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As torcidas organizadas, que andavam meio esquecidas, deram o ar da sua desgraça neste fim de semana.

No sábado, a torcida do Atlético precisou ser fatiada em três no Morumbi: Ultras, Fanáticos e torcedores comuns. Foi a única maneira encontrada pela polícia de evitar novas brigas entre as duas facções rubro-negras, que têm um extenso histórico de brigas.

Pouco depois, na Vila Capanema, briga entre integrantes da Fúria e torcedores do ABC (reforçados por gente da Império). A polícia completou o cenário dantesco no intervalo do jogo, ao intervir com truculência e spray de pimenta para todos os lados.

E para completar, ontem, integrantes da Império espancaram dois motoristas de ônibus e um torcedor atleticano (com um boné da Fanáticos na cabeça) em São José dos Pinhais.

Tudo isso a duas semanas de um Atletiba, onde o risco de confusão já é naturalmente elevado.

Os atos deste fim de semana são a repetição de um looping interminável e nauseante. Integrantes de torcidas organizadas causam confusão; a polícia age de forma repressiva porque não faz um trabalho de prevenção; a sociedade se indigna; os chefes das organizadas dizem que não têm como controlar tudo o que os seus associados fazem e lembram que suas facções fazem trabalhos sociais; alguns se levantam pedindo o fim das organizadas; outros tantos temem que a extinção delas acabe com a festa nas arquibancadas; nada é feito; o assunto cai no esquecimento até a próxima confusão.

Perdi a conta de quantas já me manifestei contra torcidas organizadas. Farei isso novamente agora e continuarei fazendo até perceber que alguma coisa realmente mudou.

Mais importante do que a simples extinção é responsabilizar os chefes de torcida organizada pelos atos dos seus associados. Isso aconteceu recentemente com dirigentes da Young Flu por causa da perseguição ao Fred e com dirigentes da Galoucura por causa do espancamento até a morte de um torcedor do Cruzeiro após um evento de MMA, em Belo Horizonte. São casos extremos, mas que devem servir de exemplo.

Somente quando forem responsabilizados os chefes de torcida terão mais zelo na hora de aceitar um associado, vender uma camisa, organizar uma excursão. Lembro-me de em 2004, antes do Vasco x Atlético da penúltima rodada do Brasileiro, Julião Sobota, hoje vereador, à época presidente da Fanáticos, dizer que só queria levar ao Rio de Janeiro os descartáveis, aqueles que poderiam viajar sem carteira de identidade e que ninguém daria falta caso não voltasse.

Certamente os chefes de torcida diriam – como já disseram – que, sendo responsabilizados pelos atos dos associados, não seria viável presidir uma organizada. Ótimo. Que sejam extintas. A quem acha que a festa nos estádios acabaria sem as TO’s, respondo com os mosaicos da Arena ou as bandeiras do povão coxa-branca, belas iniciativas de torcedores comuns. A quem diz que as organizadas desenvolvem importante papel social, respondo que a máfia, cartéis e comandos do tráfico também fazem em suas comunidades.

Endurecer o jogo com os chefes de torcida ajuda, mas não resolve todo o problema. Passa por uma série de mudanças de atitude. Do torcedor comum, que às vezes usa a fama das organizadas para descarregar sua violência (não podemos esquecer que a quebradeira de 6 de dezembro de 2009 não se restringiu a onde fica a Império). Da imprensa, que muitas vezes trata chefe de torcida como autoridade – no dia do rebaixamento do Paraná no estadual, duas rádios de Curitiba entrevistavam o presidente da Fúria enquanto membros da organizavam coagiam jogadores na porta do vestiário. E, principalmente, dos órgãos de segurança.

Já é clássica a entrevista do então secretário de Segurança Luiz Fernando Delazari, dias após o quebra-quebra do Couto Pereira, prometendo endurecer o jogo com as organizadas. Promessa que ficou apenas na midiática ação para prender uma dúzia de torcedores do Coritiba, sob encomenda para aparecer em rede nacional, mas de efeito nulo. A Sesp não fez mais nada para coibir a violência relacionada ao futebol, o Ministério Público sempre que questionado sobre o que fazer com as organizadas manifestou-se de forma passiva e a polícia é claramente despreparada para lidar com torcedores de futebol (todos são tratados como bandidos, até que se prove o contrário).

Peço desculpas a quem já leu outras vezes essas ideias. Eu mesmo fico com a sensação de já ter escrito isso em diversos momentos. Sempre torcendo para que alguma providência seja tomada antes que o pior aconteça.

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