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Portugal assina seu contrato com o Real Madrid. (Foto: www.miguelangelportugal.com)
Portugal assina seu contrato com o Real Madrid. (Foto: www.miguelangelportugal.com)| Foto:

O Real Madrid é o grande carimbo na carteira de trabalho de Miguel Ángel Portugal. São nove anos da vida profissional dedicados aos merengues. Cinco deles como dirigente, período em que conheceu o CT do Caju e manteve seu primeiro contato com o Atlético. Atividade importante, mas pouco visível para o torcedor. O período de maior visibilidade de Miguel Ángel no Real Madrid foi como jogador, entre 1979 e 1983. Uma época de poucos jogos, raros gols, apenas uma temporada de títulos e uma convivência que formou uma geração de treinadores.

 

Na chegada, o último ano de glória

Portugal assina seu contrato com o Real Madrid. (Foto: www.miguelangelportugal.com)

Portugal assina seu contrato com o Real Madrid. (Foto: www.miguelangelportugal.com)

Quando chegou ao Real em 1979, vindo do Burgos e de boas aparições nas seleções espanholas de base, o meio-campista Portugal encontrou um time em transição. A geração de Del Bosque, Stielike, Camacho, Juanito e Santillana se aproximava do fim de seu período mais produtivo. Ainda levaria quatro anos para Alfredo Di Stéfano decidir apostar nos canteranos Butragueño, Martín Vásquez, Sanchis e Michel, base do Real venceria La Liga cinco vezes seguidas nos anos 80.

 

Logo nos amistosos da pré-temporada, Portugal percebeu que teria dificuldade em conseguir espaço entre os titulares. O técnico Vujadin Boskov tinha um trio de meio-campo titular, com Ángel, Vicente Del Bosque (atual treinador da Roja) e o alemão Stielike. Portugal só saía do banco quando um deles ganhava alguns minutos de descanso ou deslocado no lugar de um dos laterais — o direito, Isidoro San José; o esquerdo, José Antonio Camacho, outras duas marcas do Real daquele tempo. Foi assim que ele marcou seu primeiro gol pelo Real: em um amistoso contra o Girona, sete minutos depois de substituir Camacho no meio do segundo tempo.

 

A estreia oficial veio já na terceira rodada do Campeonato Espanhol, logo no maior clássico do país. Portugal substituiu Stielike no intervalo de um eletrizante Barça-Madrid no Santiago Bernabéu. Em 45 minutos, os merengues já venciam por 3 a 2, placar que permaneceu até o fim.

 

JORNADA 3:
23/09/1979. En Madrid (Santiago Bernabéu)
REAL MADRID C.F.    –   F.C. BARCELONA 3-2
Árbitro :     García Carrión
Goles :      1:0 (6) Santillana, 2:0 (8) Juanito,
2:1 (23) Landáburu, 3:1 (32) Cunningham,
3:2 (36) Krankl.
REAL MADRID C.F. :
García Remón; San José, Benito, Pirri, Camacho; Del Bosque,
Stielike (Portugal, min. 45), Ángel; Juanito, Santillana, Cunningham.
(Entrenador: Vujadin Boskov)
F.C. BARCELONA :
Amigo; Estella, Migueli B., Serrat, Canito (Rexach, min. 75),
Landáburu, Sánchez Felip, Heredia, Krankl, Asensi, Simonsen.
(Entrenador: Joaquin Rifé)

 

Foi uma das poucas aparições de Portugal na temporada. Somando todas as competições, ele atuou apenas dez vezes: oito no Campeonato Espanhol e duas na Copa do Rei, ambos vencidos pelo Real. Os merengues ainda chegariam à semifinal da Copa dos Campeões da Europa (atual Uefa Champions League), sendo eliminados pelo Hamburgo. Foi a última temporada de conquistas antes de um período de seca madridista, em que a hegemonia espanhola seria dividida entre Athletic Bilbao, Real Sociedad (dois títulos nacionais ambos) e Barcelona (uma taça).

 

Portugal ainda levou outra boa recordação desta temporada. No dia 3 de março de 1980, marcou seu único gol pelo Madrid em um jogo oficial. O sexto do massacre de 7 a 0 sobre o Rayo Vallecano, no Bernabéu. Outra partida em que ele saiu do banco para substituir Stielike.

 

JORNADA 19:
03/02/1980. En Madrid (Santiago Bernabéu)
REAL MADRID C.F.   –  A.D. RAYO VALLECANO 7-0
Árbitro :    Álvarez Orellana
Goles :     1:0 (8) Santillana, 2:0 (9) Juanito,
3:0 (19) Cunningham, 4:0 (28) García Hernández,
5:0 (52) Roberto Martínez, 6:0 (59) Portugal,
7:0 (75) Santillana.
REAL MADRID C.F. :
García Remón; San José, Sabido, Pirri, Camacho; Del Bosque, Gª Hernández, Stielike,
(Portugal, min. 24); Juanito (Roberto Martínez, min. 16), Santillana, Cunningham.
(Entrenador: Vujadin Boskov)
A.D. RAYO VALLECANO :
Mora; Anero, José María N. (Robles J., min. 16), Tanco, Rocamora, Nieto P.,
Custodio (Francisco E., min. 52), Rial S., Álvarito R.R., Morena, Manolo V.
(Entrenador: Félix Barderas Sierra)

 

Resumo da temporada em competições oficiais: 10 jogos e 1 gol.

Resumo da temporada em amistosos: 10 jogos e 2 gols.

 

Uma temporada para esquecer

Nem mesmo em seu site oficial Miguel Ángel Portugal dedica muitas linhas à temporada 1980/81: “Não conseguimos nada. Foram anos de conquistas das equipes bascas”. Na Liga, a Real Sociedad venceu o Real Madrid nos critérios de desempate, após empate em pontos. A Copa do Rei acabou nas quartas de final, com uma surpreendente eliminação para o Gijón dentro no Bernabéu. Na Copa dos Campeões, título perdido na final para o Liverpool, em Paris.

 

A temporada 1980/81 tem, ainda, o último gol de Portugal pelo Real. Logo no primeiro amistoso, contra o holandês Go Ahead Eagles.

 

02 agosto de 1980. Amistoso. En Deventer (HOL) (Municipal)
GO AHEAD EAGLES (HOL) –  REAL MADRID 1-3
Arbitro: Corver (Holanda)
Goles: 1-0 Santillana 9´, 2-0 Santillana 26´,
1-2 ? 40´, 1-3 Portugal 74´.
Real Madrid:
García Remón (Agustín 45´); García Cortés (Pérez García), Camacho,
Benito; García Navajas (Sabido), Gallego, García Hernández (Portugal),
Ángel; Pineda (Isidro) Santillana, Cunningham (Rincón).

Resumo da temporada em competições oficiais: 7 jogos.

Resumo da temporada em amistosos: 8 jogos e 1 gol.

 

Uma escala em Cádiz

A terceira temporada de Portugal no Madrid acabou não sendo completa. Após participar de seis jogos da pré-temporada, ele passou toda a primeira metade do Campeonato Espanhol sem ser utilizado. No inverno, seguiu para o Cádiz. Ganhou ritmo de jogo, ajudou o time a se recuperar, mas não evitou o descenso. O Real também teve um ano morno. Foi terceiro na Liga, mas venceu a Copa do Rey.

 

Resumo da temporada em competições oficiais: nenhum jogo.

Resumo da temporada em amistosos: 6 jogos.

 

A última e mais produtiva temporada

A experiência no Cádiz fez bem a Portugal no Santiago Bernabéu. Em nenhum outro ano o meio-campista fez tantos jogos oficiais com a camisa merengue: 13, incluindo o único por uma competição europeia, contra o húngaro Ujpest Dozna, pelas oitavas de final. O que o período fora não conseguiu mudar foi sua rotina de atuações, raras como titular e muitas saindo do banco.

 

Maior ídolo da história do Real Madrid, Alfredo Di Stéfano voltou ao clube nesta temporada como treinador. Esteve perto de todos os títulos, mas não conquistou nenhum. Foram cinco vice-campeonatos: Espanhol, Copa do Rei, Supercopa da Espanha, Copa da Liga e Recopa da Europa.

 

Mais do que a falta de títulos incomodava o futebol jogado no Santiago Bernabéu, entediante e pouco imaginativo. “O Madrid jogava de maneira bastante ordinária, com alguns bons jogadores, como Del Bosque, um grande passador, Santillana e outros. Mas me dava medo de que com a moda de contratar alemães no Bernabéu tivéssemos 25 anos de tédio”, afirmou o jornalista espanhol Julio César Iglesias, em entrevista à edição do outono de 2013 da revista espanhola Líbero.

 

Iglesias teria papel determinante na transformação que se seguiria no clube. Em novembro de 1973, ele escreveu um artigo no jornal El País destacando a talentosa geração que despontava nas categorias de base, sob o comando de Amancio Amaro. Era “La Quinta de El Buitre”, ou “A Quina do Abutre”. O abutre era o atacante Butragueño. Completavam a quina o zagueiro Sanchis, os meias Michel e Martín Vásques e o atacante Pardeza. A partir dali, Di Stéfano foi pressionado para subir os meninos.

 

Quando eles começaram a ganhar espaço, Portugal já havia deixado o clube, sem o contrato renovado, para defender o Rayo Vallecano. Em sua despedida, o mesmo adversário da estreia oficial: o Barcelona, desta vez no Camp Nou. Uma derrota por 2 a 1, com direito a gol de Maradona, que deu ao Barça o título da Copa da Liga. Portugal passou os 90 minutos em campo.

 

FINAL (vuelta) (29-06-83)
29 junio de 1983. En Barcelona (Camp Nou)
FC BARCELONA – REAL MADRID CF   2 – 1
Arbitro: Ramos Marco
Goles: 1-0 Maradona 19´, 2-0 Alexanco 20´,
2-1 Santillana 84´.
FC BARCELONA, 2;
Urruticoechea, Sánchez, Migueli, Alexanco, Julio Alberto, Víctor,
Schuster, Alonso, Marcos (Esteban 76´), Maradona, Carrasco.
(Entrenador: Uddo Lateck)
REAL MADRID CF, 1;
Agustín, Juan José, Metgod, Salguero (San José 16´), Isidro, Ángel,
Gallego, Del Bosque, García Hernández, Ito (Santillana 63´), Portugal.
(Entrenador: Alfredo Di Stéfano)

Gacía Remon, Stielike, Juan Jose, Bonet, Gallego e Camacho (em pé); Juanito, Medgot, Portugal, Santillana e San José (agachados). Um Real Madrid da última temporada de Portugal jogando pelo clube. (foto: www.miguelangelportugal.com)

Gacía Remon, Stielike, Juan Jose, Bonet, Gallego e Camacho (em pé); Juanito, Medgot, Portugal, Santillana e San José (agachados). Um Real Madrid da última temporada de Portugal jogando pelo clube. (foto: www.miguelangelportugal.com)

Resumo da temporada em competições oficiais: 13 jogos.

Resumo da temporada em amistosos: 1 jogo.

Uma escola de treinadores

Miguel Ángel Portugal teve quatro temporadas de poucas oportunidades em campo pelo Real. A experiência do dia a dia, contudo, ajudou a mudar sua atividade depois de pendurar as chuteiras, em 1991, pelo Córdoba. Os três anos trabalhando especialmente com Vujadin Boskov ajudaram a formar o treinador em que ele se transformaria. Uma influência não somente sobre ele, mas sobre toda uma geração de futuros treinadores, como explicaria Vicente Del Bosque em entrevista à revista espanhola Líbero do outono de 2013.

 

“Muitos daquele grupo, influenciado pelos treinadores que tivemos, quisemos ser treinadores graças a gente como Miljianic, Boskov, Molowny, algo de Miguel Muñoz. Daquela escola saíram García Remón, Camacho, Juanito, García Hernãndez, Portugal e Stielike. Os iugoslavos eram de uma escola diferente de ver futebol e isso nos tocou muito. Boskov era muito prático e seus treinamentos eram mais de competição. Tinha jogado na Europa e aprendeu muito com a escola holandesa”, relembrou o técnico campeão mundial de 2010 e europeu de 2012 pela Espanha.

 

É essa influência adquirida nos quatro anos de Real Madrid que Miguel Ángel Portugal coloca a serviço do Atlético para a Libertadores deste ano.

 

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Um adendo necessário para quem chegou até aqui. O post retrata o que foi Miguel Ángel Portugal jogando pelo Real Madrid. Ponto. Não há relação direta entre o que ele foi jogando por um clube e o que será como treinador do Atlético. A própria história rubro-negra indica que fazer essa relação é um perigo. Geninho foi um goleiro mediano, mas levou o Furacão ao maior título de sua história. Lothar Matthäus venceu Copa do Mundo e foi eleito o melhor jogador do planeta, mas uma carreira pobre de treinador inclusive na Rua Buenos Aires.

 

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As fichas e estatísticas são do site Leyenda Blanca, banco de dados espetacular sobre a história do Real Madrid.

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