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Coluna publicada na Esportiva desta sexta-feira


A Fifa terminou 2011 com R$ 2,4 bilhões em caixa. Um superávit que subiu pouco ano passado, R$ 68 milhões. Quantia modesta diante dos R$ 310 milhões de lucro do ano anterior. Mas também nada que apavore Sepp Blatter e sua turma, que já tem uma receita garantida de R$ 1,6 bilhão com a Copa do Mundo de 2014. De olho na posteridade, a entidade já negociou os direitos de transmissão dos mundiais de 2018 e 2022 — só nos Estados Unidos a venda rendeu mais de R$ 2 bilhões. Dá para os poderosos chefões da Fifa não caírem na mesma tentação de Ricardo Teixeira e João Havelange, condenados na Suíça por terem recebido R$ 40 milhões em suborno. Troco de pinga perto dos R$ 25 bilhões que serão gastos no Mundial brasileiro.

Lembrei do lado financeiro de uma Copa e corri atrás desta numeralha toda ao me deparar com outro número, amplamente divulgado na semana passada: 130 mil pessoas se cadastraram para ser voluntário no Mundial.

Nada contra o voluntariado. Vários avanços na sociedade mundial foram e são conquistados pelo voluntariado. Gente do mundo inteiro que põe suas habilidades profissionais à disposição das pessoas, para oferecer atendimento médico, ensino qualificado, fortalecer democracias, amparar quem mais precisa.

A Fifa e a Copa do Mundo, vamos combinar, não precisam dessa mãozinha. Faturam milhões e têm amplas condições de pagar por esse serviço importante para que um evento deste porte aconteça.
Em primeira análise, se sujeitar a trabalhar de graça para um evento bilionário é ingenuidade. Em segunda análise, é colaborar para que se perca uma ótima oportunidade de deixar um legado de fato para o país.

Basta olhar para o Brasil. Milhares de jovens enfrentam dificuldades diárias para entrar no mercado de trabalho, seja por falta de formação ou de oportunidade. A dona Fifa poderia reservar uma quantia pequena – para ela – do seu robusto bolo financeiro para capacitar e remunerar um monte de gente. O Mundial iria embora, mas o conhecimento adquirido e, em alguns casos, a oportunidade de emprego ficaria. Em países ricos, poderia ser um belo emprego temporário de verão para apresentar a centenas de estudantes um mundo além dos portões das universidades.

Sei que o voluntariado está na origem do espírito olímpico e que as pessoas que se oferecem para trabalhar de graça querem, no fim, fazer parte de alguma maneira de um evento desse tamanho. Extremamente nobre, mas na mesma medida conveniente para quem, definitivamente, não precisa de tal filantropia. Então, caro voluntário, quando você estiver exausto após um dia de trabalho, mas satisfeito porque viu o Messi de perto, lembre-se que haverá um grupo de senhores animados, tomando uísque, fumando charuto e celebrando o lucro que você ajudou a ser maior ainda.

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