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Jair Cirino despediu-se oficialmente da presidência do Coritiba com uma carta publicada há pouco, no site oficial do clube. Uma despedida antecipada, pois o dirigente ainda tem algumas semanas de mandato a cumprir até passar o cargo para o seu sucessor, provavelmente Vilson Ribeiro de Andrade. Cirino deixou claro que não terá cargo na próxima gestão. E, provavelmente, não deve voltar a integrar uma diretoria do Coritiba, o que permite fazer uma análise do papel que ele irá ocupar na história do clube.

Cirino foi o presidente que caiu com o Coritiba no ano do centenário. Essa é a maior marca que ficará destes quatro anos. Na temporada em que era inadmissível um fracasso desse porte, o Coxa caiu e na mão dele. Está na história, jamais será apagado.

Como também jamais será apagado o sacrifício a que Cirino se submeteu nos dois anos seguintes. Sua permanência na presidência funcionou muito mais como um símbolo de que o presidente não seria tirado do seu cargo à força, como tentaram membros da Império Alviverde tanto nas ameaças que precederam o rebaixamento como na barbárie liderada pela organizada no fatídico 6 de dezembro de 2009.

Cirino não se incomodou por exercer uma presidência simbólica, em bom português, virou uma rainha da Inglaterra. Deixou Vilson Ribeiro de Andrade, Ernesto Pedroso e José Fernando Macedo comandarem a recuperação mais do que consolidada do clube entre 2010/ 2011. Manteve-se distante mesmo quando seria muito fácil vir a público, bater no peito e dizer “eu derrubei o clube, eu subi o clube”. Permaneceu à sombra, meio por opção, meio obrigado pelas covardes ameaças de agressão e de morte que sistematicamente pipocavam no seu telefone, ainda em decorrência do rebaixamento. Saindo da presidência e voltando a ser um torcedor comum, que enfim deixem Cirino em paz.

Como editor de Esportes da Gazeta, acompanhei a íntegra do primeiro e os quatro meses iniciais do segundo mandato de Jair Cirino – depois, saí de Curitiba e passei a ver tudo de longe, com auxílio do computador e do telefone. Meu primeiro contato com Cirino foi na redação da Gazeta, para a sabatina com os três candidatos a presidente da conturbada eleição coxa-branca de 2008. Me chamou a atenção ver que Cirino tinha levado uma cola de algumas páginas, à qual ele recorria sistematicamente ao longo da entrevista. Sinal de que não dominava os assuntos referentes ao clube como os oponentes Domingos Moro e João Carlos Vialle, mas que pelo menos tinha vontade de aprender.

Então Cirino venceu a eleição, herdando muitos votos que Moro e Vialle perderam por causa das acusações pessoais que Gionédis fez a Moro. Na capa da Gazeta Esportiva do dia seguinte à votação, a foto era de Cirino nos ombros dos seus correlegionários e a manchete “O presidente do centenário”.

Depois os contatos com Cirino rarearam, entraram na normalidade da relação presidente de clube-editor de Esportes de jornal. Cumprimentos cordiais em eventos, reclamações por causa de alguma matéria do jornal. Lembro de o Cirino ter ido pessoalmente à redação reclamar de uma matéria sobre o contrato do plano de sócios – contrato que seria rompido meses depois, exatamente pelos motivos expostos naquela reportagem assinada por Marcio Reinecken. E lembro de, na sexta-feira posterior à hecatombe contra o Fluminense, eu ter ido ao Couto Pereira entrevistar um Cirino nervoso, que tinha me tirado da cama horas antes possesso com uma matéria publicada sobre a composição política para a eleição – composição, aliás, que acabou se confirmando.

Até então Cirino não havia falado com veículo de comunicação nenhum e ele disse que só aceitava falar com a Gazeta se eu fosse até lá entrevistá-lo. Fui. E voltei com a promessa de que o Coritiba abriria ofensiva contra a Império por causa dos distúrbios do 6/12. Foi manchete do caderno de Esportes do dia seguinte e acabou virando um dos pilares da recuperação coxa-branca. Essa, sim, sua mais significativa contribuição para a história do Coritiba.

No fim, entrará para a história como o presidente que teve seus melhores momentos quando, ao menos aos olhos do público, menos exerceu o seu cargo.

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