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Quando Tupac surgiu no palco, por um instante aqueles que defendiam a tese de que ele forjou sua morte, como uma versão rapper de Elvis Presley, realmente acreditaram estar certos. As tatuagens expostas no dorso e nos braços, os trejeitos, a voz, tudo era perfeito. Só mesmo vivo ele poderia gritar “Hey, Coachella”, considerando que o festival foi criado depois da sua “morte”. E somente vivo ele poderia cantar pela primeira vez em um show “Hail Mary”, música lançada depois de ele ter sido alvejado em Las Vegas.

Tupac Shakur não estava – e não está – vivo. Morreu em 13 de setembro de 1996, vítima de tiros disparados sete dias antes, pouco depois de deixar o cassino em que assistiu ao amigo Mike Tyson enfrentar Bruce Seldon (se puderem, vejam One Night In Vegas, documentário sobre a relação entre Iron Mike e 2Pac). A imagem vista sobre o palco do Festival Coachella, cantando ao lado de Dr. Dre e Snoop Dogg, era um “holograma”. Na verdade uma projeção em 2D (hologramas são tridimensionais), produzida pelo Digital Domain Media Group, com um investimento estimado de US$ 100 milhões. O mesmo estúdio foi responsável ´pelo Brad Pitt envelhecido de O Estranho Caso de Benjamin Button e por animações em Tron e X-Men. O próximo passo será realizar uma turnê do Tupac bidimensional.

Ok, mas que catzo essa história está fazendo nesse blog, pergunta o já impaciente leitor? Ouvi essa notícia hoje pela manhã, vindo para o trabalho, e logo imaginei no que poderia ser criado se o Digital Domain Media Group resolvesse direcionar sua atenção para o futebol. Imaginem uma seleção brasileira póstuma, desfilando bidimensionalmente por algum estádio – que tal uma reedição do velho Maracanã?

Seria a chance para Barbosa mostrar que era um goleiraço, não o pobre diabo condenado em vida pelo gol no Maracanazo. Uma defesa com Domingos da Guia, o capitão do bi Mauro Ramos de Oliveira e Bauer, o volante de 50, improvisado, logo à frente da respeitável dupla de zaga. Sim, três defensores apenas, para permitir a formação de um meio-campo verdadeiramente de sonhos, com Didi, Sócrates e Zizinho.

Dos três sairiam os passes para Garrincha bailar com suas pernas tortas pela direita e, por que não, Dener mostrar um pouco mais do talento precocemente interrompido pela direta. Pelo meio, dois senhores goleadores: Leônidas da Silva, atacando o gol inimigo com legítimas bicicletas, em El Tigre Friedenreich, a primeira grande lenda do futebol brasileiro. Seria um time ofensivo, como exige a nossa tradição, mas tenho certeza de que Elba de Pádua Lima, o Tim, daria conta.

Para enfrentar essa máquina, só mesmo uma seleção mundial. Um carrossel multinacional treinado por Rinus Michels. O goleiro? Yashin, sem dúvida alguma. Na defesa, Gaetano Scirea, um legítimo líbero italiano, Bobby Moore e Giacinto Fachetti, deslocado para a zaga, mas sempre com liberdade para atacar pela esquerda. Obdúlio Varela (o capitão do time, claro) daria a devida proteção à defesa e mostraria que era craque, não o valentão a que foi reduzido por quem proliferou a lenda do tapa na cara de Bigode na final de 50.

Logo à frente, quatro jogadores trocando constantemente de posições, como Michels gostava: Matthias Sindelar, o homem de papel, o Mozart do Wünderteam; Férenc Puskás, distribuindo o jogo e ameaçando o gol de Barbosa com sua esquerda de ouro; Adolfo Pedernera, o cérebro do time como era da máquina do River Plate nos anos 40; e George Best, o indomável atacante norte irlandês, que, lógico, dividiria com Garrincha o comando da festa pós-jogo. Na área, dois especialistas na arte do gol: Adolpho Schiaffino, autor do primeiro tiro do Maracanazo, e Fritz Walter, o capitão do Milagre de Berna.

Daria até para desperdiçar a arbitragem. Ou, com tanta tecnologia, testar um apito 100% eletrônico. Custaria bilhões, pode parecer loucura, mas, depois de ver o vídeo abaixo, é impossível quem ama futebol não sonhar com a chance de ver em ação craques que só conhecemos por imagens amareladas e histórias contadas em livro ou no boca a boca.

O The Wall Street Journal fez uma ótima matéria explicando como a versão em 2D de Tupac Shakur foi feita. Vale a leitura.

E você, gostaria de ver quais craques mortos serem recriados digitalmente?

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