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Manoel, colocado numa fria por Carrasco.

A informação de que Manoel substituiria Ricardinho desencadeou um processo mental automático. Manoel formaria a dupla de zaga com Rafael. Renan Foguinho passaria para a proteção à zaga, liberando um pouco mais Deivid e Paulo Baier. Para Harrison, duas opções: jogar aberto pelo lado esquerdo do ataque ou ser o homem de ligação entre o meio e o ataque. Era simples. Era simples demais para Juan Ramón Carrasco.

Com o time já posicionado em campo, comecei a procurar Manoel. Foguinho continuava na zaga. Manoel não estava na lateral-direita, onde chegou a ser escalado por Antonio Lopes. Também não estava no meio-campo. Os olhos percorreram todo o gramado e arregalaram ao perceber que o camisa 13 do Atlético estava enfiado entre os dois zagueiros do Corinthians Paranaense. “Olha onde o Manoel está!”, disse, estupefato, na cabine da 98 FM, de onde assisti ao jogo deste domingo, no Ecoestádio.

Manoel era o centroavante escolhido por Carrasco para o Atlético defender o 1 a 0 construído no segundo tempo. O objetivo era explorar a bola alta, explicou o treinador na tensa entrevista coletiva após o jogo. Uma tensão gerada pela combinação entre uma mudança estapafúrdia e a contribuição dela para a vitória se transformar em empate. Não apenas gerada pelo resultado, como Carrasco tentou simplificar diante dos vorazes microfones.

Se a ideia era explorar Manoel nas bolas altas, a mudança partiu de uma premissa errada, a premissa de que o Corinthians manteria o padrão de se defender e jogar nos contra-ataques para buscar o empate. Não tentaria pois não é o estilo do técnico Leandro Niehues. Algo que ficou mais evidente com a entrada de Andrezinho, um terceiro atacante.

O Timãozinho partiria para cima e daria o contra-ataque para o Atlético, exatamente como aconteceu em Criciúma. Com Bruno Furlan, Edigar Júnio e Ricardinho, o Atlético teria atletas velozes o suficiente para tirar proveito do espaço cedido pelo adversário. Com Manoel, quebrou totalmente esse ritmo e se obrigou a jogar com chuveirinhos – foram quase 30.

O constrangimento de Manoel era evidente, como também ficou claro que os demais jogadores, a uma certa altura, evitavam passar-lhe a bola – fosse porque sabiam que as jogadas morreriam ali, fosse para não aumentar ainda mais o sofrimento do companheiro. E se na improvisação não houve intenção de menosprezo (Leandro Niehues disse que sim, eu acredito que não), é certo que ela mexeu com os brios dos jogadores do Timãozinho, que desdobraram para não tomar gol de um zagueiro fazendo cosplay de centroavante.

Elogiei várias vezes o trabalho de Carrasco. Admiro a estratégia de sempre botar o time para frente, o princípio de usar três atacantes e de escalar meio-campistas que saibam jogar. Mas é irritante a dificuldade do treinador de fazer o simples na hora de mexer no time. Ele são se contenta em mudar apenas um setor, quer sempre ter uma sacada genial. Escalar Manoel de centroavante por um tempo inteiro – e não no abafa dos minutos finais, algo compreensível – não teve nem um pingo de genialidade.

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A improvisação de Manoel foi tão estapafúrdia que acabou encobrindo outros erros de Carrasco:

– Renan Foguinho na zaga mais uma vez não deu certo, vide o papel de espectador que ele assumiu no gol do Corinthians;

– Harrison era o melhor em campo quando, mais uma vez, foi sacado por Carrasco;

– Se a ideia era explorar a bola alta, não dava para abrir mão de Paulo Baier. Carrasco abriu mão, exatamente quando o camisa 10 mais levava perigo ao goleiro Colombo.

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