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Amigos leitores, após uma bem-vinda parada de fim de ano, sem computador e celular por perto, o Bola no Corpo está de volta para mais uma temporada. Muito obrigado a todos pela companhia em 2011 e um ótimo 2012, seja no futebol, no trabalho ou na vida. Vamos colocar o papo em dia? Vou fazer um post para cada clube, espero até o anoitecer já ter falado de todos.

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Começo pelo Atlético, que teve as novidades mais profundas. Direção nova, comissão técnica nova, comando novo no departamento de futebol. Vou me prender especificamente a dois personagens que estarão mais com a mão na massa na formação e condução do time, o técnico Juan Ramón Carrasco e o diretor de futebol profissional Sandro Orlandelli.

A escolha de Carrasco tem um forte viés econômico. No Nacional, ele recebia US$ 50 mil mensais. Mesmo que tenha vindo para o Atlético ganhando mais, dificilmente passa dos R$ 100 mil. É a retomada da antiga política do Petraglia de não gastar fortunas com treinador. Vai na contramão da lógica do mercado, o que é louvável. Às vezes dá certo (Vadão), às vezes dá muito errado (Casemiro), mas o prejuízo financeiro é menor.

Foi imediata a lembrança da última experiência do Atlético com um técnico estrangeiro, Lothar Matthäus, em 2006. As únicas coincidências são os fatos de terem sido jogadores e não serem brasileiros. Nada mais que isso. Matthäus tinha uma carreira caricata como treinador e continuou tendo depois da passagem patética pelo Brasil, com seus momentos de turismo sexual.

Carrasco tem uma história mais consistente. Treina times de futebol há quase uma década. Levou os pequenos Rocha e Fênix à Libertadores, levou o também pequeno River Plate de Montevidéu à semifinal da Sul-Americana. Seus trabalhos maiores deram resultados piores. Na seleção uruguaia, manteve a classificação para a Copa de 2006 em risco e tombou após levar 3 a 0 da Venezuela em casa. No Nacional, mesmo campeão, saiu por decisão da maioria da diretoria e com alguns jogadores ameaçando deixar o clube caso ele continuasse. E esse é o eixo central de quão longa e bem-sucedida será sua história no Atlético: relação com diretoria (leia-se Petraglia) e os jogadores.

Carrasco tem alguns hábitos de direção pouco comuns no futebol brasileiro. Vejam bem, escrevi pouco comuns, o que não quer dizer que sejam errados. Carrasco gosta de escalar times ultraofensivos; não tem cerimônia alguma em trocar jogadores no primeiro tempo (chega a fazer as três mudanças antes do intervalo); não faz questão de manter o mesmo time e o mesmo esquema tático de um jogo para outro; alterna o goleiro titular sempre que considera o seu desempenho ruim, como acontece em qualquer outra posição.

A ofensividade é sempre bem-vinda, mexer no time assim que detecta que algo está errado é dever de todo o treinador e mudar peças e o desenho do time para determinadas partidas pode fazer a diferença entre vitória e derrota. Mas, tirando o jogo ofensivo, nenhum dos outros aspectos faz parte da cultura do boleiro brasileiro. E boleiro brasileiro geralmente reage mal àquilo que foge do script a que ele está acostumado. Carrasco terá muito trabalho para fazer o elenco atleticano comprar a sua filosofia sem chiar.

Fora isso, tem a convivência com Petraglia. Os dois têm gênios fortes e são extremamente personalistas. O risco de sair faísca é enorme. Acredito que Carrasco pode fazer um bom trabalho no Atlético, moldar um time para subir sem grandes percalços. Mas não consigo vê-lo terminar o ano na Baixada.

O El Observador fez um especial sobre Carrasco – acredito que quando ele assumiu o Nacional, em 2010. No meio do ano passado, o El País listou as dez razões para Carrasco deixar o Nacional após o título uruguaio. Os dois materiais ajudam a conhecer o novo treinador rubro-negro.

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Sobre Sandro Orlandelli, há menos coisas a dizer. Sua contratação indica o claro desejo do Atlético de voltar a garimpar jogadores baratos e talentosos. Foi assim que Flávio, Adriano Gabiru, Alex Oliveira, Cocico, Gustavo, Lucas e muitos outros chegaram ao clube no fim dos anos 90. Orlandelli passou os últimos anos fazendo exatamente isso: fuçando por todo o continente atrás de jovens promissores para o Arsenal.

Mas agora eu pergunto: nos últimos anos, qual jovem jogador latino-americano deu certo no Arsenal? Me fiz essa mesma pergunta quando comecei a escrever este parágrafo. Não encontrei resposta e fui me socorrer nos companheiros Ubiratan Leal, Pedro Venancio e Felipe Lobo, da Trivela, todos especialistas em futebol europeu. Chegamos ao seguinte diagnóstico. Denilson foi o que deu mais certo. Esteve constantemente em campo entre 2008 e 2010, mas depois perdeu espaço e voltou para o São Paulo. Pedro Botelho (lateral-esquerdo, brasileiro), Wellington Silva (meia, brasileiro), Carlos Vela (atacante, mexicano), Damian Martinez (goleiro, argentino) e Samuel Galindo (atacante, boliviano) ainda não vingaram no Arsenal – Botelho, sem conseguir visto de trabalho, foi o único que não teve chance – e entraram na extensa lista de empréstimos do clube, quase sempre para equipes espanholas.

Claro, é mais difícil você pegar um jogador na América do Sul e fazer ele dar certo na Inglaterra do que pegar um jogador no interior do Brasil e fazer ele dar certo em Curitiba. Mas a missão de Orlandelli era buscar jogadores que dessem certo no futebol inglês e sua taxa de acerto foi baixíssima. No Atlético, precisará mostrar que não apenas sabe o caminho para garimpar jogadores, mas também sabe fazer as apostas certas.

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