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Pedro (11) comemora o primeiro gol da Espanha: obra acabada em constante evolução.

(Recife) – Por vários dias, a organização da Copa das Confederações no Recife bateu firme na ideia de que os torcedores deveriam deixar seus carros em casa e recorrer ao transporte público para chegar à Arena Pernambuco, onde ontem se enfrentariam Espanha e Uruguai. Fui conferir a operação de perto, também usando a tabelinha ônibus-metrô para chegar ao estádio. Viagem longa (duas horas de Boa Viagem até São Lourenço da Mata), mas tranquila e bem organizada, embora encerrada com uma caminhada de um quilômetro debaixo da chuva para chegar à porta do estádio.

Em todo o trajeto, me chamou mais a atenção o comportamento de um grupo de voluntários na Estação Aeroporto, onde peguei o metrô. Ao ver um pequeno grupo de uruguaios chegando à plataforma, aquele que parecia ser o coordenador dos voluntários deu as palavras de ordem: “Gringos over ther! Gringos over there”. E os orientadores se deslocaram em bloco para prestar aos charruas as informações que eles precisavam – e as que não precisavam – para chegar ao estádio.

Como a tribuna de imprensa da Arena Pernambuco fica no ponto mais alto do estádio, é impossível ouvir o que os treinadores falam à beira do campo. Mas é provável que Vicente Del Bosque grite “Gringos over there! Gringos over there!” cada vez que o adversário ousa tocar na bola.

Ainda não tinha visto a Espanha jogar no estádio. Fiquei impressionado. O domínio do primeiro tempo foi dos maiores massacres que eu já testemunhei em um campo de futebol. O Uruguai acuado, encolhido da intermediária para trás correndo atrás de uma Espanha que circulava a bola por todo o campo como quem brinca em uma imensa roda de bobo.

Xavi é sobrenatural. Basta ele pegar na bola para o pânico se instaurar na fileira inimiga e a seleção espanhola se deslocar pelo campo de ataque por saber exatamente onde Xavi irá colocar a bola – e com a certeza de que a bola chegará no ponto exato.

Iniesta é o melhor do mundo entre os mortais. Enquanto Xavi constrói o jogo espanhol na cozinha, Iniesta se infiltra sorrateiramente nos centímetros – ou metros – em claro deixados pelo adversário. E ali ele pega a bola e parte em direção à área inimiga, sem o menor constrangimento de, se a porta fechar, tocar para quem passa pelo lado (sempre há alguém se deslocando) ou recuar a bola para recomeçar a jogada (também sempre há um porto seguro para reiniciar a circulação da bola).

Diego Lugano, extremamente lúcido, resumiu de forma definitiva o estágio da Espanha em comparação a Brasil e Argentina, times técnicos com os quais a Celeste rivaliza olhos nos olhos: “Hoje, a Espanha é muito superior a Brasil e Argentina. Tem um conceito tático de manter a posse de bola que nunca se viu no futebol. Eles trocam passes, você se cansa muito correndo sem conseguir recuperar a bola e acaba asfixiado.”

Virou comum na Copa das Confederações dizer que tudo está obras. Vale para a seleção brasileira, para os estádios, para as cidades. Não vale para a Espanha. A Fúria é uma obra acabada e ao mesmo tempo em constante evolução. Que quando o adversário ousa tomar a bola, ataca ferozmente ao grito mental de Del Bosque: “Gringos over there! Grigos over there”.

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