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O desabafo de Dary Jr
| Foto:
Douglas Fróis/Divulgação
Dary Jr: ame-o ou deixe-o.

Ele é cantor de uma banda de rock, mas bem que poderia ser um pregador. Tem boa oratória. Tende a convencer o interlocutor. “Se o Dary Jr fosse um vendedor, ele faria muito sucesso”, disse, outro dia, o baixista de uma banda curitibana, que admira o Dary Jr., mas não quer ser identificado, pois teme ser interpretado de maneira equivocada. “Admiro o Dary Jr.”, completou o músico.

Dary Jr., para quem não sabe, é o líder e vocalista da banda Terminal Guadalupe, que existe há sete anos. Da formação inicial, apenas Dary Jr segue. O TG, alguns dizem, é um pano de fundo, ou cenário, para Dary Jr enunciar os seus pontos de vista sobre o mundo, sobre a política e sobre o amor.

Ele é polêmico. Gosta de uma encrenca. Muita gente, no meio musical, no meio cultural, odeia Dary Jr. Mas há o outro lado. Ele tem muitos admiradores. Tem fãs. Tem seguidores.

Nesta sexta-feira, 11 de setembro, o TG faz o show de abertura para a banda Pouca Vogal, no Curitiba Master Hall. Dary Jr concedeu essa entrevista exclusiva para o Blog do Caderno G. Ele, que usa gel nos cabelos, é assessor de imprensa, já foi repórter de televisão, sabe do poder e da importância das palavras. Mediu o efeito de cada palavra para essa entrevista. Dary Jr fala, pela primeira vez, o que sempre teve vontade de dizer, para um veículo de comunicação e, até hoje, não teve espaço nem vez. Eis, aqui, a seguir, o pensamento mais do que vivo de Dary Jr.

Por que tanta gente fala mal de você? Chamam você, Dary Jr, de mala. Por que chamam você de mala?
Porque talvez eu seja. Agora, é difícil falar sobre a (falta de) empatia. Recomendo que procure meus detratores, certamente mais talentosos e relevantes… NOT. O que posso dizer é que nunca fui bom moço. Evidentemente, há um preço por ser obstinado, ter opinião – contundente – e incomodar o senso comum. Além disso, tive uma trajetória modestamente vitoriosa como jornalista e músico, o que pode ajudar a explicar parte do ressentimento alheio. Meu amigo Sandro Dalpícolo tem uma frase lapidar sobre o sucesso: “Todo mundo nota a cachaça que eu bebo, mas ninguém vê os tombos que eu levo”. E olha que nem fiquei famoso ou rico! Hoje, sou elogiado por Sérgio Martins, Marcelo Camelo cita minhas letras em entrevistas e Marcio Renato dos Santos quer saber o que eu penso. É ultrajante ser obrigado a escrever assim, mas eu lá tenho culpa de virar referência? Aos desavisados: não houve jogada de marketing nem rede de relacionamentos, crianças. Eu só trabalhei duro, como qualquer um. Se quiserem uma dica, digo: façam o mesmo.

Dizem que hoje não há mais espaço para discurso combativo, de protesto. E você, Dary Jr, faz letras de protesto e combativas. Há espaço, hoje, para letras de protesto e combativas?
Hum, vejamos: há algo de perturbador quando chamam qualquer coisinha pop fofa com violão de “folk”. O folk, como ficou conhecido, é música de protesto, vide a obra de Woody Guthrie, que cantava para os deserdados e miseráveis da Grande Depressão – atenção, emos: não confundam este período histórico com falta de Prozac no mercado – nos Estados Unidos dos anos 30. No Brasil, não. Virou música de menininha ou de “indies”que tocam mal, com o perdão do pleonasmo. Há espaço para canções combativas, sim. Sempre houve. Eu me apoio nelas porque foi assim que aprendi a gostar de música, de Chico Buarque, do rock brasiliense dos anos 80, da mesma forma que o cinema de Ken Loach me infuencia. Belchior, que está na moda de novo, definiu: “Amar e mudar as coisas me interessa mais”.

O que você quer? Ser ouvido, amado ou odiado?
Gostaria de ser mais ouvido, sem dúvida. Não existe receita, mas o atalho para se dar mal é querer agradar a todos. Esse negócio de querer ser odiado é lenda, pecha, estigma. Se bem que vale a pena ser odiado por picaretas. Ah, no fundo, no fundo mesmo, estou mais preocupado em ser um bom pai para o meu filho, minha nova razão de viver. Por falar nisso, já viu como anda o preço do leite em pó?

Djusten Jr./Divulgação
Dary Jr e o TG, no palco da Fnac Curitiba, em julho.

Você diz que tem bandas que pensam pequeno e as que pensam grande. Você diz que TG pensa grande. Isso não pode soar como algo pretensioso? Você é pretensioso? Não teme ser mal interpretado por isso?
François Truffaut dizia que um diretor tinha a obrigação de ser, de fato, um artista e de ter ambição. Neste sentido, admito, sou muito pretensioso e encaro com naturalidade o risco de ser mal interpretado. O que não posso é dar muita importância à repercussão do que pretendo criar ou criei, senão estarei perdido. Prefiro ir além desses limites. Quando digo que prefiro a contramão, não é à toa.

Qual o futuro do TG?
A banda está no recomeço. Depois de sete anos, três discos de estúdio, um ao vivo, dois EPs e da participação em duas coletâneas, quase parei tudo com a desmontagem da formação anterior. É verdade que tenho outras prioridades e o meu filho é a número um. Além disso, os novos integrantes têm bandas paralelas: Cláudio (guitarra), Phill (bateria) e Diogo (baixo) tocam no Monolito, em São Bento do Sul (SC); Luiz, no Lumière, carioca. Isso significa que provavelmente a atual formação não terá a mesma visibilidade das anteriores porque se apresentará menos, mas vai se dedicar muito à produção dos shows e às gravações em estúdio.

Quem é Dary Jr?
Sou um produto do esforço. Nasci em Corumbá (MS), fronteira com a Bolívia, há 38 anos. Me formei em Jornalismo e fiz pós-graduação em Cinema e Tevê. Minha carreira jornalística iniciou há 22 anos. De lá para cá, passei mais tempo na reportagem, seja em rádio, jornal ou televisão. A maioria se lembra de mim do tempo em que estive na RPC TV, para quem cobri escândalos do Governo Lerner, do Telebingão Milionário e de policiais envolvidos com o narcotráfico e o crime organizado. Também fui professor universitário, repórter especial da Band, diretor de jornalismo da TV Paraná Educativa e chefe de redação da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. No entanto, queria mesmo era viver de música, um sonho antigo, de criança. Me considero realizado pelo que já consegui com o Terminal Guadalupe, mas nada que se compare ao nascimento do Chico. Ele é o cara. Sou um orgulhoso pai de família.

E, aí, qual a sua opinião sobre o Dary Jr? Gosta? Não gosta? Por que?

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