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Mil dias pelas Américas: Explorando o Sertão
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Cânion do Canoas, Capadócia brasileira — Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí.

O sertão inóspito, pobre e distante é um destino turístico pouco provável para a maioria dos brasileiros. Este sertão de terras secas e rachadas, casas de pau-a-pique e sol escaldante que temos fixado no nosso imaginário existe sim, mas não é o único cenário encontrado no interior do nordeste. Além de belezas naturais, o nosso sertão está mudando e muito. Começamos o nosso roteiro da semana na cidade de Petrolina, em Pernambuco.

Petrolina fica na divisa com a Bahia e às margens do rio São Francisco. Ali ele chega caudaloso, verde esmeralda, diferente das águas escuras que vimos em Januária-MG e ainda mais diferente de sua nascente na Serra da Canastra.

Nessa área, o rio São Francisco chega a ter 1 km de largura e um volume de água imenso, sendo o principal responsável pela prosperidade da região. Há 28 anos, Nilo Coelho iniciou o projeto de irrigação das terras com o objetivo de disseminar a fruticultura no Vale do Rio São Francisco. A partir daí tudo começou a girar, a cidade de Petrolina que possuía 60 mil habitantes, hoje possui quase 400mil e é um dos maiores polos exportadores de frutas do Brasil. Além das fazendas de frutas, você ainda pode visitar vinícolas instaladas na região, além das belas Ilhas do Rio São Francisco que possuem restaurantes com área de lazer, e provar o delicioso Surubim, peixe de água doce típico da região.


Expedição 1000 dias na Pedra Furada, Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí.

Saímos cedinho de Petrolina, já que a viagem a Caracol é longa. São pouco mais de 500 km sertão adentro, passando por diversas vilazinhas escondidas do mundo. Cruzamos a fronteira de Pernambuco com o Piauí rumo aos Parques Nacionais que preservam as belezas escondidas das serras sertanejas.

O Estado do Piauí foi colonizado do interior para o litoral, os bandeirantes procuravam terras para a criação de gado, mas não foram muito felizes na empreitada, já que o clima semiárido não contribuiu. Em 1718, Oeiras foi elevada à condição de capital da Capitania do Piauí e mais tarde Teresina tomou seu lugar, tornando-se a primeira capital planejada do país. Este povo que vemos sobrevivendo neste interiorzão, com pouca água, um calor imenso, foi aos poucos se fixando nestas terras no processo de colonização.

O período chuvoso começou em novembro e deve ir até fevereiro, o inverno piauiense. Em meio à caatinga, encontra-se o Parque Nacional da Serra das Confusões, formado em 1998, a maior reserva de caatinga no Brasil. Dentro do Parque encontram-se ainda algumas comunidades como o Barreiro e o Capim, famílias que estão aguardando suas indenizações para se mudarem da área de reserva.


Casa sertaneja típica na Comunidade do Capim, Serra das Confusões, Piauí.

No parque fomos conhecer uma das suas mais famosas atrações, o Riacho do Boi. Um cânion seco, estreito, formado por paredes de mais de 20m de altura. Estas fendas abrigam centenas de andorinhas, que deixam o local com um aroma sui generis. Lá, no final do leito areado deste rio fica a Gruta Escondida, um olho d´água que brota da terra. No meio do sertão encontrar um olho d´água destes é uma benção! Um pouco mais adiante chegamos à comunidade de Barreiros, de onde sai outra estrada para os recém-descobertos sítios arqueológicos da Toca do Capim e Toca do Enoque. No Capim, várias pinturas rupestres, muitas formas geométricas e muitas escavações em andamento, numa delas foi encontrado recentemente o fóssil de um menino. Na sequência conhecemos a Toca do Enoque, nome do antigo morador manissobeiro que ali vivia, vizinho do imenso paredão, todo pictogravado, ao lado um olho d´água.

Há apenas 100 km, próximo à cidade de São Raimundo Nonato, encontramos um cenário tão bonito quanto o da Serra das Confusões e já mais estruturado para o turismo, a famosa Serra da Capivara. Em 1979, foi criado o Parque Nacional da Serra da Capivara, visando a preservação do patrimônio natural, histórico e cultural da região. Hoje o parque é gerido pelo ICM Bio em parceria com a FUMDHAM – Fundação Museu do Homem Americano, OSCIP em que Niède Guidon é presidente.


Pintura rupestre símbolo do Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí.


Curiosidade

Onde surgiu o nome Serra da Capivara? A serra não possui nenhum rio perene e por isso não há registros da existência desta espécie na região. Ela foi assim batizada por seus antigos moradores, que mesmo sem nunca ter visto uma capivara por ali, pensavam que os desenhos que viam nos paredões rochosos eram capivaras. As pinturas rupestres fazem parte da vida destes piauienses antes mesmo de imaginarem o valor histórico e cultural que elas possuem.

No final da década de 60, a arqueóloga brasileira Niède Guidon chegou ao parque e encontrou as centenas de pinturas rupestres indicando a existência anterior de homens pré-históricos na região. A partir de 1970 começou a pesquisar e catalogar todos os sítios arqueológicos, dando início à luta para a preservação do patrimônio cultural pré-histórico existente no interior do Piauí.

Próxima Semana:
Continuamos nosso caminho pelo sertão, passando pela primeira capital do Piauí e rendendo nossas homenagens ao Padre Cícero, rumo ao litoral pernambucano e a magnífica Ilha de Fernando de Noronha.

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