pica-paus, garças brancas e rosas (ou seriam flamingos?). Encontramos uma tartaruga e um boto junto com os urubus. Pulamos juntos com a cobra coral, segundo os nativos, verdadeira. Enfim, nesses 22km encontramos muita vida, além do Forte dos Remédios, do Farol e um casal de argentinos muito bacana.

Arquivo pessoal
Cheio de bagagens e disposição, Rodrigo cruza o mangue na Ilha do Mel.

Deixamos a Ilha do Mel novamente com aquela mesma sensação de quando saímos de Superagui e Barra do Ararapira, sabendo que não voltaremos lá em pelo menos 1000dias! É um sentimento que certamente iremos nos acostumar: chegar a novos lugares maravilhosos, fazer novos amigos e, logo, nos despedirmos.

No dia 5 da viagem, passamos rapidamente por Curitiba, onde já tínhamos diversos afazeres, detalhes que surgiram na última hora, conferência da mala para Miami e ainda uma última reunião sobre o site, que daqui a pouco estará completo no ar. Depois, corrida para o aeroporto. Quase perdemos o voo para Miami, mas deu tudo certo.

No sexto dia, chegamos a Miami! A entrada nos EUA não foi nada complicada, já que tínhamos toda a documentação em dia. A única coisa que estava meio atrasada era mesmo o nosso sono. Fomos direto do aeroporto para a casa do Rita e da Su, amigos dos tempos de Unicamp do Rodrigo.

Eles moram em um Condomínio maravilhoso, Key Colony em Key Biscayne, ilha ao sul de Miami. Também vieram direto de Nova Iorque Juliane, irmã da Ana, e David, o cunhado. Sol, praia, piscina, cervejinhas e uma tarde toda para jogar conversa fora… Não precisamos de mais nada!

Arquivo pessoal
Como ninguém é de ferro, Rodrigo e Ana dão uma pausa em um bar na Lincon Road, South Beach, Miami.

No dia seguinte, fomos caminhar e conhecer um pouco de Miami. Impossível chamar esta praia de Miami Beach. Já é sabido que os latinos tomaram conta de Miami, mas não imaginávamos que era tanto! A fiscalização deve fazer vistas grossas para os ilegais, até por que eles são a mão de obra barata que faz La Playa de Miami ser o que é, fervilhante, cheia de vida, festas, músicas e turistas.

Chegamos aqui durante o Spring Break, quando pessoas de todo os Estados Unidos chegam para fugir um pouco do inverno gelado e curtir uma praia. Além disso, aconteceu nesta última semana o Sony Ericksson Open de Tênis, que foi aqui Key Biscayne, portanto trânsito e agito fizeram parte do pacote. Do prédio onde estamos, vimos o tempo todo o dirigível da Good Year que estava filmando o Open, além dos quatro caças F16 que passaram com um barulho infernal, para fazer a abertura da final feminina no sábado cedo. A tal belga arrasou a Serena Willians, em plena Miami, não deve ter sido fácil!

Hoje, no nono dia de viagem, decidimos fazer um programa super “american”, mas realmente imperdível, o Seaquarium. Tudo lá dentro tem aquele american way, está tudo empacotado para ser facilmente consumido: golfinhos, leões marinhos, pássaros tropicais, peixes de recifes e até a Orca, a baleia assassina.

O sentimento de passar por um lugar desses é meio paradoxal, claro que gostamos de ver o show dos golfinhos e ainda mais o da Killer Whale, mas vê-los ali, confinados naquelas piscinas ou aquários é realmente muito doloroso. Completamente diferente do que esperamos ver no Caribe nos nossos mergulhos, também completamente diferente do que estávamos vivenciando há uma semana atrás. Bares, clubes, restaurantes, lojas, shoppings, carros… um agito que já seria exagerado se comparado à Curitiba… imagina então se compararmos com a Barra do Ararapira! Realmente é fácil de entender por que pessoas como o seu Rubens estão em extinção.

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